A Trilha Caminho dos Veadeiros, no estado de Goiás, foi reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA) como integrante da Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas). Ao todo, o percurso conta com 483 km de trilha planejados para trekking — modalidade de caminhada feita em locais que possibilitam maior contato com a natureza — e mais de 400 km de rotas para o cicloturismo.
O trajeto, que interliga as cidades de Formosa e Cavalcante, passando por Água Fria de Goiás, São João D’Aliança, Alto Paraíso de Goiás e Colinas do Sul, ainda enfrenta alguns obstáculos. A rota de caminhada ainda está em implementação e tem alguns trechos liberados, enquanto as rotas de bicicleta já podem ser percorridas.
A RedeTrilhas é uma iniciativa que existe há mais de 20 anos, coordenada pelo MMA junto ao Ministério do Turismo (MTUR) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Atualmente, a Caminho dos Veadeiros é uma das 16 trilhas apoiadas pela iniciativa.
Etapas
Segundo Samuel Schwaida, analista do MMA e um dos idealizadores, o Caminho dos Veadeiros começou a ganhar força a partir de 2010, com o projeto Travessias, do ICMBio, e só foi criado oficialmente em 2018. Envolvido desde o princípio, ele explica que uma trilha de longo curso não se constrói com apenas uma pessoa ou uma instituição.
As etapas iniciais de sensibilização e mapeamento, segundo ele, foram majoritariamente realizadas por voluntários que, muitas vezes, utilizavam recursos próprios. “Depois de um tempo a Associação de Escalada do Planalto Central (AEP) abraçou a ideia e emprestou sua estrutura financeira e jurídica para que a ideia avançasse”, relatou. O analista também definiu o trabalho das prefeituras dos municípios como “fundamentais para a continuidade do trabalho”.
Famosa por pontos de ecoturismo reconhecidos nacional e internacionalmente, como o Parque da Chapada dos Veadeiros (Goiás), o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (Minas Gerais) e o Parque Estadual do Jalapão (Tocantins), a região do Planalto Central também dispõe de muitas fazendas e áreas privadas, o que torna o trabalho de construção de trilhas mais desafiador.
“Um grande desafio é o fato de que as áreas situadas entre as Unidades de Conservação geralmente são de domínio privado, o que exige um forte trabalho de sensibilização para obter permissão de passagem e garantir a conservação das paisagens e atrativos. Há um grande desafio de valorizar o cerrado em pé para que as paisagens e locais por onde a trilha passa sejam mantidas”, explicou Schwaida.
Segundo o presidente da Associação Caminho dos Veadeiros (ACV), formada por lideranças que encabeçaram a iniciativa em 2023, Márcio Chapola, o projeto é coletivo, e precisa da cooperação de voluntários para torná-lo realidade e para mantê-lo. Ele explica que a infraestrutura está sendo constantemente aprimorada, para que seja garantida a segurança e aproveitamento para aqueles que desfrutarem da trilha.
“Desde o início, entendemos que o sucesso da trilha depende da colaboração e do envolvimento das comunidades locais. Trabalhamos em parceria com moradores, proprietários rurais e pequenos empresários para que a trilha gere impacto positivo, tanto ambiental quanto econômico”, afirmou.
Chapola comentou que, a partir da colaboração e do envolvimento de comunidades, a associação iniciou parcerias com moradores, produtores locais e pequenos empresários para que a trilha gerasse impactos positivos, tanto econômicos, quanto ambientais.
O presidente da ACV destacou três pilares do compromisso da iniciativa com o turismo sustentável. Segundo ele, o projeto foca na conservação ambiental, aplicando princípios de mínimo impacto; no engajamento comunitário, visando beneficiar e respeitar as comunidades locais; e infraestrutura planejada, desenvolvendo a trilha de acordo com as diretrizes de preservação ambiental.
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Imersão com a natureza
Trilheira experiente, Jussiara Lopes, fundadora do Clube Trilheiras de Brasília — grupo reservado para mulheres aventureiras que querem ter mais qualidade de vida ao ar livre —, explica que trilhas de longo curso, como o Caminho dos Veadeiros, oferecem “oportunidades únicas” de imersão na natureza.
Ela conta que faz trilha desde 2015, e que o esporte “ensina a importância da resiliência, do planejamento e da valorização das simplicidades da vida, além de contribuir com a saúde mental”.
Presença frequente nas trilhas do Caminho dos Goyazes, ela afirma que, apesar dos desafios encontrados para a criação e aperfeiçoamento do Caminho dos Veadeiros, o local possui um potencial significativo e que já é possível fazer vários trechos tranquilamente. A extensão e diversidade encontrados lá, segundo Jussiara, oferecem desafios adequados para todos os públicos, desde iniciantes, até os trilheiros e cicloturistas mais experientes.
Já para Rose Faria, idealizadora do Projeto Caminhantes do Cerrado, apesar do grande potencial da trilha, ainda é preciso tornar alguns percursos mais acessíveis para que possa atingir todos os públicos. “É preciso envolver os gestores públicos, agentes do setor do turismo e as comunidades locais, para que assumam a gestão ou manutenção do Caminho dos Veadeiros. A exemplo do que acontece no Caminho da Fé”, pontuou.
*Estagiário sob a supervisão de Rafaela Gonçalves
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