O presidente argentino promoveu publicamente o ativo digital em suas redes; 1ª reunião sobre o caso deve ser em 23 de abril
A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou nesta 3ª feira (8.abr.2025) a criação de uma comissão investigadora sobre o caso da criptomoeda $LIBRA.
O caso envolve diretamente o presidente Javier Milei (La Libertad Avanza, direita), que promoveu publicamente o ativo digital em suas redes. O endosso do presidente argentino provocou uma rápida valorização seguida de um colapso da $LIBRA, resultando em diversas consequências econômicas, jurídicas e políticas no país.
O projeto recebeu 128 votos favoráveis, 93 contrários e 7 abstenções. Como se trata de uma comissão exclusiva da Câmara, não é necessária a aprovação do Senado. A 1ª reunião deve ser em 23 de abril.
A oposição também conseguiu aprovar a convocação de 4 autoridades para prestar esclarecimentos sobre o caso em 22 de abril. São eles:
- Guillermo Francos, chefe de Gabinete;
- Luis Caputo, ministro da Economia;
- Mariano Cúneo Libarona, ministro da Justiça;
- Roberto Silva, presidente da Comissão Nacional de Valores.
A base governista tentou barrar a sessão, mas enfrentou dissidências entre aliados. A oposição diz que o Congresso não pode se omitir diante de uma possível fraude financeira incentivada por uma figura pública como o presidente. Já o governo acusa os opositores de transformar o caso em um “circo político” com fins eleitorais.
RELEMBRE O CASO
Tudo começou na noite de 14 de fevereiro. Às 19h01, Milei fez uma publicação no X (ex-Twitter) promovendo a $LIBRA. Disse que o ativo era um “projeto privado” para “incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”.
O nome do projeto compartilhado pelo líder argentino era “Viva la Libertad”, uma referência a seu famoso slogan “Viva la Libertad, Carajo”.
A publicação, apagada posteriormente, também incluia um link para a compra do ativo. Foi feita alguns minutos depois do lançamento da criptomoeda –realizado às 18h37 na blockchain Solana. O preço inicial do ativo era de US$ 0,25.
Até a publicação de Milei no X, nenhuma transação havia sido registrada. Depois, uma série de compras de grandes valores começam a ser feitas. Segundo informações do La Nacion, a 1ª aquisição substancial se deu às 19h01, mesma hora do tweet do presidente argentino. Foi de US$ 3,5 milhões.
De 19h01 às 21h06, diversas transações de valores altos foram realizadas, somando mais de US$ 22 milhões.
Às 19h43, uma compra de US$ 19.038 é registrada. No mesmo momento, o preço da $LIBRA dispara de US$ 0,25 para US$ 5,54, atingindo seu pico. É a partir dai que o cenário muda.
Às 20h11, inciou-se um processo massivo de vendas da criptomoeda. Foram registrados, por exemplo, transações no valor de US$ 3,8 milhões e US$ 3,5 milhões. As 10 vendas de maior valor foram feitas de 19h16 às 20h32.
As vendas em massa provocaram uma queda abrupta do valor da $LIBRA. Às 20h11, o preço caiu de US$ 5,54 para US$ 1,64. Às 20h45, passou a ser negociada por US$ 0,96. Às 21h03, ficou em US$ 0,89.
À 0h38 de 15 de fevereiro, Milei fez outra publicação no X falando sobre a sua 1ª postagem. Disse não ter vínculo com a iniciativa. E afirmou que publicou o tweet apoiando o projeto como faria com qualquer outro empreendimento privado, mas sem ter conhecimento aprofundado sobre ele. Disse ainda que, depois de se informar melhor, decidiu apagar a publicação e parar de promover a criptomoeda.
“Para os ratos imundos da casta política que querem aproveitar esta situação para causar danos, quero dizer que, todos os dias, eles confirmam o quão rasteiros são os políticos e aumentam ainda mais nossa convicção de expulsá-los a pontapés”, declarou o presidente argentino.
Minutos depois, às 0h56, a $LIBRA passou a ser negociada a US$ 0,26. O valor foi “evaporado” por causa da forte especulação inicial seguida por vendas em massa.
O governo da Argentina anunciou, em comunicado divulgado no X em 15 de fevereiro, que abriu uma “investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas e indivíduos envolvidos na operação”.
O gabinete presidencial também explicou a relação de Milei com a criptomoeda. Disse que o líder argentino se reuniu com representantes da empresa Kip Protocol em 19 de outubro de 2024, quando foi apresentado a um projeto de financiamento via blockchain chamado “Viva la Libertad”.
Em janeiro de 2025, também encontrou um empresário envolvido na infraestrutura do projeto, mas sem vínculos com o governo.
O comunicado diz ainda que Milei somente divulgou o projeto em suas redes sociais, como faz com outros empreendedores, sem ter participação direta na criação da criptomoeda.
Também em um comunicado publicado no X, a Kip Protocol disse que, embora seu CEO, Julian Peh, tenha se reunido com o Milei em outubro de 2024, não houve discussão sobre o projeto ou lançamento de criptomoedas.
A empresa também declarou que não teve participação no lançamento da $LIBRA, nem no gerenciamento do projeto. Disse que foi informada sobre ele somente em fevereiro de 2025, depois do lançamento. A empresa também negou qualquer relação com Hayden Mark Davis, indicado como o criador da criptomoeda.
O QUE SE SABE SOBRE A $LIBRA
A criptomoeda lançada em 14 de fevereiro trata-se de uma memecoin, ou “criptomoeda-meme”. Este tipo de ativo digital se valoriza principalmente por meio da viralização, ou seja, seu valor e popularidade são impulsionados por memes, humor nas redes sociais e temas de grande engajamento na internet.
Elas também podem ser associadas a personalidades. Uma das primeiras memecoins a ganhar destaque foi a dogecoin. A criptomoeda foi criada em 2013. É promovida por Elon Musk. Outro exemplo é a $Trump, lançada pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), em janeiro.
Diferentemente de outras criptomoedas mais tradicionais, como o Bitcoin ou Ethereum, as memecoins geralmente não têm um propósito específico, utilidade econômica ou uma tecnologia subjacente inovadora. Seu valor é altamente especulativo e volátil.
No entanto, a $LIBRA ser uma memecoin não é o único fator que explica o impacto de sua criação e a reação do mercado. A principal hipótese é que os desenvolvedores da criptomoeda tenham aplicado o golpe conhecido como “rug pull” (“puxada de tapete”, na tradução livre).
A pratica se dá quando os desenvolvedores manipulam o mercado para aumentar artificialmente o preço da criptomoeda e, em seguida, vendem suas participações enquanto o preço do ativo ainda está alto. Isso causa uma queda drástica no valor e prejudica os outros investidores.
No caso da $LIBRA, a suspeita é que os criadores da criptomoeda controlavam uma parcela significativa da moeda digital e esperaram o endosso de Milei para atrair um grande número de novos investidores. As compras em massa do ativo também podem ter sido feitas com o uso de bots.
Depois que o preço da $LIBRA subiu com o aumento das transações de compra, os desenvolvedores começaram a vender suas criptomoedas, desvalorizando a moeda digital e causando prejuízos significativos para os outros investidores que não faziam parte do esquema. Especialistas calculam que o episódio resultou em lucros ilícitos de US$ 80 milhões a US$ 100 milhões.
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