O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes declarou, à revista americana “The New Yorker”, que as plataformas responsáveis por redes sociais “querem controlar o mundo” e driblar jurisdições nacionais. Na entrevista, divulgada nesta segunda-feira, Moraes também referiu-se especificamente à rede social do empresário Elon Musk e afirmou que se o alemão Joseph Goebbels, ministro da propaganda do ditador Adolf Hitler, “tivesse acesso ao X, (…) os nazistas teriam conquistado o mundo”.
Moraes foi alvo de uma ofensiva de Musk nos últimos meses e chegou a determinar o bloqueio do X no Brasil, sob a alegação de que a rede social vinha descumprindo a legislação brasileira.
À publicação americana, Moraes estabeleceu um marco temporal para a força das redes sociais na Primavera Árabe, que se desenrolou na década passada, e afirmou que “a extrema-direita percebeu” na ocasião que as plataformas “poderiam mobilizar as pessoas sem intermediários”.
“Inicialmente, os algoritmos foram aprimorados com propósitos econômicos, para atrair consumidores. Depois as pessoas perceberam o quão fácil era redirecionar isto em prol do poder político. (…) Se Goebbels fosse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos perdidos. Os nazistas teriam conquistado o mundo”, afirmou Moraes, de acordo com a publicação.
Descrito pela “New Yorker” como um “juristas combativo que é por vezes descrito como o segundo homem mais poderoso do Brasil”, Moraes afirmou que as redes sociais são hoje “o maior poder de todos”:
“Elas não apenas influenciam as pessoas, mas também geram a maior parte de receita publicitária do mundo, o que lhes confere poderio financeiro para influenciar eleições. (As big techs) desejam criar uma nova Companhia das Índias Orientais e controlar o mundo. Elas não querem respeitar a jurisdição de nenhum país, porque, na verdade, elas buscam se tornar imunes às nações”, disse o ministro.
Nas declarações à revista americana, Moraes também afirmou que a extrema direita pratica um tipo de populismo “altamente inteligente e estruturado” que, em vez de se opor frontalmente ao sistema democrático, “alega que as instituições democráticas estão corrompidas”, numa tentativa de angariar apoio público. O ministro também argumentou que não só o Brasil, mas também os Estados Unidos “ainda não aprenderam como reagir” a isto.
Questionado ainda pela “New Yorker” sobre a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser condenado no inquérito da tentativa de golpe, Moraes lembrou que o julgamento ainda irá ocorrer e não antecipou posicionamento.
O ministro frisou, por outro lado, que Bolsonaro tem duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornam inelegível até 2030, e que apenas o STF poderia reverter essas sentenças; Moraes disse não ver “a menor possibilidade de que isto aconteça”.
Ele também ponderou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou um dos filhos do ex-presidente podem concorrer à Presidência em 2026 com o apoio do ex-presidente. Moraes avaliou à revista americana que “nenhum deles, seja seus filhos ou sua mulher, têm o mesmo relacionamento com as Forças Armadas que ele (Bolsonaro) teve”.
Ouvido na mesma reportagem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou à New Yorker que se preocupa com um “enfraquecimento do sistema democrático” na Europa e em outros países da América Latina, referindo-se à ascensão de lideranças que classifica como de “direita autoritária”. Lula criticou ainda informações de que o serviço de satélite da Starlink, que também pertence a Musk, foi usado em áreas de garimpo ilegal na Amazônia.
O presidente afirmou ter notado a “predominância das antenas de Musk” em uma viagem recente à Amazônia:
“Nós não deixaremos que alguém que odeia a nossa administração, que odeia a democracia e o nosso sistema de justiça tome controle da informação de um país e de uma região como a Amazônia”, declarou Lula, segundo a New Yorker.
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