A indústria de alimentos enfrentou um aumento significativo nos custos de produção ao longo de 2024, impulsionado pela alta nos preços das commodities agrícolas, das embalagens e das energias. É o que apontou um balanço divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), divulgado nesta quinta-feira (20/2).
De acordo com a entidade, os custos da produção industrial tiveram alta de 9,3% no ano passado, enquanto a inflação dos alimentos industrializados subiu 7,7%. “A indústria ainda conseguiu absorver mais de 1,5% dessa alta que seria repassada para os alimentos. O impacto foi minimizado para o consumidor”, disse o presidente executivo da Abia, João Dornellas, em coletiva de imprensa.
Segundo ele, o alívio nos repasses foi permitido graças a investimentos feitos pela indústria de alimentos ao longo dos anos. “Em um ano marcado por desafios econômicos e climáticos, a indústria mostrou resiliência, confirmou seu papel essencial na promoção da segurança alimentar e manteve o abastecimento e a competitividade dos produtos”, afirmou.
A associação apontou que a desvalorização do real intensificou o movimento de alta dos preços, especialmente no segundo semestre. “Eventos climáticos adversos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e estiagens prolongadas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte, reduziram a safra de grãos e impactaram a qualidade das pastagens, pressionando os preços de matérias-primas essenciais, como soja, milho, trigo, leite e carne”, destacou em nota.
O levantamento apontou ainda que outros fatores, como a elevação do imposto de importação sobre resinas plásticas e os reajustes no custo da energia elétrica, diesel e gás natural, também aumentaram a pressão sobre a indústria.
Faturamento
Apesar da alta no custo da produção, o faturamento da indústria brasileira de alimentos alcançou R$ 1,277 trilhão em 2024, um aumento de 9,98% em relação ao ano anterior em termos nominais. O volume representa 10,8% do produto interno bruto (PIB) do país.
Desse total, 72%, ou R$ 918 bilhões, são provenientes do mercado interno e 28% do comércio exterior (US$ 66,3 bilhões). As vendas reais apresentaram expansão de 6,1% e a produção física cresceu 3,2%, alcançando 283 milhões de toneladas de alimentos.
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Um dos destaques do balanço é o número de exportações. No ano passado, foram 80,3 milhões de toneladas, 10,4% acima do apurado em 2023. No acumulado de 2024, a receita com essas vendas alcançou o patamar recorde de US$ 66,3 bilhões, valor 6,6% acima do verificado no ano anterior. No período de 4 anos (2020 a 2024), registrou-se crescimento de 72,7% em valor e 29,2% em volume.
Supermercado do mundo
Desde 2022, o Brasil ocupa a posição de líder mundial na exportação de alimentos industrializados, em volume. Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou a alta demanda por exportações pelo aumento no preço dos alimentos no país.
Em entrevista concedida à rádio Tupi, emissora do grupo Diários Associados, o presidente mencionou a gripe aviária nos Estados Unidos e o aumento da demanda global por produtos brasileiros. “Nós estamos exportando e o Brasil virou quase que um supermercado do mundo e nós queremos discutir com os empresários que queremos que eles exportem, mas que não possa faltar para o povo brasileiro”, disse.
O chefe do Executivo voltou a dizer que o governo deve se reunir com atacadistas para buscar uma solução sobre os preços, mas não deu detalhes do que pode ser feito. “É um absurdo, é um absurdo mesmo. E nós vamos ter que fazer uma reunião com os atacadistas para discutir como é que a gente pode trazer isso para baixo”, enfatizou.
“O fato de você estar vendendo o produto em dólar, que está alto, não significa que você tenha que colocar no preço do brasileiro o mesmo preço que você exporta. Essa é uma discussão, da mesma forma que o óleo de soja, a carne”, emendou.
Os produtos brasileiros chegaram a mais de 190 países e seus territórios, sendo os principais mercados: Ásia, seguida da Liga Árabe e da União Europeia.
Os itens que lideram a lista são proteínas animais (carnes), com US$ 26,2 bilhões; produtos do açúcar, com US$ 18,9 bilhões; produtos de soja, com US$ 10,7 bilhões; óleos e gorduras, com US$ 2,3 bilhões; sucos e preparações vegetais, com US$ 3,7 bilhões.
“Esse é o tema que o governo mais tem se preocupado, o preço do alimento para o consumidor. Esse preço não é à toa, não é uma situação que alguém decidiu”, argumentou o presidente da Abia.
De acordo com Dornellas, a expectativa é de um arrefecimento nos preços em 2025, com uma safra recorde e menos pressões inflacionárias. “Temos um cenário de inflação menor, dólar em baixa, a expectativa é de uma melhora nos preços. Alguns devem seguir pressionados, como café e cacau, por restrição de oferta”, afirmou o executivo.
No ano passado, as commodities agrícolas que registraram maior valorização foram o cacau (+189%), café (+140,3%), leite (+22,6%) seguido por milho (+9,3%) e Trigo (+9%).
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