Produtores de petróleo do Texas, tradicionalmente aliados do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, demonstraram frustração com a queda acentuada nos preços da commodity provocada pela guerra comercial iniciada pelo presidente. Nesta quarta-feira, o preço do petróleo chegou a ser negociado abaixo de US$ 60, o menor patamar em quatro anos, em meio aos temores de que o mundo mergulhe numa recessão provocada pelo tarifaço de Trump.
Durante torneio de golfe da Associação dos Produtores de Petróleo da Bacia do Permiano, em Odessa, no Texas, o clima era de preocupação: mais do que tacadas ou bolas perdidas, o que incomodava era o impacto negativo das taxações sobre o mercado de energia.
A derrocada do mercado está afetando quase todos os setores da economia, mas há poucas indústrias se sentindo tão prejudicadas quanto a do petróleo de xisto dos EUA. Este tipo de petróleo tem um custo de produção mais elevado, então, quando as cotações da commodity no exterior recuam, a exploração pode se tornar inviável.
Nos últimos 15 anos, esta indústria transformou o país no maior produtor mundial de petróleo bruto, reduziu os custos de energia e impulsionou um boom em petroquímicos e exportações de gás natural. Ela também contribuiu fortemente para a campanha eleitoral de Trump.
Ainda assim, metade das 20 ações com pior desempenho no índice S&P 500 desde que Trump anunciou suas tarifas em 2 de abril pertencem ao setor de petróleo, gás e petroquímica, enquanto os preços da commodity despencaram para o menor nível em quatro anos.
– Eu não conheço uma indústria que tenha apoiado mais o Trump do que a de petróleo e gás – disse Kirk Edwards, ex-presidente da associação de petróleo que participou do torneio na segunda-feira, na cidade de Odessa, no oeste do Texas, situada no coração da Bacia do Permiano. – As pessoas estão em choque com a rapidez com que ele consegue derrubar o preço do petróleo – acrescentou.
A crescente inquietação reflete como o esforço de Trump para reescrever as regras do comércio global está minando sua meta de turbinar a produção de combustíveis fósseis dos EUA e alcançar a “dominância energética”.
Executivos estão relutantes em aumentar a oferta de petróleo dos EUA com as cotações do barril do tipo leve americano, referência no mercado local, em queda de cerca de quase 30% desde a posse de Trump, há menos de três meses. O preço agora está em torno de US$ 57, abaixo do nível que eles dizem ser necessário para que novos poços sejam viáveis, segundo pesquisa do Federal Reserve Bank de Dallas.
Para piorar, a Opep, cartel que reúne os maiores exportadores globais de petróleo, prometeu na semana passada antecipar um aumento de produção previamente programada para maio. O cartel anunciou isso poucas horas depois de Trump divulgar suas tarifas.
— Essas duas coisas juntas foram um choque para toda a indústria— disse Linhua Guan, CEO da produtora de petróleo Surge Energy, com sede em Houston.
O presidente sempre deixou claro sua posição sobre os preços do petróleo. Durante a campanha no outono passado, Trump disse que não se importava se as empresas petrolíferas acabassem quebrando, contanto que os preços caíssem. Agora, enquanto os executivos do setor assistem com apreensão à queda nos preços, Trump comemora alegremente o fato. Ele prevê que a gasolina pode chegar ao menor valor em anos.
— Vai ficar na faixa de US$ 2,50 por galão, talvez até menos — disse Trump a repórteres na segunda-feira no Salão Oval. — Estamos realmente indo muito bem. Quer dizer, estamos reduzindo os preços.
Os preços da gasolina ainda estão bem acima de US$ 2,50 na maior parte dos EUA. Mas o fato de o presidente estar comemorando uma queda ainda maior não agrada à indústria do petróleo.
Vários executivos seniores do setor, que pediram anonimato ao criticar o presidente em meio à disputa comercial, expressaram frustração com Trump por continuar falando mal do preço da principal mercadoria deles, mesmo reconhecendo seus esforços para cortar regulações, facilitar licenças e liberar mais terras federais para exploração.
Mesmo antes do anúncio do tarifaço ajudar a derrubar as cotações de petróleo, executivos do setor já demonstravam irritação om o Trump em conversas privadas. Em pesquisa de 26 de março do Federal Reserve Bank de Dallas, executivos do setor de xisto enviaram uma série de comentários anônimos criticando a agenda tarifária do presidente, com um deles chamando-a de “um desastre para os mercados de commodities“.
Então, no domingo, o presidente da Diamondback Energy — maior produtora independente de petróleo da Bacia do Permiano — usou a plataforma social X, enquanto os preços do petróleo despencavam, para dizer “é melhor que [o governo Trump] tenha um plano”.
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— Trump é de Nova York, ele é um yankee — disse Bryan Sheffield, sócio da Formentera Partnersm, uma firma de investimentos em energia com sede em Austin. — Não tenho certeza se ele está tão próximo da nossa indústria quanto achávamos.
Os contratos futuros de petróleo dos EUA caíram pelo quinto dia consecutivo na quarta-feira, sendo negociados a US$ 57,72 às 9h41 em Nova York. A última vez que os preços atingiram esses níveis foi no início de 2021. Algumas das maiores empresas de perfuração de xisto, incluindo APA, Occidental Petroleum e Diamondback, estavam entre as companhias de energia com pior desempenho na quarta-feira.
Se os preços caírem para US$ 50 por barril, a produção de petróleo nos EUA pode cair mais de 1 milhão de barris por dia nos próximos 12 meses, segundo a S&P Global Commodity Insights. Isso equivale a cerca de 7% da produção total dos EUA.
— Você vai ser espremido tanto pelos preços quanto pelos custos de insumos — disse Haag Sherman, CEO da Tectonic Financial, um banco com sede em Houston, alertando que se os preços continuarem baixos, novos investimentos devem ser suspensos no segundo semestre.
Mesmo que os preços voltem a US$ 65, os operadores de xisto provavelmente desligariam 25 sondas de perfuração e manteriam a produção de petróleo dos EUA estável, alertaram analistas do Citigroup no mês passado.
A queda seria ainda mais prejudicial porque a produção dos poços de xisto diminui muito mais rápido do que a dos poços convencionais no Golfo do México ou em outros lugares, caindo 60% ou mais no primeiro ano. Isso significa que é preciso perfurar novos poços apenas para manter a produção estável.
— Você vai ver a Bacia do Permiano começar a declinar com o barril a US$ 50 — disse Sheffield. — Uma vez que isso começar, será impossível voltar a aumentar a produção.
Com seus poços de fácil perfuração, a Bacia do Permiano e outras regiões de xisto transformaram os EUA em um produtor flexível no mercado global de petróleo, capaz de aumentar rapidamente a oferta quando a demanda dispara. No entanto, uma queda significativa na produção poderia colocar isso em risco.
Menor atividade de perfuração significa perda de empregos, sondas paradas e uma possível erosão da capacidade produtiva caso os preços do petróleo voltem a subir, como aconteceu após a Covid-19.
— Não acho que o governo entenda que temos uma base de funcionários e serviços excelente — disse Edwards, o ex-presidente da associação que hoje dirige uma pequena produtora independente.
Uma das companhias mais afetadas pela queda dos preços do petróleo é a Liberty Energy, empresa de fraturamento hidráulico anteriormente liderada pelo secretário de Energia dos EUA, Chris Wright. As ações caíram 37% desde os anúncios tarifários de 2 de abril.
— Esses são tempos críticos, e Chris Wright sabe disso — disse Edwards. — Ele é um dos nossos.
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