No dia da posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segunda-feira 20, a Ku Klux Klan (KKK), grupo de encapuzados que defendem a supremacia e nacionalismo brancos, distribuiu uma série de panfletos em diversas cidades no estado de Kentucky com a mensagem agressiva de que imigrantes deveriam “sair já” do país. Os papéis ilustravam o Tio Sam chutando uma família de cinco estrangeiros, incluindo um bebê e duas crianças pequenas, enquanto segurava um documento com instruções para “monitorar e rastrear todos os imigrantes” e “denunciá-los”.
Além das mensagens de ódio, os panfletos incluíam um número de telefone para contato e um convite para “se juntar a nós”. No entanto, o número de telefone listado não estava mais em serviço na manhã desta quarta-feira, 22.
Postura anti-imigrantes
O episódio ocorreu em meio a promessas de Trump sobre conduzir “a maior deportação da história dos Estados Unidos”, plano que começou a preparar com uma série de ordens executivas no primeiro dia do mandato. Entre as ações presidenciais estão a declaração de emergência nacional na fronteira, uma medida que prescinde de autorização do Congresso, dá mais poder ao executivo e, na prática, autoriza o redirecionamento de fundos e recursos para reforçar a segurança no local, incluindo aí o envio de militares e a retomada da construção de um grande muro entre México e Estados Unidos.
Ele também encerrou as operações de um aplicativo criado no governo Biden para a admissão de pedidos de asilo, com intuito de congelar a “invasão” totalmente por ao menos quatro meses, e produziu um clima de medo entre os cerca de 11 milhões de estrangeiros em situação irregular dentro do país ao decretar que vale tudo para prendê-los: antes território proibido, locais sensíveis como escolas, igrejas e hospitais agora são alvo legítimo para batidas da Ice, a temida polícia de imigração.
Revolta nas redes sociais
A distribuição dos panfletos gerou indignação nas redes sociais, com moradores de Kentucky denunciando a ação. Agentes de segurança de Ludlow, no norte do estado, se manifestou rapidamente, classificando os folhetos como “perturbadores e repugnantes”. Em uma publicação no Facebook, a polícia garantiu que estava ciente da situação e orientou a população a registrar ocorrências caso se sentissem ameaçadas ou assediadas.
KKK flyers found in a neighborhood in northern KY where I went to college. The games are over, keep each other safe pic.twitter.com/b1apnpjWlG
— there’s a woman on the plane (@itswforwumbo) January 21, 2025
Em Fort Wright, cidade vizinha, também foram encontrados panfletos semelhantes. O prefeito, Dave Hatter, condenou o episódio, afirmando que esse “lixo odioso” não refletia os valores da comunidade local. “Esse tipo de comportamento não será tolerado em nossa cidade nem em nossa sociedade”, disse ele.
Jon McClain, chefe de polícia em Bellevue, no Kentucky, contou ao jornal americano The Washington Post que um morador encontrou um dos panfletos na segunda-feira. “Foi alarmante para nossa comunidade. Não acho que seja uma coincidência que isso tenha ocorrido no dia da posse de Trump”, afirmou.
Além dos panfletos distribuídos em Kentucky, materiais semelhantes já tinham sido encontrados em áreas de Indiana no final de 2024.
O que é a KKK?
A primeira versão da Klan surgiu no sul dos Estados Unidos no final dos anos 1860 e tentou derrubar governos estaduais republicanos no sul dos Estados Unidos, durante a Era da Reconstrução, especialmente através do uso da violência contra líderes afro-americanos. Na época, seus membros faziam os próprios trajes, muitas vezes coloridos: roupões, máscaras e chapéus em formato de cone, projetados para serem aterrorizantes e para esconder suas identidades.
Após repressão federal, o grupo minguou nos anos 1870, apenas para ressurgir novamente no início do século XX, especialmente nas áreas urbanas do Centro-Oeste e Oeste do país. Se opunham aos católicos e judeus, especialmente os imigrantes mais recentes. Foi então que adotou-se um traje branco padrão, além de terem surgido rituais de queima de cruzes e desfiles em massa.
A terceira e atual manifestação da KKK surgiu depois de 1950, sob a forma de grupos pequenos, locais e desconexos. Eles se concentraram na oposição ao movimento dos direitos civis dos anos 60, muitas vezes usando violência e assassinatos para reprimir ativistas. Atualmente, é classificado como um grupo de ódio pela Liga Antidifamação. Segundo estimativas de 2012, há entre 5 mil e 8 mil membros, que costumam fazer referências ao sangue “anglo-saxão” dos Estados Unidos, o que remete ao nativismo do século XIX, que alimenta as crenças na supremacia e nacionalismo brancos.
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