O número de denúncias de pornografia infantil no aplicativo de mensagens Telegram subiu 78% do primeiro semestre de 2024 para o segundo semestre. O dado faz parte de uma análise da ONG SaferNet divulgada nesta terça-feira (11/2), no Dia Internacional da Internet Segura. Segundo a pesquisa, foram detectados no ano passado 2,65 milhões de usuários em grupos e canais do Telegram contendo imagens de abuso e exploração sexual infantil.
O levantamento aponta ainda que o aplicativo tem os maiores números de denúncias de pornografia infantil recebidos pela SaferNet, por meio da plataforma de denúncia da ONG. Apenas no semestre passado, o número de grupos e canais do Telegram denunciados subiu para 1.043, um aumento de 19% em relação ao primeiro semestre.
Além disso, o número de grupos e canais contendo imagens de abuso e exploração sexual infantil que permanecem ativos, sem moderação da plataforma, subiu para 171, aumento de 78%. Também houve um aumento de 12% no número de usuários encontrados nesses canais, de 1,25 milhão para 1,4 milhão.
Moderação insuficiente
Segundo o gerente de projetos da SaferNet, Guilherme Alves, apesar de ser o aplicativo de mensagens com maior número de denúncias de conteúdos de abuso e violação sexual de crianças e adolescentes, o Telegram não é eficiente na moderação de conteúdo que divulga na plataforma.
“É um dado preocupante que se mostra, em especial, pela falta de moderação de conteúdo nesse aplicativo. Então, os grupos, que são grupos privados, se proliferam sem nenhum tipo de controle, e nesses grupos são todos os tipos de conteúdos possíveis, sejam legais ou ilegais. E as ações que a plataforma toma para a moderação desses grupos, remoção de usuários, banimento de usuários, são bastante incipientes”, declara.
No Brasil, a legislação obriga que as plataformas digitais reportem às autoridades sempre que souberem de conteúdos de abuso infantil nos próprios meios. No entanto, de acordo com o levantamento da ONG, foram encontrados sinais de ações da plataforma nesses grupos, mas nenhuma denúncia. “Uma mensagem alertava outros usuários que o grupo ou canal em questão estava ‘temporariamente suspenso’ para dar aos moderadores tempo para limpar os conteúdos e moderar os usuários que publicaram conteúdo pornográfico ilegal”.
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O SaferNet detectou 25 grupos chamado “Translation”, com 15 a 25 mil usuários, em que acontece a comercialização de imagens de abuso infantil, por meio do pagamento de “estrelas”, a moeda virtual introduzida pela plataforma em junho de 2024.
Segundo o SaferNet, “O uso da expressão ‘tradução’ para sinalizar esses grupos é uma velha tática usada por vendedores de materiais de exploração sexual infantil, que organizam e distribuem conteúdos criminosos como “traduções”, onde nacionalidades de vítimas são “idiomas”.
“Essas novas evidências comprovam a persistência dos riscos sistêmicos, a precariedade da moderação de conteúdo e a ausência de compliance da plataforma com a legislação brasileira de proteção à infância, combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo. Os números da SaferNet evidenciam que o Telegram, sozinho, responde por 90,35% de todas as denúncias envolvendo aplicativos de mensageria realizadas no Brasil em 2023 e 2024”, afirma Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil.
Os dados foram coletados a partir de denúncias recebidas pela própria ONG. “Todos os dados foram analisados de forma manual para identificação dos tipos de conteúdos e o direcionamento para as autoridades competentes”, explica Guilherme Alves. As informações foram encaminhadas para o Ministério Público Federal e para a Polícia Federal.
O gerente de projetos da SaferNet explica, ainda, que a identificação de usuários que cometem esse crime depende, necessariamente, da colaboração das plataformas que podem auxiliar as autoridades na identificação dessas pessoas. “Então, como são grupos fechados, em redes fechadas, a identificação e a responsabilização desses usuários acaba sendo dificultada. Obviamente que a denúncia dos usuários comuns também é importante, mas a colaboração da plataforma é essencial para que sejam tomadas medidas mais fortes”, argumenta.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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