No início da semana, Trump sugeriu que os mais de 2 milhões de palestinos deixassem o território e buscassem refúgio permanente em nações vizinhas, como Jordânia e Egito, para transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”. Diversos países árabes rechaçaram a proposta, que foi acusada pela comunidade internacional de buscar promover uma limpeza étnica, prática considerada crime contra a Humanidade.
Em discurso ao seu Gabinete, Netanyahu disse neste domingo que Israel e EUA concordaram em “garantir que Gaza não represente mais uma ameaça a Israel.”
— O presidente Trump veio com uma visão completamente diferente e muito melhor para Israel, uma abordagem revolucionária e criativa — disse Netanyahu, acrescentando que o líder americano está “muito determinado a implementá-la” e que a visita a Washington garantiu “conquistas tremendas”.
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A declaração acontece no mesmo dia em que o grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, anunciou a saída das tropas israelenses do corredor Netzarim, que divide a Faixa de Gaza em duas e impedia que os deslocados retornem ao norte.
A desmilitarização do local é parte frágil acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas firmando pouco antes da posse de Trump, em janeiro. No sábado, mais três reféns israelenses sob custódia do grupo palestino foram libertados no âmbito da trégua — elevando o número até agora para 16 de um total de 33 pessoas que devem ser soltas em intervalos escalonados.
No sábado, após a quinta troca de reféns e prisioneiros, Netanyahu ordenou que os negociadores retornem ao Catar para continuar as conversas sobre o cessar-fogo. Ele, no entanto, reafirmou sua promessa de aniquilar o grupo e libertar todos os reféns restantes no território palestino. No mesmo dia, o Hamas disse não querer prolongar o conflito com Israel.
Ainda que Netanyahu tenha ordenado o avanço das negociações, fontes israelenses ouvidas pelo jornal Haaretz disseram acreditar que o premier pretende sabotar o acordo — e que a delegação que segue para o Catar neste domingo não avançará para a segunda fase da trégua. Uma das fontes disse que trata-se de “um show” do primeiro-ministro, já que ele está “sinalizando claramente que não quer passar para a próxima fase”.
— Ele está enviando uma equipe sem capacidade para fazer qualquer coisa — declarou a fonte sob anonimato, acrescentando que as imagens dos reféns sendo libertados provavelmente prejudicaram Netanyahu nas pesquisas de opinião. — Eleitores de direita veem que não derrotamos o Hamas, e seus membros continuam armados. As placas nos palcos em Gaza durante os eventos de retorno dos reféns zombam de Netanyahu e fazem referência ao seu slogan de ‘vitória total’.
Passados mais de 15 meses de guerra, cerca de 47 mil a 61 mil pessoas foram mortas nos bombardeios israelenses em Gaza, e o território foi amplamente destruído.
Impacto da proposta americana na trégua
A proposta de Trump de “limpar” a Faixa de Gaza e realocar os palestinos para países vizinhos também pode atrapalhar o andamento do acordo. Em uma entrevista à Fox News no sábado, Netanyahu elogiou a ideia do americano e disse que Israel estava disposto a “fazer o trabalho”.
— Acho que a proposta do presidente Trump é a primeira ideia nova em anos e tem o potencial de mudar tudo em Gaza — disse Netanyahu no sábado, garantindo que é a “abordagem correta” para o futuro do enclave.
O Egito, por sua vez, anunciou que sediará uma cúpula árabe extraordinária em 27 de fevereiro para abordar “os últimos acontecimentos sérios” relacionados aos territórios palestinos. O país é contra receber palestinos, como propõe o presidente americano.
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Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores egípcio, Badr Abdelatty, partiu para Washington para se reunir com altos funcionários do governo Trump e congressistas. O objetivo é “fortalecer as relações bilaterais e a parceria estratégica entre o Egito e os Estados Unidos” e realizar “consultas sobre a situação regional”, disse o Ministério das Relações Exteriores egípcio em nota.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reagiu neste domingo afirmando que ninguém tem o poder de retirar os palestinos da Faixa de Gaza, em alusão à sugestão de Trump.
“— Ninguém tem o poder de retirar o povo de Gaza de sua pátria eterna, que está lá há milhares de anos — disse ele em uma coletiva de imprensa na noite de domingo. — Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental pertencem aos palestinos.
O cessar-fogo visa encerrar a guerra mais mortal e destrutiva já travada entre Israel e o Hamas , após o ataque do grupo em 7 de outubro de 2023, que deixou 1,2 mil mortos e 250 sequestrados, entre israelenses e estrangeiros. Desses, 157 foram resgatados na primeira trégua do conflito, em novembro de 2023, ou em operações militares posteriores. Agora, Israel acredita que cerca de um terço, ou possivelmente até metade, dos quase 90 reféns restantes estejam mortos.
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