Com amplo apoio da máquina pública, uma coligação que reuniu 12 partidos e apoio firme do governo estadual, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (27).
A reeleição sobre Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno foi confirmada com 89,78% das seções apuradas. No momento da confirmação do TSE, Nunens tinha 59,56% dos votos válidos, contra 40,44% de Boulos.
A vitória de Nunes consagra a “política profissional” na capital paulista, em um pleito marcado pelo impulsionamento da “direita das redes sociais” de Pablo Marçal (PRTB), que conquistou 1,7 milhão de votos no primeiro turno.
Empresário, Nunes foi vereador entre 2013 e 2020, quando foi eleito vice-prefeito da capital paulista na chapa liderada por Bruno Covas (PSDB). Em 2021, assumiu a prefeitura em após a morte de Covas.
O prefeito tinha a legitimidade no Executivo questionada pela oposição nunca ter sido eleito em um pleito majoritário — o que muda com a votação que obteve nas eleições municipais deste ano.
Durante a campanha, o prefeito reeleito desviou de acusações de corrupção e apostou em um discurso que mesclou conservadorismo com pragmatismo administrativo.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam a influência da máquina pública para a vitória nestas eleições e o fortalecimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai chancelado como articulador político e um nome possível para disputa presidencial em 2026.
‘Direita da máquina’ x ‘direita das redes’
No ano que três candidatos chegaram empatados no fim do primeiro turno, a vitória de Nunes evidencia que, apesar do crescimento da “direita digital” representada por Marçal, a política tradicional mantém sua força. É o que analisa Hannah Maruci, doutora em Ciência Política pela USP.
“A máquina importa, o tempo de TV ainda importa”, diz. “Quando o candidato que já está no cargo vai para o segundo turno, é muito difícil para outro candidato ganhar”, diz a pesquisadora.
O resultado na capital paulista mostra uma redução da polarização, diz Eduardo Grin, professor de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“A gente esperava uma reprodução na esfera local do que foi [as eleições presidenciais de] 2022, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. E isso não aconteceu”, afirma o professor.
Para ele, essa polarização não aconteceu pelo fato de Lula e Bolsonaro terem altas rejeições na cidade e participarem das campanhas de maneira tímida.
“Lula tinha limites para entrar na campanha, porque vários partidos que estão apoiando o Nunes estão na sua base de apoio no Congresso Nacional e isso poderia gerar indisposições com o próprio MDB ou com União Brasil, por exemplo. E Bolsonaro não entrou na campanha porque ele sabia que isso significaria carregar de desgastes diretos”, diz.
Maruci pondera que o resultado não significa que o fim da polarização.
“O MDB é um partido não ideológico e o bolsonarismo nunca teve uma associação a um partido. Tanto é que Bolsonaro muda de partido inúmeras vezes. E o próprio Boulos foi alvo desse antipetismo também, embora ele não seja do PT. Então ainda estamos falando de duas forças antagonistas”, pontua.
Tarcísio de Freitas: o grande vencedor
Mas algo é consenso entre os analistas políticos ouvidos pela reportagem: Tarcísio de Freitas sai destas eleições fortalecido.
No segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual governador de São Paulo e o prefeito reeleito almoçaram e fizeram campanha juntos — mas o grande fiador político da campanha do candidato do MDB foi o governador.
Antes de encontrar Bolsonaro, Nunes destacou o apoio do “grande amigo e irmão” Tarcísio, que esteve “ombro a ombro” com sua campanha.
“Ele é uma grande referência nossa. Foi fazer caminhada com a gente, reunião, foi convocar pessoas para a nossa campanha. Agradeço muito ao governador Tarcísio por tudo”, disse.
Enquanto o ex-presidente hesitou em apoiar abertamente Nunes no primeiro turno, já que o prefeito causou controvérsia nas redes sociais bolsonaristas por não ser um aliado “raiz”, foi Tarcísio quem garantiu sustentação ao prefeito e se mostrou um padrinho confiável e entrou de cabeça na campanha.
Neste domingo, o governador afirmou sem provas que a facção criminosa PCC orientou voto em Boulos na capital paulista. A declaração foi feita no local de votação de Tarcísio, na zona sul de São Paulo.
O candidato do PSOL classificou a declaração como “irresponsável e mentirosa”. “Este é o laudo falso do segundo turno”, disse Boulos, em referência à publicação de um atestado médico falso por Marçal às vésperas do segundo turno.
Para Eduardo Grin, ele demonstrou capacidade própria de articulação política e um nome forte para 2026.
“O apoio de Tarcísio para o Ricardo Nunes mostra que, politicamente falando, o governador não é mais uma liderança tão dependente quanto foi de Bolsonaro”, analisa.
“Ele adquiriu voos próprios, começou muito apoiado pelo Gilberto Kassab, que vem tentando moderar ou polir a imagem como alguém que é um político não bolsonarista.”
O cientista político destaca uma derrota de Bolsonaro nestas eleições. Isso porque o ex-presidente viu o campo da direita radical se fragmentar e sua influência como cabo eleitoral ser posta à prova.
Ivan Fernandes, professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca a tentativa do governador em tentar caminhar para o centro e se desligar, em um primeiro momento, de alas radicais do bolsonarismo.
O professor da UFABC diz que o governador “nunca foi uma figura super radical” e lembra e sempre foi alguém que conseguiu transitar.
“Mesmo que não sendo um cargo de alto escalão, ele fez parte do governo Dilma e continuou durante o governo Bolsonaro. Ele já teve posturas excessivamente truculentas e podemos discutir até a atuação dele como governador, mas não como ator político.”
Possíveis caminhos da direita em 2026
O pleito paulistano dá pistas de possíveis cenários para 2026.
“É muito provável que um racha à direita, com o Bolsonaro sendo ou não candidato em 2026, continue”, projeta Grin.
Ele diz que a vitória de Nunes mostra a força da “política profissional”, simbolizada na figura de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e que apoiou a campanha de Nunes.
“Estamos lidando com um grande empresário da política, como o Kassab, que entendeu uma coisa muito importante dessa eleição: candidaturas que não caminharem no sentido de gerar grandes coalizões de apoio, a exemplo do João Campos em Recife ou do Eduardo Paes no Rio de Janeiro, estarão fadadas a serem derrotadas eleitoralmente”, afirma.
“Quando o Valdemar Costa Neto, um profissional da política, fala que não quer o bolsonarismo mandando no PL, ou Lula afirma que ele quer fazer alianças com a centro-direita, qual é a conclusão que temos em comum? Todos entenderam que tem que fazer arcos de alianças mais amplos para terem chances de vitória em 2026.”
O cientista político, no entanto, diz que não é correto dizer que o centro prevaleceu sobre os extremos.
“Não tem centro nenhum. União Brasil, Republicanos, as próprias várias alas do PSD são partidos de direita. O que prevaleceu foi outra lógica. Esses partidos, turbinados com muito dinheiro do fundo eleitoral e de vários tipos de emendas que vieram do Congresso, ajudaram a atingir uma taxa de adesão de prefeitos como nunca houve antes.”
Ivan Fernandes também afirma que a eleição municipal acena para novos nomes na direita.
“Ao longo de 30 anos de democracia, na esquerda você não consegue se consolidar sem o apoio do Lula. Na direita, o mesmo acontecia com Bolsonaro. Agora, há indícios que é possível alguém se viabilizar sem o apoio do bolsonarismo.”
O futuro de Nunes
O perfil dos vereadores eleitos neste ano mostra que a gestão do MDB deve ter governabilidade: os partidos da coligação de Nunes terão 36 dos 55 cadeiras a partir do próximo ano.
Ou seja, os aliados do atual prefeito formam 65% da Câmara Municipal, o deve facilitar a aprovação de projetos enviados pelo prefeito.
Por isso, Eduardo Grin diz que Nunes não encontrará dificuldades para governar.
Quanto ao futuro político do prefeito reeleito, Ivan Fernandes acredita que Nunes deve seguir trajetória semelhante à de Gilberto Kassab.
“Não acredito que ele vá ser candidato ao governo estadual. O Tarcísio precisaria viabilizar o sucessor, mas acho que Nunes não é este nome. Meu palpite é que ele seguirá o percurso do Kassab”, diz.
“Ele tem um partido forte, vai se fortalecer ainda mais que são seis anos de gestão em São Paulo, o que lhe dá um orçamento enorme para criar suas redes de apoio e sua clientela política.”
Fernandes projeta que os próximos quatro anos de gestão Nunes serão marcados pela continuidade de suas políticas: forte diálogo com construtoras e parcerias de políticas com o governo de seu agora padrinho, Tarcísio de Freitas.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br
Com amplo apoio da máquina pública, uma coligação que reuniu 12 partidos e apoio firme do governo estadual, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (27).
A reeleição sobre Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno foi confirmada com 89,78% das seções apuradas. No momento da confirmação do TSE, Nunens tinha 59,56% dos votos válidos, contra 40,44% de Boulos.
A vitória de Nunes consagra a “política profissional” na capital paulista, em um pleito marcado pelo impulsionamento da “direita das redes sociais” de Pablo Marçal (PRTB), que conquistou 1,7 milhão de votos no primeiro turno.
Empresário, Nunes foi vereador entre 2013 e 2020, quando foi eleito vice-prefeito da capital paulista na chapa liderada por Bruno Covas (PSDB). Em 2021, assumiu a prefeitura em após a morte de Covas.
O prefeito tinha a legitimidade no Executivo questionada pela oposição nunca ter sido eleito em um pleito majoritário — o que muda com a votação que obteve nas eleições municipais deste ano.
Durante a campanha, o prefeito reeleito desviou de acusações de corrupção e apostou em um discurso que mesclou conservadorismo com pragmatismo administrativo.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam a influência da máquina pública para a vitória nestas eleições e o fortalecimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai chancelado como articulador político e um nome possível para disputa presidencial em 2026.
‘Direita da máquina’ x ‘direita das redes’
No ano que três candidatos chegaram empatados no fim do primeiro turno, a vitória de Nunes evidencia que, apesar do crescimento da “direita digital” representada por Marçal, a política tradicional mantém sua força. É o que analisa Hannah Maruci, doutora em Ciência Política pela USP.
“A máquina importa, o tempo de TV ainda importa”, diz. “Quando o candidato que já está no cargo vai para o segundo turno, é muito difícil para outro candidato ganhar”, diz a pesquisadora.
O resultado na capital paulista mostra uma redução da polarização, diz Eduardo Grin, professor de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“A gente esperava uma reprodução na esfera local do que foi [as eleições presidenciais de] 2022, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. E isso não aconteceu”, afirma o professor.
Para ele, essa polarização não aconteceu pelo fato de Lula e Bolsonaro terem altas rejeições na cidade e participarem das campanhas de maneira tímida.
“Lula tinha limites para entrar na campanha, porque vários partidos que estão apoiando o Nunes estão na sua base de apoio no Congresso Nacional e isso poderia gerar indisposições com o próprio MDB ou com União Brasil, por exemplo. E Bolsonaro não entrou na campanha porque ele sabia que isso significaria carregar de desgastes diretos”, diz.
Maruci pondera que o resultado não significa que o fim da polarização.
“O MDB é um partido não ideológico e o bolsonarismo nunca teve uma associação a um partido. Tanto é que Bolsonaro muda de partido inúmeras vezes. E o próprio Boulos foi alvo desse antipetismo também, embora ele não seja do PT. Então ainda estamos falando de duas forças antagonistas”, pontua.
Tarcísio de Freitas: o grande vencedor
Mas algo é consenso entre os analistas políticos ouvidos pela reportagem: Tarcísio de Freitas sai destas eleições fortalecido.
No segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual governador de São Paulo e o prefeito reeleito almoçaram e fizeram campanha juntos — mas o grande fiador político da campanha do candidato do MDB foi o governador.
Antes de encontrar Bolsonaro, Nunes destacou o apoio do “grande amigo e irmão” Tarcísio, que esteve “ombro a ombro” com sua campanha.
“Ele é uma grande referência nossa. Foi fazer caminhada com a gente, reunião, foi convocar pessoas para a nossa campanha. Agradeço muito ao governador Tarcísio por tudo”, disse.
Enquanto o ex-presidente hesitou em apoiar abertamente Nunes no primeiro turno, já que o prefeito causou controvérsia nas redes sociais bolsonaristas por não ser um aliado “raiz”, foi Tarcísio quem garantiu sustentação ao prefeito e se mostrou um padrinho confiável e entrou de cabeça na campanha.
Neste domingo, o governador afirmou sem provas que a facção criminosa PCC orientou voto em Boulos na capital paulista. A declaração foi feita no local de votação de Tarcísio, na zona sul de São Paulo.
O candidato do PSOL classificou a declaração como “irresponsável e mentirosa”. “Este é o laudo falso do segundo turno”, disse Boulos, em referência à publicação de um atestado médico falso por Marçal às vésperas do segundo turno.
Para Eduardo Grin, ele demonstrou capacidade própria de articulação política e um nome forte para 2026.
“O apoio de Tarcísio para o Ricardo Nunes mostra que, politicamente falando, o governador não é mais uma liderança tão dependente quanto foi de Bolsonaro”, analisa.
“Ele adquiriu voos próprios, começou muito apoiado pelo Gilberto Kassab, que vem tentando moderar ou polir a imagem como alguém que é um político não bolsonarista.”
O cientista político destaca uma derrota de Bolsonaro nestas eleições. Isso porque o ex-presidente viu o campo da direita radical se fragmentar e sua influência como cabo eleitoral ser posta à prova.
Ivan Fernandes, professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca a tentativa do governador em tentar caminhar para o centro e se desligar, em um primeiro momento, de alas radicais do bolsonarismo.
O professor da UFABC diz que o governador “nunca foi uma figura super radical” e lembra e sempre foi alguém que conseguiu transitar.
“Mesmo que não sendo um cargo de alto escalão, ele fez parte do governo Dilma e continuou durante o governo Bolsonaro. Ele já teve posturas excessivamente truculentas e podemos discutir até a atuação dele como governador, mas não como ator político.”
Possíveis caminhos da direita em 2026
O pleito paulistano dá pistas de possíveis cenários para 2026.
“É muito provável que um racha à direita, com o Bolsonaro sendo ou não candidato em 2026, continue”, projeta Grin.
Ele diz que a vitória de Nunes mostra a força da “política profissional”, simbolizada na figura de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e que apoiou a campanha de Nunes.
“Estamos lidando com um grande empresário da política, como o Kassab, que entendeu uma coisa muito importante dessa eleição: candidaturas que não caminharem no sentido de gerar grandes coalizões de apoio, a exemplo do João Campos em Recife ou do Eduardo Paes no Rio de Janeiro, estarão fadadas a serem derrotadas eleitoralmente”, afirma.
“Quando o Valdemar Costa Neto, um profissional da política, fala que não quer o bolsonarismo mandando no PL, ou Lula afirma que ele quer fazer alianças com a centro-direita, qual é a conclusão que temos em comum? Todos entenderam que tem que fazer arcos de alianças mais amplos para terem chances de vitória em 2026.”
O cientista político, no entanto, diz que não é correto dizer que o centro prevaleceu sobre os extremos.
“Não tem centro nenhum. União Brasil, Republicanos, as próprias várias alas do PSD são partidos de direita. O que prevaleceu foi outra lógica. Esses partidos, turbinados com muito dinheiro do fundo eleitoral e de vários tipos de emendas que vieram do Congresso, ajudaram a atingir uma taxa de adesão de prefeitos como nunca houve antes.”
Ivan Fernandes também afirma que a eleição municipal acena para novos nomes na direita.
“Ao longo de 30 anos de democracia, na esquerda você não consegue se consolidar sem o apoio do Lula. Na direita, o mesmo acontecia com Bolsonaro. Agora, há indícios que é possível alguém se viabilizar sem o apoio do bolsonarismo.”
O futuro de Nunes
O perfil dos vereadores eleitos neste ano mostra que a gestão do MDB deve ter governabilidade: os partidos da coligação de Nunes terão 36 dos 55 cadeiras a partir do próximo ano.
Ou seja, os aliados do atual prefeito formam 65% da Câmara Municipal, o deve facilitar a aprovação de projetos enviados pelo prefeito.
Por isso, Eduardo Grin diz que Nunes não encontrará dificuldades para governar.
Quanto ao futuro político do prefeito reeleito, Ivan Fernandes acredita que Nunes deve seguir trajetória semelhante à de Gilberto Kassab.
“Não acredito que ele vá ser candidato ao governo estadual. O Tarcísio precisaria viabilizar o sucessor, mas acho que Nunes não é este nome. Meu palpite é que ele seguirá o percurso do Kassab”, diz.
“Ele tem um partido forte, vai se fortalecer ainda mais que são seis anos de gestão em São Paulo, o que lhe dá um orçamento enorme para criar suas redes de apoio e sua clientela política.”
Fernandes projeta que os próximos quatro anos de gestão Nunes serão marcados pela continuidade de suas políticas: forte diálogo com construtoras e parcerias de políticas com o governo de seu agora padrinho, Tarcísio de Freitas.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br
Com amplo apoio da máquina pública, uma coligação que reuniu 12 partidos e apoio firme do governo estadual, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (27).
A reeleição sobre Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno foi confirmada com 89,78% das seções apuradas. No momento da confirmação do TSE, Nunens tinha 59,56% dos votos válidos, contra 40,44% de Boulos.
A vitória de Nunes consagra a “política profissional” na capital paulista, em um pleito marcado pelo impulsionamento da “direita das redes sociais” de Pablo Marçal (PRTB), que conquistou 1,7 milhão de votos no primeiro turno.
Empresário, Nunes foi vereador entre 2013 e 2020, quando foi eleito vice-prefeito da capital paulista na chapa liderada por Bruno Covas (PSDB). Em 2021, assumiu a prefeitura em após a morte de Covas.
O prefeito tinha a legitimidade no Executivo questionada pela oposição nunca ter sido eleito em um pleito majoritário — o que muda com a votação que obteve nas eleições municipais deste ano.
Durante a campanha, o prefeito reeleito desviou de acusações de corrupção e apostou em um discurso que mesclou conservadorismo com pragmatismo administrativo.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam a influência da máquina pública para a vitória nestas eleições e o fortalecimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai chancelado como articulador político e um nome possível para disputa presidencial em 2026.
‘Direita da máquina’ x ‘direita das redes’
No ano que três candidatos chegaram empatados no fim do primeiro turno, a vitória de Nunes evidencia que, apesar do crescimento da “direita digital” representada por Marçal, a política tradicional mantém sua força. É o que analisa Hannah Maruci, doutora em Ciência Política pela USP.
“A máquina importa, o tempo de TV ainda importa”, diz. “Quando o candidato que já está no cargo vai para o segundo turno, é muito difícil para outro candidato ganhar”, diz a pesquisadora.
O resultado na capital paulista mostra uma redução da polarização, diz Eduardo Grin, professor de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“A gente esperava uma reprodução na esfera local do que foi [as eleições presidenciais de] 2022, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. E isso não aconteceu”, afirma o professor.
Para ele, essa polarização não aconteceu pelo fato de Lula e Bolsonaro terem altas rejeições na cidade e participarem das campanhas de maneira tímida.
“Lula tinha limites para entrar na campanha, porque vários partidos que estão apoiando o Nunes estão na sua base de apoio no Congresso Nacional e isso poderia gerar indisposições com o próprio MDB ou com União Brasil, por exemplo. E Bolsonaro não entrou na campanha porque ele sabia que isso significaria carregar de desgastes diretos”, diz.
Maruci pondera que o resultado não significa que o fim da polarização.
“O MDB é um partido não ideológico e o bolsonarismo nunca teve uma associação a um partido. Tanto é que Bolsonaro muda de partido inúmeras vezes. E o próprio Boulos foi alvo desse antipetismo também, embora ele não seja do PT. Então ainda estamos falando de duas forças antagonistas”, pontua.
Tarcísio de Freitas: o grande vencedor
Mas algo é consenso entre os analistas políticos ouvidos pela reportagem: Tarcísio de Freitas sai destas eleições fortalecido.
No segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual governador de São Paulo e o prefeito reeleito almoçaram e fizeram campanha juntos — mas o grande fiador político da campanha do candidato do MDB foi o governador.
Antes de encontrar Bolsonaro, Nunes destacou o apoio do “grande amigo e irmão” Tarcísio, que esteve “ombro a ombro” com sua campanha.
“Ele é uma grande referência nossa. Foi fazer caminhada com a gente, reunião, foi convocar pessoas para a nossa campanha. Agradeço muito ao governador Tarcísio por tudo”, disse.
Enquanto o ex-presidente hesitou em apoiar abertamente Nunes no primeiro turno, já que o prefeito causou controvérsia nas redes sociais bolsonaristas por não ser um aliado “raiz”, foi Tarcísio quem garantiu sustentação ao prefeito e se mostrou um padrinho confiável e entrou de cabeça na campanha.
Neste domingo, o governador afirmou sem provas que a facção criminosa PCC orientou voto em Boulos na capital paulista. A declaração foi feita no local de votação de Tarcísio, na zona sul de São Paulo.
O candidato do PSOL classificou a declaração como “irresponsável e mentirosa”. “Este é o laudo falso do segundo turno”, disse Boulos, em referência à publicação de um atestado médico falso por Marçal às vésperas do segundo turno.
Para Eduardo Grin, ele demonstrou capacidade própria de articulação política e um nome forte para 2026.
“O apoio de Tarcísio para o Ricardo Nunes mostra que, politicamente falando, o governador não é mais uma liderança tão dependente quanto foi de Bolsonaro”, analisa.
“Ele adquiriu voos próprios, começou muito apoiado pelo Gilberto Kassab, que vem tentando moderar ou polir a imagem como alguém que é um político não bolsonarista.”
O cientista político destaca uma derrota de Bolsonaro nestas eleições. Isso porque o ex-presidente viu o campo da direita radical se fragmentar e sua influência como cabo eleitoral ser posta à prova.
Ivan Fernandes, professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca a tentativa do governador em tentar caminhar para o centro e se desligar, em um primeiro momento, de alas radicais do bolsonarismo.
O professor da UFABC diz que o governador “nunca foi uma figura super radical” e lembra e sempre foi alguém que conseguiu transitar.
“Mesmo que não sendo um cargo de alto escalão, ele fez parte do governo Dilma e continuou durante o governo Bolsonaro. Ele já teve posturas excessivamente truculentas e podemos discutir até a atuação dele como governador, mas não como ator político.”
Possíveis caminhos da direita em 2026
O pleito paulistano dá pistas de possíveis cenários para 2026.
“É muito provável que um racha à direita, com o Bolsonaro sendo ou não candidato em 2026, continue”, projeta Grin.
Ele diz que a vitória de Nunes mostra a força da “política profissional”, simbolizada na figura de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e que apoiou a campanha de Nunes.
“Estamos lidando com um grande empresário da política, como o Kassab, que entendeu uma coisa muito importante dessa eleição: candidaturas que não caminharem no sentido de gerar grandes coalizões de apoio, a exemplo do João Campos em Recife ou do Eduardo Paes no Rio de Janeiro, estarão fadadas a serem derrotadas eleitoralmente”, afirma.
“Quando o Valdemar Costa Neto, um profissional da política, fala que não quer o bolsonarismo mandando no PL, ou Lula afirma que ele quer fazer alianças com a centro-direita, qual é a conclusão que temos em comum? Todos entenderam que tem que fazer arcos de alianças mais amplos para terem chances de vitória em 2026.”
O cientista político, no entanto, diz que não é correto dizer que o centro prevaleceu sobre os extremos.
“Não tem centro nenhum. União Brasil, Republicanos, as próprias várias alas do PSD são partidos de direita. O que prevaleceu foi outra lógica. Esses partidos, turbinados com muito dinheiro do fundo eleitoral e de vários tipos de emendas que vieram do Congresso, ajudaram a atingir uma taxa de adesão de prefeitos como nunca houve antes.”
Ivan Fernandes também afirma que a eleição municipal acena para novos nomes na direita.
“Ao longo de 30 anos de democracia, na esquerda você não consegue se consolidar sem o apoio do Lula. Na direita, o mesmo acontecia com Bolsonaro. Agora, há indícios que é possível alguém se viabilizar sem o apoio do bolsonarismo.”
O futuro de Nunes
O perfil dos vereadores eleitos neste ano mostra que a gestão do MDB deve ter governabilidade: os partidos da coligação de Nunes terão 36 dos 55 cadeiras a partir do próximo ano.
Ou seja, os aliados do atual prefeito formam 65% da Câmara Municipal, o deve facilitar a aprovação de projetos enviados pelo prefeito.
Por isso, Eduardo Grin diz que Nunes não encontrará dificuldades para governar.
Quanto ao futuro político do prefeito reeleito, Ivan Fernandes acredita que Nunes deve seguir trajetória semelhante à de Gilberto Kassab.
“Não acredito que ele vá ser candidato ao governo estadual. O Tarcísio precisaria viabilizar o sucessor, mas acho que Nunes não é este nome. Meu palpite é que ele seguirá o percurso do Kassab”, diz.
“Ele tem um partido forte, vai se fortalecer ainda mais que são seis anos de gestão em São Paulo, o que lhe dá um orçamento enorme para criar suas redes de apoio e sua clientela política.”
Fernandes projeta que os próximos quatro anos de gestão Nunes serão marcados pela continuidade de suas políticas: forte diálogo com construtoras e parcerias de políticas com o governo de seu agora padrinho, Tarcísio de Freitas.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br
Com amplo apoio da máquina pública, uma coligação que reuniu 12 partidos e apoio firme do governo estadual, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (27).
A reeleição sobre Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno foi confirmada com 89,78% das seções apuradas. No momento da confirmação do TSE, Nunens tinha 59,56% dos votos válidos, contra 40,44% de Boulos.
A vitória de Nunes consagra a “política profissional” na capital paulista, em um pleito marcado pelo impulsionamento da “direita das redes sociais” de Pablo Marçal (PRTB), que conquistou 1,7 milhão de votos no primeiro turno.
Empresário, Nunes foi vereador entre 2013 e 2020, quando foi eleito vice-prefeito da capital paulista na chapa liderada por Bruno Covas (PSDB). Em 2021, assumiu a prefeitura em após a morte de Covas.
O prefeito tinha a legitimidade no Executivo questionada pela oposição nunca ter sido eleito em um pleito majoritário — o que muda com a votação que obteve nas eleições municipais deste ano.
Durante a campanha, o prefeito reeleito desviou de acusações de corrupção e apostou em um discurso que mesclou conservadorismo com pragmatismo administrativo.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil destacam a influência da máquina pública para a vitória nestas eleições e o fortalecimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que sai chancelado como articulador político e um nome possível para disputa presidencial em 2026.
‘Direita da máquina’ x ‘direita das redes’
No ano que três candidatos chegaram empatados no fim do primeiro turno, a vitória de Nunes evidencia que, apesar do crescimento da “direita digital” representada por Marçal, a política tradicional mantém sua força. É o que analisa Hannah Maruci, doutora em Ciência Política pela USP.
“A máquina importa, o tempo de TV ainda importa”, diz. “Quando o candidato que já está no cargo vai para o segundo turno, é muito difícil para outro candidato ganhar”, diz a pesquisadora.
O resultado na capital paulista mostra uma redução da polarização, diz Eduardo Grin, professor de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“A gente esperava uma reprodução na esfera local do que foi [as eleições presidenciais de] 2022, a polarização entre o lulismo e o bolsonarismo. E isso não aconteceu”, afirma o professor.
Para ele, essa polarização não aconteceu pelo fato de Lula e Bolsonaro terem altas rejeições na cidade e participarem das campanhas de maneira tímida.
“Lula tinha limites para entrar na campanha, porque vários partidos que estão apoiando o Nunes estão na sua base de apoio no Congresso Nacional e isso poderia gerar indisposições com o próprio MDB ou com União Brasil, por exemplo. E Bolsonaro não entrou na campanha porque ele sabia que isso significaria carregar de desgastes diretos”, diz.
Maruci pondera que o resultado não significa que o fim da polarização.
“O MDB é um partido não ideológico e o bolsonarismo nunca teve uma associação a um partido. Tanto é que Bolsonaro muda de partido inúmeras vezes. E o próprio Boulos foi alvo desse antipetismo também, embora ele não seja do PT. Então ainda estamos falando de duas forças antagonistas”, pontua.
Tarcísio de Freitas: o grande vencedor
Mas algo é consenso entre os analistas políticos ouvidos pela reportagem: Tarcísio de Freitas sai destas eleições fortalecido.
No segundo turno, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o atual governador de São Paulo e o prefeito reeleito almoçaram e fizeram campanha juntos — mas o grande fiador político da campanha do candidato do MDB foi o governador.
Antes de encontrar Bolsonaro, Nunes destacou o apoio do “grande amigo e irmão” Tarcísio, que esteve “ombro a ombro” com sua campanha.
“Ele é uma grande referência nossa. Foi fazer caminhada com a gente, reunião, foi convocar pessoas para a nossa campanha. Agradeço muito ao governador Tarcísio por tudo”, disse.
Enquanto o ex-presidente hesitou em apoiar abertamente Nunes no primeiro turno, já que o prefeito causou controvérsia nas redes sociais bolsonaristas por não ser um aliado “raiz”, foi Tarcísio quem garantiu sustentação ao prefeito e se mostrou um padrinho confiável e entrou de cabeça na campanha.
Neste domingo, o governador afirmou sem provas que a facção criminosa PCC orientou voto em Boulos na capital paulista. A declaração foi feita no local de votação de Tarcísio, na zona sul de São Paulo.
O candidato do PSOL classificou a declaração como “irresponsável e mentirosa”. “Este é o laudo falso do segundo turno”, disse Boulos, em referência à publicação de um atestado médico falso por Marçal às vésperas do segundo turno.
Para Eduardo Grin, ele demonstrou capacidade própria de articulação política e um nome forte para 2026.
“O apoio de Tarcísio para o Ricardo Nunes mostra que, politicamente falando, o governador não é mais uma liderança tão dependente quanto foi de Bolsonaro”, analisa.
“Ele adquiriu voos próprios, começou muito apoiado pelo Gilberto Kassab, que vem tentando moderar ou polir a imagem como alguém que é um político não bolsonarista.”
O cientista político destaca uma derrota de Bolsonaro nestas eleições. Isso porque o ex-presidente viu o campo da direita radical se fragmentar e sua influência como cabo eleitoral ser posta à prova.
Ivan Fernandes, professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca a tentativa do governador em tentar caminhar para o centro e se desligar, em um primeiro momento, de alas radicais do bolsonarismo.
O professor da UFABC diz que o governador “nunca foi uma figura super radical” e lembra e sempre foi alguém que conseguiu transitar.
“Mesmo que não sendo um cargo de alto escalão, ele fez parte do governo Dilma e continuou durante o governo Bolsonaro. Ele já teve posturas excessivamente truculentas e podemos discutir até a atuação dele como governador, mas não como ator político.”
Possíveis caminhos da direita em 2026
O pleito paulistano dá pistas de possíveis cenários para 2026.
“É muito provável que um racha à direita, com o Bolsonaro sendo ou não candidato em 2026, continue”, projeta Grin.
Ele diz que a vitória de Nunes mostra a força da “política profissional”, simbolizada na figura de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e que apoiou a campanha de Nunes.
“Estamos lidando com um grande empresário da política, como o Kassab, que entendeu uma coisa muito importante dessa eleição: candidaturas que não caminharem no sentido de gerar grandes coalizões de apoio, a exemplo do João Campos em Recife ou do Eduardo Paes no Rio de Janeiro, estarão fadadas a serem derrotadas eleitoralmente”, afirma.
“Quando o Valdemar Costa Neto, um profissional da política, fala que não quer o bolsonarismo mandando no PL, ou Lula afirma que ele quer fazer alianças com a centro-direita, qual é a conclusão que temos em comum? Todos entenderam que tem que fazer arcos de alianças mais amplos para terem chances de vitória em 2026.”
O cientista político, no entanto, diz que não é correto dizer que o centro prevaleceu sobre os extremos.
“Não tem centro nenhum. União Brasil, Republicanos, as próprias várias alas do PSD são partidos de direita. O que prevaleceu foi outra lógica. Esses partidos, turbinados com muito dinheiro do fundo eleitoral e de vários tipos de emendas que vieram do Congresso, ajudaram a atingir uma taxa de adesão de prefeitos como nunca houve antes.”
Ivan Fernandes também afirma que a eleição municipal acena para novos nomes na direita.
“Ao longo de 30 anos de democracia, na esquerda você não consegue se consolidar sem o apoio do Lula. Na direita, o mesmo acontecia com Bolsonaro. Agora, há indícios que é possível alguém se viabilizar sem o apoio do bolsonarismo.”
O futuro de Nunes
O perfil dos vereadores eleitos neste ano mostra que a gestão do MDB deve ter governabilidade: os partidos da coligação de Nunes terão 36 dos 55 cadeiras a partir do próximo ano.
Ou seja, os aliados do atual prefeito formam 65% da Câmara Municipal, o deve facilitar a aprovação de projetos enviados pelo prefeito.
Por isso, Eduardo Grin diz que Nunes não encontrará dificuldades para governar.
Quanto ao futuro político do prefeito reeleito, Ivan Fernandes acredita que Nunes deve seguir trajetória semelhante à de Gilberto Kassab.
“Não acredito que ele vá ser candidato ao governo estadual. O Tarcísio precisaria viabilizar o sucessor, mas acho que Nunes não é este nome. Meu palpite é que ele seguirá o percurso do Kassab”, diz.
“Ele tem um partido forte, vai se fortalecer ainda mais que são seis anos de gestão em São Paulo, o que lhe dá um orçamento enorme para criar suas redes de apoio e sua clientela política.”
Fernandes projeta que os próximos quatro anos de gestão Nunes serão marcados pela continuidade de suas políticas: forte diálogo com construtoras e parcerias de políticas com o governo de seu agora padrinho, Tarcísio de Freitas.
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