O senador Paulo Paim (PT-RS) repudiou nesta segunda-feira (14/4), por meio de suas redes sociais, a sugestão do economista Armínio Fraga de congelar o salário mínimo por seis anos. A crítica do parlamentar ocorre na esteira da repercussão negativa provocada pelas declarações do ex-presidente do Banco Central, feitas no fim de semana, durante a Brazil Conference, evento promovido por brasileiros nas universidades de Harvard e MIT, nos Estados Unidos.
Paim reafirmou que é por meio do salário mínimo que o país se desenvolve e a economia gira. “Absurdo falar em congelar o salário mínimo por 6 anos. Ele beneficia 80 milhões de trabalhadores, fortalece o mercado interno, distribui renda e reduz desigualdades. Todos ganham: trabalhador com mais dinheiro, comércio vendendo mais e municípios arrecadando melhor”, escreveu o senador.
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, provocou Fraga, questionando-o se ele conseguiria viver com o salário mínimo por seis anos. “A elite brasileira perdeu a vergonha de vez e resolveu assumir, sem pudor, sua origem escravocrata. O desespero desses parasitas do mercado financeiro é que Lula vai ganhar de novo”, publicou.
A deputada Duda Salabert (PDT-MG), por sua vez, disse que o trabalhador é sempre o primeiro a ser punido. “Assim se comporta a lógica neoliberal do ‘mercado’: todas as vezes que a crise se aproxima, as soluções apresentadas são para ferir de morte o trabalhador. Para os ricos, subsídios e isenções. Parta os pobre, o arrocho”, criticou na sua página do X (antigo Twitter).
A Associação Brasileira dos Economistas pela Democracia (Abed) também se manifestou, divulgando nota na qual rejeita de forma veemente a sugestão de Fraga, classificada pela entidade como “elitista, cruel e inaceitável”. Segundo a associação, o economista, ao propor o congelamento do piso nacional, desconsidera o impacto social e econômico da política de valorização do salário mínimo.
“Mais uma vez, setores das elites financeiras brasileiras tentam jogar o peso do ajuste fiscal nas costas dos trabalhadores, poupando a si próprios de qualquer responsabilidade”, disse a nota, que também criticou a omissão de Fraga sobre temas como juros elevados e benefícios fiscais às grandes fortunas. “Em vez de enfrentar esses interesses, preferem mirar o salário mínimo — o principal instrumento de distribuição de renda e combate à desigualdade no Brasil.”
Combinação de cortes
A proposta de Fraga foi apresentada no sábado (13), durante painel sobre economia brasileira. O economista afirmou que o país vive uma “situação fiscal explosiva” e que medidas duras seriam necessárias. Ele propôs uma combinação de cortes: congelamento do salário mínimo por seis anos, redução de gastos tributários em 2% do PIB e reformas na folha de pagamento do setor público. “A receita é: congela o salário mínimo e reduz os gastos tributários em 2% do PIB. Isso daria 3% do PIB e o Brasil virava o jogo”, declarou.
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Fraga apontou que a folha salarial de servidores e a Previdência consomem cerca de 80% do gasto público. Segundo ele, sem mudanças estruturais, o país continuará enfrentando crescimento baixo e desequilíbrio fiscal. “A conta não fecha”, disse, ao criticar a discrepância entre o crescimento econômico — estimado em 2% a 2,5% — e os juros pagos pelo governo em títulos da dívida, na faixa de 7% ao ano.
A Abed, no entanto, vê a proposta como mais um ataque a políticas sociais e recorda que, durante os governos Temer e Bolsonaro, o congelamento do salário mínimo foi implementado sem melhora no cenário fiscal. “A situação fiscal não melhorou — ao contrário, ela se agravou. O congelamento dos salários não trouxe o equilíbrio prometido e ainda aprofundou a desigualdade, desvalorizou o trabalho e estrangulou a renda de milhões de brasileiros”, destacou no texto.
A entidade fez referência ao programa “Uma Ponte para o Futuro”, do governo Michel Temer, como exemplo de agenda econômica que interrompeu a valorização do salário mínimo e promoveu o desmonte de políticas sociais. “Rejeitamos com firmeza qualquer proposta que retire direitos e agrave a desigualdade. Quem deve pagar pela crise são aqueles que mais lucram com ela”, concluiu a nota.
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