Não há quem consiga parar Chappell Roan.
Nos últimos 12 meses, a jovem de 26 anos se tornou a estrela mais frenética da música pop – exuberante, com seus cabelos cor de fogo e suas músicas ao mesmo tempo brilhantes e naturais.
Seu primeiro álbum, lançado com pouco destaque em 2023, acaba de chegar ao topo da parada britânica pela segunda vez. Na semana que vem, ela irá concorrer a seis prêmios Grammy, incluindo o de artista revelação.
E a BBC Rádio 1 elegeu a cantora o Som de 2025, em uma votação que envolveu mais de 180 músicos, críticos e especialistas do setor musical.
Seu sucesso teve um sabor ainda mais especial porque sua antiga gravadora se recusou a lançar várias das canções que explodiram nas paradas no ano passado.
“Eles disseram ‘isso não vai funcionar. Não vamos conseguir'”, contou Roan ao apresentador Jack Saunders, da BBC Rádio 1.
Sua chegada à primeira linha das estrelas do pop não é apenas a consequência do seu trabalho, mas uma revolução.
Ela é a primeira mulher a atingir o sucesso como pessoa abertamente queer (que não se identifica com as definições tradicionais de gênero), sem que a revelação esperasse pela sua narrativa após a fama.
No lado pessoal, ela finalmente conseguiu dinheiro suficiente para se mudar para uma casa própria e adotou uma gata resgatada, chamada Cherub Lou.
“Ela é superminúscula, seu hálito é muito ruim e ela não mia”, declarou a cantora.
Se ter um gato é um dos benefícios da fama, Roan desafiou o lado negativo.
Ela denunciou o “comportamento assustador” dos fãs abusivos – pessoas que a importunam na fila dos aeroportos e a “perseguem” na casa dos seus pais.
Em setembro, ela viralizou ao xingar um fotógrafo que praticava abusos contra as estrelas no tapete vermelho, durante os prêmios da MTV.
“Eu olhei em volta e me perguntei: ‘As pessoas aceitam isso todo o tempo? E esperam que eu aja normalmente? Isso não é normal. Isso é maluquice'”, relembra ela.
O incidente chegou às manchetes. Os tabloides britânicos chamaram a explosão de “birra” de uma “diva mimada”. Mas Roan não se desculpa pelo que fez.
“Sempre reagi desta forma ao desrespeito por toda a vida”, declarou ela. “Mas, agora, existem câmeras na minha direção, por acaso também sou uma estrela do pop e estas coisas não combinam. É como óleo e água.”
Roan afirma que os músicos são treinados para serem obedientes. Defender-se é retratado como choradeira ou ingratidão – e rejeitar as convenções tem seu preço.
“Na verdade, acho que eu faria mais sucesso se usasse uma focinheira”, ela ri.
“Se eu controlasse mais meus instintos básicos, o rumo do meu coração, ‘pare, pare, pare, você não está bem’, eu seria maior. Eu seria muito maior… e ainda estaria em turnê, agora.”
De fato, Roan rejeitou a pressão de estender sua turnê de 2024 para proteger sua saúde física e mental. Ela atribui esta resolução ao seu avô, já falecido.
“Existe algo que ele disse que me faz pensar em cada decisão que tomo na minha carreira”, ela conta. “Sempre há opções.”
“Por isso, quando alguém diz, ‘Faça este show porque ninguém nunca irá oferecer todo esse dinheiro novamente’, eu penso: e daí?”
“Se eu não me sentir disposta a fazer isso agora, sempre há opções. Não existe falta de oportunidades. Penso nisso todo o tempo.”
Seus fãs já sabem que Roan foi batizada com o nome de Kayleigh Rose Amstutz. Ela foi criada na pequena cidade de Willard, no Estado americano de Missouri – no chamado Cinturão da Bíblia.
Roan foi a mais velha de quatro filhos e seu sonho era ser atriz. Mas, por muito tempo, parecia que seu futuro estaria no esporte. Ela participou de competições estaduais e quase foi para a faculdade em disputas nacionais.
Mas ela participou de um concurso de cantores aos 13 anos de idade e ganhou.
Pouco tempo depois, ela escreveu sua primeira canção, sobre um menino mórmon que foi seu crush, mas não podia namorar ninguém que não fosse da sua religião.
Seu nome artístico é uma homenagem ao seu avô, Dennis K. Chappell, e à música favorita dele, uma balada do Velho Oeste chamada The Strawberry Roan.
“Ele era muito engraçado e muito inteligente”, relembra ela. “E não acho que, algum dia, ele tenha questionado minha capacidade.”
“Muitas pessoas diziam ‘Você deveria cantar apenas country’ ou ‘Você deveria tentar música gospel’. Mas ele nunca me disse para fazer nada”, ela conta. “Ele era a única pessoa que dizia ‘Você não precisa de um plano B. Simplesmente faça acontecer.'”
Paraíso das drag queens
Chegou um momento em que uma das suas composições – uma balada gótica chamada Die Young – chamou a atenção da gravadora Atlantic Records, que a contratou com apenas 17 anos de idade.
Ao se mudar para Los Angeles, na Califórnia (EUA), ela gravou e lançou seu primeiro EP em 2017, School Nights. Foi uma aventura sólida, mas sem grandes repercussões, imersa nos sons de Lana Del Rey e Lorde.
Roan só foi encontrar seu som próprio quando um grupo de amigos gays a levou para um bar drag.
“Entrei naquele clube em West Hollywood e parecia um paraíso”, declarou ela à BBC em 2024. “Foi incrível ver todas aquelas pessoas felizes e confiantes com seus corpos.”
“E os dançarinos! Fiquei encantada. Não conseguia parar de assistir. Era como [se eu dissesse] ‘preciso fazer aquilo’.”
Ela não se tornou dançarina, mas escreveu uma canção imaginando como seria, incluindo a reação da sua mãe. Roan deu à música o nome de Pink Pony Club, que era o nome de um bar de striptease na sua cidade natal.
“Aquela canção mudou tudo”, relembra Roan. “Ela me levou para um novo patamar. Nunca pensei que pudesse realmente ser uma ‘pop star’ e Pink Pony me forçou a isso.”
Mas sua gravadora discordou. Ela passou dois anos se recusando a lançar Pink Pony Club. Pouco depois que eles cederam, Roan foi dispensada durante um corte de verbas ocorrido na pandemia.
Ela foi para casa e passou o ano seguinte servindo café em uma lanchonete drive-through.
“Aquilo certamente me causou um impacto positivo”, relembra ela. “Você fica sabendo como é limpar um banheiro público. Isso é muito importante.”
Aquele também foi um período transformador de outras maneiras. Ela guardou o dinheiro que ganhou, teve seu coração partido por uma pessoa “com olhos azuis claros”, voltou para Los Angeles e definiu o prazo de um ano para fazer carreira.
Poderia ter levado um pouco mais, mas ela já começou com o pé direito.
Durante seu exílio, Roan havia mantido o contato com seu colega letrista de Pink Pony Club, Daniel Nigro. Ele também trabalhava com outra cantora que enfrentava altos e baixos na época. Seu nome era Olivia Rodrigo.
Quando a carreira de Rodrigo decolou, Roan ganhou um lugar nos bastidores, ajudando a cantora nas turnês e participando dos vocais no seu segundo álbum, Guts.
Mas o mais importante foi que Nigro aproveitou o momento para contratar Roan para sua própria gravadora, garantindo o lançamento do seu primeiro álbum em setembro de 2023.
Inicialmente, parecia que a primeira gravadora de Roan estava certa. As vendas foram decepcionantes e o público demorou para compreendê-la.
Seus hinos declaradamente queer não se encaixavam com a tendência voltada para o pop confessional sussurrante.
Mas suas canções ganharam vida no palco. Grandes, divertidas e criadas para a participação do público, elas atingiram novos patamares com a potência vocal de Roan e sua exuberante presença no palco.
“Uma drag queen não sobe ao palco para acalmar as pessoas”, declarou ela. “Uma drag queen não diz coisas para adular ninguém.”
“A drag queen faz você corar, entende o que digo? Espere esta mesma energia no meu show.”
É claro que foi uma apresentação transmitida ao vivo, no Festival Coachella do ano passado, na Califórnia, que lançou Chappell Roan para os escalões superiores do pop.
Vestida com uma camiseta de PVC com a inscrição Eat Me (“Me coma”, em tradução literal), ela se apresentou na tenda lotada como a atração principal, desfilando resolutamente pelo palco e coordenando o público na extravagante coreografia da canção Hot To Go!.
Ela então olhou diretamente para a câmera e dedicou uma música para a ex.
“Eu sei que você está assistindo… e tudo aquilo de horrível que está acontecendo com você é carma!”
O clipe viralizou e, com ele, também sua carreira.
No verão americano, todos os seus shows foram ampliados. Os festivais precisaram levá-la para palcos maiores. E, quando ela cantou no Lollapalooza em agosto, foi o maior público que o evento já teve durante o dia.
“Simplesmente leva uma década”, orienta ela. “É o que digo para todo mundo: ‘Se, para você, está tudo bem se levar 10 anos, então você está no caminho certo’.”
Quando os fãs descobriram seu primeiro álbum, Roan também lançou um single – uma faixa sarcástica de synth pop chamada Good Luck Babe, que se tornou seu grande sucesso.
“Nem sei se já disse isso em alguma entrevista, mas o nome original era Good Luck, Jane“, revela ela. “Eu queria que ela contasse que me apaixonei pela minha melhor amiga, ela rindo e dizendo ‘não gosto de você, gosto de meninos’.”
“E eu dizia, ‘OK, tudo bem, boa sorte com isso, Jane’.”
Uma aula de como contar histórias no pop, Good Luck Babe tem uma estrutura comum em três atos, com uma recompensa mortal no meio da canção e um refrão que você não consegue evitar. Ainda assim, Roan ficou surpresa com o sucesso.
“Eu simplesmente lancei, meio que sem saber aonde iria chegar”, relembra ela, “e ela durou o ano inteiro!”
É claro que a grande questão é sobre os próximos passos da estrela, agora que ela é o Som de 2025.
Roan já antecipou duas novas canções nos seus shows, The Subway e The Giver. Mas tudo o que ela revela sobre o segundo álbum é que ela está “mais relutante em lançar um álbum que seja triste ou sombrio”.
“É tão bom festejar”, explica ela.
Analisando os últimos 12 meses, a cantora filosofa sobre o que significa ser o mais novo e intenso fenômeno do pop.
“Muitas pessoas acham que a fama é o auge do sucesso. O que mais você pode querer além da adoração das pessoas?”
Roan confessa que a admiração dos desconhecidos é mais “viciante” do que ela esperava. “Tipo, eu entendo porque tenho tanto medo de perder esta sensação.”
“É muito assustador pensar que, um dia, as pessoas não irão se importar com você da mesma forma que agora – e acho que [esta ideia] vive na cabeça das mulheres de forma muito diferente dos homens.”
Por fim, Chappell Roan reconhece que o sucesso e o fracasso estão “fora do meu controle”. Por isso, ela quer fazer boas escolhas.
“Se eu puder olhar para trás e dizer ‘não desmoronei sob o peso da expectativa e não aceitei sofrer abusos ou chantagens’, pelo menos permaneci fiel aos meus princípios.”
“Como eu disse antes, sempre há opções.”
Chappell Roan foi eleita o ‘Som de 2025’ da BBC Rádio 1, por um grupo de mais de 180 músicos, críticos e especialistas do setor musical.
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