Um dia depois da entrada em vigor de tarifas americanas de 25% sobre Canadá e México e 20% sobre a China, o governo de Donald Trump recuou parcialmente e ofereceu isenção, por um mês, para empresas automotivas que importem ou exportem do Canadá e do México.
O anúncio foi feito nesta quarta-feira (5/3) pela porta-voz da Casa Branca Karoline Leavitt e é uma resposta ao pedido feito diretamente ao presidente por três montadoras: General Motors, Stelantis e Ford, cuja produção, baseada no tratado de livre comércio entre o Canadá, os EUA e o México (USMCA), se espalha pelos três países e perderia competitividade frente a outras montadoras.
As peças dos veículos atravessam as fronteiras dos EUA, do Canadá e do México diversas vezes até o carro ser montado, o que significa reiteradas taxações.
O setor alertou o governo Trump que as taxas acarretariam em um corte de um terço na produção de automóveis esperadas na América do Norte já a partir da semana que vem.
Segundo Leavitt, porém, as montadoras foram alertadas de que, se não querem pagar tarifas, devem mudar sua produção inteiramente para os EUA o quanto antes.
O movimento acontece depois do choque no mercado financeiro causado pela taxação, que anulou boa parte do ganho acumulado na bolsa desde a chegada de Trump à Casa Branca, há seis semanas.
E confirma o que disse mais cedo à agência Bloomberg o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, sugerindo que a administração ofereceria algum alívio e estaria em busca de “um meio-termo” em relação ao tarifaço atual.
Nesta quarta, Trump teve uma conversa “amigável” com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, mas os países não avançaram em um acordo para aliviar as tarifas.
Ao contrário, em sua rede social, Trump voltou a chamar Trudeau de “governador” e a insistir que, se não querem pagar taxas, os canadenses deveriam se tornar o 51º Estado dos EUA.
Trump também deverá conversar com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, que prometeu tarifas recíprocas, mas afirmou que primeiro prefere tentar um acordo.
Em discurso de quase duas horas ao Congresso na noite de terça (4/3)Trump admitiu que, por causa das tarifas, “haverá um pequeno distúrbio (na economia), mas estamos ok com isso”.
E assegurou que as tarifas recíprocas, contra países como Brasil, Índia, Coreia do Sul, entre outros, entrarão em vigor a partir do dia 2 de abril.
No caso do Brasil, os alvos são o etanol, taxado em 18% a partir do dia 2 de abril, e o aço e o alumínio, com tarifas de 25% a partir de 12 de março.
A eleição de Trump se deve, ao menos parcialmente, à alta da inflação no governo do antecessor, o democrata Joe Biden. No mesmo discurso, Trump voltou a culpar Biden pelo que chamou de “catástrofe econômica” e de “pesadelo inflacionário” e citou esforços para baixar o preço dos ovos, que explodiu recentemente no país.
Também fez um aceno aos agricultores do país, dizendo “amá-los”. O setor agrícola foi severamente afetado por tarifas impostas pela China em retaliação.
E a Embaixada Chinesa em Washington reagiu ao discurso de Trump dizendo que o país está pronto “para lutar até o fim” em “qualquer tipo de guerra”.
Vai ficar caro?

Economistas têm apontado o potencial inflacionário do tarifaço proposto por Trump. Carros provavelmente teriam um aumento de preço de cerca de US$ 3 mil (R$ 17,7 mil), de acordo com a consultoria canadense TD Economics.
Os EUA são importadores de combustível do Canadá, sobre o qual Trump impôs tarifa de 10%, o que deve impactar o preço da gasolina para os americanos nas bombas.
A gasolina é um dos mais sensíveis itens na cesta básica da população dos EUA e custou a popularidade de Biden quando o preço explodiu, em decorrência da invasão russa à Ucrânia.
Mas o impacto iria muito além dos automóveis e combustíveis.
As marcas de cerveja mexicanas Modelo e Corona, muito populares nos EUA, podem aumentar seus preços caso as importadoras repassem o novo custo gerado pelas tarifas.
Além disso, a Corona compra parte de sua matéria-prima, como milho e cevada, de fazendeiros americanos, mas os processa no México, o que resultaria em mais uma camada de taxas.
Queridinho da culinária nos EUA, o guacamole poderia desaparecer dos pratos ou se tornar muito mais caro, graças às tarifas sobre o avocado.
Cultivado principalmente no México, onde a planta é bem adaptada ao clima quente e úmido, o avocado mexicano compõe quase 90% do que circula por ano no mercado americano.
Até mesmo a moradia pode ser impactada. Os EUA importam do Canadá cerca de um terço do que consomem de madeira de coníferas, muito usada na construção civil no país.
O material essencial na construção seria afetado pelas tarifas de importação de Trump, que disse que os EUA têm “mais madeira do que usamos”.
No entanto, a Associação Nacional de Construtores de Moradias (NAHB, na sigla em inglês) pediu ao presidente que isentasse os materiais de construção das tarifas propostas “por causa de seu efeito prejudicial na acessibilidade da moradia”.
A compra da casa própria tem ficado inacessível para muitos americanos dados os custos de financiamento, o que também produziu insatisfação entre os eleitores do país.
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