— Eu disse às famílias, e repito e digo esta noite: estou pedindo perdão a vocês por não termos conseguido trazê-los de volta vivos. Estivemos muito perto, mas não conseguimos — declarou, prometendo também uma “forte reação” contra o Hamas: — Repito esta noite, Israel não vai ignorar esse massacre. O Hamas pagará um preço alto por isso, um preço muito alto.
Segundo Netanyahu, combatentes do Hamas “executaram” os seis reféns cujos corpos foram encontrados na véspera em um túnel na Faixa de Gaza e levados para Israel com um “tiro na nuca”.
— Estes assassinos executaram seis de nossos reféns disparando-lhes um tiro na nuca — afirmou, refutando a ideia de que Israel deveria responder com “concessões” às negociações por um cessar-fogo em Gaza. — Que mensagem isso enviaria ao Hamas [se cedêssemos sob pressão após a morte de mais reféns]? Mate os reféns e você terá concessões?
Mais cedo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou Netanyahu de não estar fazendo o suficiente para chegar a um acordo sobre a libertação dos reféns. O premier israelense, por sua vez, insistiu durante a coletiva de imprensa que ninguém está mais comprometido com isso do que ele, chamando de “vergonhosas” as críticas à sua abordagem de um acordo de cessar-fogo.
Netanyahu também disse que concordava com a trégua proposta por Biden em 31 de maio e com as mediações realizadas em agosto, e novamente culpou o Hamas pelo fracasso das tratativas. E estabeleceu como condição para uma trégua a presença militar israelense na fronteira de Gaza com o Egito, uma posição que tem sido fortemente criticada. Nesta segunda, Netanyahu rebateu as críticas públicas reiterando seu argumento de que somente o controle israelense impedirá o Hamas de se rearmar.
— Se sairmos, não poderemos voltar — acrescentou, apontando para um mapa do território.
Abu Obeide, porta-voz das Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas, disse nesta segunda-feira que os reféns mantidos na Faixa de Gaza voltarão “em caixões” se Israel mantiver sua pressão militar. Segundo ele, o grupo emitiu “novas instruções” para seus agentes sobre como lidar com os reféns se as forças israelenses se aproximarem dos locais de detenção.
— A busca incessante de Benjamin Netanyahu para libertar os prisioneiros [reféns] por meio de pressão militar, em vez de chegar a um acordo, significa que eles voltarão para suas famílias em caixões — declarou Obeid, reiterando a culpa de Israel pela morte dos reféns.
Alguns milhares de manifestantes se reuniram em frente à residência de Netanyahu nesta segunda-feira, muitos segurando bandeiras amarelas que simbolizam a luta pela libertação dos reféns. Segundo relatos do jornal americano New York Times, o grupo conseguiu romper a primeira linha policial que protegia o local e avançou em direção ao apartamento da família do primeiro-ministro carregando caixões que simbolizam os seis reféns mortos encontrados recentemente em Gaza.
O clima de revolta é maior do que nas últimas semanas, e até mesmo domingo, quando dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas de cidades israelenses para reivindicar que o governo aceite imediatamente um acordo para a libertação dos reféns retidos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro do ano passado, quando o Hamas lançou um ataque sem precedentes no sul de Israel.
As manifestações eclodiram depois de o Exército do país anunciar a recuperação dos corpos de seis reféns recentemente mortos no enclave palestino. À rede americana CNN, o Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos, que representa alguns dos parentes, afirmou que os atos de domingo reuniram mais de 700 mil pessoas, 550 mil só em Tel Aviv, mas a polícia israelense evitou fornecer estimativas.
Em reação ao anúncio da morte dos reféns, a Histadrut, principal central sindical de Israel convocou uma greve geral para esta segunda-feira. Várias regiões aderiram, incluindo Tel Aviv e Haifa, onde escolas permaneceram fechadas — Jerusalém e Asquelom, porém, não aderiram. Os transportes públicos, geridos por empresas privadas, foram parcialmente afetados. Bancos, alguns grandes shoppings e repartições públicas também aderiram à greve, e equipes médicas de vários hospitais reduziram alguns serviços não urgentes. Companhias aéreas no principal aeroporto internacional de Israel, o Ben-Gurion, interromperam decolagens entre 8h e 10h (2h e 4h em Brasília), e viajantes foram vistos em filas nos balcões de check-in, publicou a Associated Press. Pousos continuaram durante esse período, segundo a Autoridade de Aeroportos de Israel.
Líderes sindicais concordaram em interromper a paralisação às 14h30 locais (8h30 em Brasília), três horas e meia antes de seu fim previsto, mas mais de oito horas depois de seu início, após uma corte trabalhista em Tel Aviv determinar seu encerramento, afirmando que a Histadrut não havia avisado da greve com antecedência suficiente. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, celebrou a decisão da Justiça no X, escrevendo que o governo não permitirá “que a economia israelense seja prejudicada”, servindo “aos interesses de Yahya Sinwar [líder do Hamas]”.
A paralisação foi a maior em Israel desde março de 2023, quando manifestantes protestaram contra as tentativas de Netanyahu de reformar o Judiciário para diminuir o poder de supervisão dos tribunais sobre as decisões do governo. Apesar do fim da greve, o Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, que representa parte dos parentes dos sequestrados, pediu que manifestantes permanecessem nas ruas. “Isso não é sobre uma greve, é sobre salvar a vida dos reféns que foram negligenciados por Netanyahu”, escreveu o grupo em comunicado.
Pelo menos sete pessoas que participavam dos protestos em Israel foram detidas nesta segunda-feira em Tel Aviv por “violação da ordem pública e perturbação do tráfego”, disse a polícia em nota. De acordo com as autoridades locais, dezenas de manifestantes bloquearam a passagem de veículos usando granadas de fumaça. “Forças policiais que chegaram rapidamente ao local atuaram para dispersar os tumultuadores e restaurar o tráfego ordenado”, continuou o texto.