Enviada especial à Cidade do Panamá* — O segundo e último dia do Fórum Econômico Internacional AméricaLatina e Caribe abordou assuntos diversos para a integração regional, como o uso da inteligência artificial (IA) como aliada para o desenvolvimento, mas teve como destaque a fala de abertura do prefeito do Distrito do Panamá, Mayer Mizrachi. Em apenas seis meses no cargo, o empresário do setor de criptomoedas está fazendo uma revolução na administração pública e mostrando a importância de menos políticos no setor público, que, para ele ajuda governos a serem mais produtivos.
Mizrachi chegou ao palco acompanhado da cachorra Tina. O prefeito que tem mais de 100 mil seguidores nas redes sociais posou para várias fotos com os participantes do evento. Segundo ele, é possível recuperar a confiança dos cidadãos fazendo mais com menos no setor público. Tanto que, resolveu entrar na política para participar e liderar o desenvolvimento político, social e econômico do país e tem se tornado um modelo a ser seguido pelos governos na América Latina que só sabem aumentar despesas e não focam no controle dos gastos públicos.
O prefeito da capital panamenha contou que, quando assumiu o cargo, descobriu que havia uma organização que tinha mais gastos do que arrecadava. “Cinquenta por cento das despesas era com pessoal, o equivalente a U$ 3,5 milhões. Cortamos 30% e a tese foi simples: vamos fazer mais com menos, porque podemos mostrar que os integrantes da minha equipe cuidam do erário público”, explicou E, dessa forma, também reduziu os custos com celulares de todos os diretores e os motoristas para mostrar porque fomos eleitos, e, nesse sentido, reduziu privilégios dos servidores. “Eu dirijo meu próprio carro”, exemplificou.
“Parece que o setor público quer brilhar e ser indispensável, mas o mais difícil é construir e mudar a cabeça de todos para entender que um sistema forte tem que entender que a política é apenas uma parte do motor da sociedade privada e das empresas”, afirmou.
De acordo com Mizrachi, ele conseguiu em seis meses comprovar a tese de que era possível fazer mais com menos, como melhorar a qualidade do serviço de saúde, que é gratuito, transferindo a gestão para o setor privado. “Temos o dobro de veículos e atendimentos de melhor qualidade sem gastar um dólar a mais”, afirmou.
Na avaliação do prefeito panamenho, “o sistema político precisa de menos políticos e mais cidadãos”. Ele contou ainda que os resultados estão ocorrendo em termos de arrecadação mesmo sem aumento de tarifas para os cidadãos. “Não mudamos os canais de cobrança de imposto e ainda demos desconto por pontualidade e o resultado está sendo o aumento da arrecadação em torno de 25% por conta do ganho de confiança da população”, afirmou. Além disso, destacou que as mudanças que estão sendo feitas no Panamá são importantes e podem ajudar no desenvolvimento da região. “Apesar de diferentes idiomas e culturas, por aqui, os problemas são quase idênticos e mostram que, simplesmente, propondo uma articulação do desenvolvimento da região, com empresas e governos locais, o projeto regional pode avançar”, acrescentou.
Mizrachi classificou-se como um otimista e elogiou a iniciativa do CAF, banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe, ao organizar o primeiro Fórum Econômico Internacional da região no país. “Sou otimista. Com essa oportunidade, o Panamá pode ser a ponta de lança para o desenvolvimento econômico e político da região. E, sem sócios estratégicos, não vamos conseguir crescer juntos”, afirmou. E, nesse sentido, o prefeito destacou também a importância da tecnologia para o crescimento da região, inclusive, da inteligência artificial, e concluiu o discurso apostando que, no ano que vem, a segunda edição do Fórum “será maior”.
Logo depois, em palestra magna, a pesquisadora Rachel Adams, fundadora e CEO do Centro Global de Governança de IA na América Latina e uma das principais redatoras da Estratégia Continental de IA da Comissão da União Africana, foi enfática ao comentar sobre o fenômeno da ascensão da startup chinesa DeepSeek no mercado de inteligência artificial, com uma tecnologia aberta, fazendo a Nvidia, uma das líderes deste segmento, perder mais de US$ 600 bilhões em um único dia, na semana passada. Para ela, ainda há riscos no uso da ferramenta chinesa, principalmente, na questão de segurança dos dados.
Em sua palestra, o sociólogo, economista e escritor Jeremy Rifkin comentou sobre o impacto das mudanças científicas e tecnológicas na economia, no mercado de trabalho, na sociedade e no meio ambiente. Autor do livro “O fim do trabalho”, de 1995, comentou como a Terceira Revolução Industrial está remodelando a infraestrutura global e como essa transformação pode enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Ele também ressaltou que a convergência de quatro chaves de internet – comunicação, energia, mobilidade e água – é crucial para garantir um futuro resiliente frente à mudança climática. “Esses avanços tecnológicos interconectados podem transformar a forma como gerenciamos os recursos e nos adaptamos às novas realidades climáticas”, disse.
*A jornalista viajou a convite do CAF
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