Na onda da reeleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro (PL) teve uma semana intensa de declarações e entrevistas. Inelegível, o ex-presidente prepara o terreno para a corrida eleitoral de 2026.
Durante esta semana, o nome do político esteve em alta durante desentendimento com o ex-ministro do governo e atual senador Marcos Pontes (PL-SP), que lançou candidatura à presidência da Casa Alta, mesmo sem o apoio do partido, que está com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Bolsonaro também deu entrevistas para os veículos bolsonaristas Fio Diário e Revista Oeste.
Segundo o cientista político e sócio da Hold Assessoria Legislativa, André César, o volta do republicano Donald Trump à Casa Branca pode ter “inspirado” o ex-mandatário. Ele salienta que a escolha de conceder entrevista aos veículos não tem o objetivo de alcançar mais eleitores, mas de “reforçar o discurso junto aos seus”. No entanto, o político inelegível apresentou mais disposição no jogo político, e os próximos passos são as eleições da Câmara e do Senado.
Nas casas legislativas, o cenário parece favorável para os aliados de Bolsonaro. São favoritos à disputa Davi Alcolumbre, no Senado, e Hugo Motta (Republicanos-PB), na Câmara dos Deputados.
Palacianos ‘casca-grossa’
As declarações de Bolsonaro na mídia não pararam por aí. Em entrevista ao Fio Diário, o ex-mandatário fez uma crítica às nomeações feitas por ele no mandato como presidente. Se pudesse voltar no tempo, como ele mesmo afirmou, deveria ter indicado ministros mais “casca grossa” em vez de generais aos ministérios palacianos. Integram essa categoria de pastas sediadas no Palácio do Planalto a Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Secretaria-Geral e a Secretaria de Governo.
Declaração parece tentativa do ex-presidente de se distanciar de nomes do antigo governo. Entre os ministros palacianos, estão Walter Braga Netto e Augusto Heleno, que ocuparam a Casa Civil e o GSI, respectivamente. Os dois militares são investigados no inquérito que apura tentativa de golpe de Estado, Braga Netto está preso desde dezembro por participação na trama.
Segundo o analista, Bolsonaro tem um perfil de se afastar bruscamente de aliados quando isso pode prejudicar a imagem. “O Braga Netto virou persona non grata na família Bolsonaro”, destacou César.
Outra intenção por trás da declaração, destaca o especialista, pode ser reconquistar o eleitorado mais ao centro, que foi importante na eleição de 2018, mas se afastou em 2022.
Profecia da direita
O novo cenário nos EUA e o indulto de Trump aos envolvidos no ataque ao Capitólio deu a Bolsonaro esperanças de reverter a inelegibilidade e voltar a subir a rampa do Palácio do Planalto. Autodenominado “preso político”, o brasileiro acredita que a influência do republicano pode reverter a situação na Justiça Eleitoral. “Se ele me convidou, ele tem a certeza de que pode colaborar com a democracia do Brasil, afastando inelegibilidades políticas, como essas duas minhas que eu tive”, declarou.
Para o cientista politico e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Christian Lynch, o retorno de Trump favorece a direita, mas não diretamente o bolsonarismo. “Ele [Bolsonaro] tenta vender a ideia de que se o Trump voltou ao poder, isso é um sinal de que Bolsonaro vai voltar, como se fosse uma profecia”, destaca.
Mesmo inelegível, Bolsonaro continua a dar declarações em que afirma ser o candidato da direita para 2026. Na sexta-feira (24/1), o ex-presidente recuou da estratégia de lançar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) à presidência. Declaração, segundo ele, se refere ao “no campo das ideias” e foi dita com “ironia”.
Segundo Lynch, a estratégia de se manter na mídia é uma tentativa de Bolsonaro de centralizar a direita brasileira na própria imagem. “O que aconteceu é que surgiram um monte de outros concorrentes dentro da direita e até da direita radical”, afirma.
Com o avanço dos inquéritos na Polícia Federal e dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF), o futuro de Jair Bolsonaro nas eleições ainda é incerto, com possibilidade de prisão para o ex-presidente. Por isso, as estratégias do bolsonarismo no jogo eleitoral ainda podem se transformar até 2026, explica o cientista político André César. Mas, para o analista, uma coisa é certa: neste ano, na política, de tédio a gente não morre.
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