Que as famílias brasileiras se apaixonaram pelos pets, não é novidade. Mas, agora, com os tutores cada vez mais preocupados com a qualidade de vida de seus cães, gatos e todo tipo de bichinho de estimação, surge um novo mercado: o dos cuidados de luxo para os animais domésticos.
Ração premium e brinquedinhos sofisticados já não são suficientes. Os pets têm agora sessões de acunputura, quiropraxia e cromoterapia. E até academias especializadas para algumas raças, como os centros de CrossPit (o CrossFit para Pitbulls e cães mais corpulentos).
Dados de 2023 levantados pela PetFuture, empresa de inteligência de mercado e consultoria do Gouvêa Ecosystem, mostram que 68% das pessoas têm algum animal doméstico. A pesquisa revela ainda uma tendência de humanização dos pets no país, que passam a permanecer cada vez mais dentro de casa — 43% dos entrevistados dizem que mantêm seus animais em espaços internos.
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Os tutores também dizem ter um relacionamento de companheirismo com os pets, considerando cachorros e gatos membros da família. Além disso, 22% dos entrevistados pretendem aumentar o consumo de produtos e serviços para animais de estimação. O levantamento ouviu três mil pessoas de 18 a 65 anos.
Na piscina com ‘aumigos’
Todas as manhãs, a empresária Luciana Gaspary, de 46 anos, leva Zion, um American Staffordshire Terrier de três anos, até a escolinha. Ao longo do dia, acompanha imagens dele tomando banho de mangueira, virando pneus e até nadando na piscina junto aos monitores ou “aumigos”.
Zion frequenta a CrossPit, creche para cachorros de raças como Pitbull, American Bully e Bull Terrier, que normalmente não podem se matricular em estabelecimentos convencionais. A escolinha foi criada pela empresária Elisa de Almeida em 2021 como forma de homenagear a cadela Teresa, que a ajudou a superar uma depressão — e após perceber como os donos de cães mais “fortinhos” eram hostilizados ao passear com seus pets.
— As pessoas saíam quando eu chegava com ela na pracinha. Minha cachorra é um doce e as pessoas não davam oportunidade para ela. Vi que outros pais tinham o mesmo problema — diz Elisa.
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Foi apenas em 2023 que a creche ganhou espaço permanente em um terreno de 500 metros quadrados, com piscina para aulas de natação, pista de corrida e brinquedos resistentes. Tudo construído com revestimentos reforçados.
Desde que a empresa foi criada, o faturamento dobrou. Atualmente, a escolinha recebe de 15 a 20 cachorros por dia. A mensalidade varia de R$ 675 (com dois dias na semana) a R$ 1.299 (com cinco dias na semana).
Luciana decidiu matricular o Zion depois que ele foi recusado em outra creche e não se deu bem com o líder da matilha em uma segunda escolinha. Nenhuma das outras empresas que encontrou estava equipada com brinquedos capazes de aguentar a força de cães como ele.
Da mesma dona do CrossPit, a Dog House, uma creche tradicional para cachorros, também oferece mimos mais ofisticados: banhos de ofurô a cada semana, com direito a sais para relaxar e hidratar os pelos. Dá até para personalizar a experiência, com água ozonizada.
A Vet Care Prime, em Belo Horizonte, oferece banhos com cromoterapia, para auxiliar no tratamento do estresse. Já a Bem-estar Animal Medicina Veterinária Integrativa, em Botafogo, no Rio de Janeiro, combina tratamentos tradicionais com técnicas da medicina chinesa, como acupuntura e massagem.
A empresa, que oferece pacotes a partir de R$ 800 com quatro sessões, planeja expandir para outras espécies, como aves, répteis e quelônios.
— Também temos hidroterapia e a medicina canabidiol, para dores crônicas e problemas convulsivos — diz a CEO Jaqueline Freitas.
Depois de 30 anos trabalhando em empresas automotivas, Themis Regina mudou de rumo para se dedicar aos animais. Foi aos Estados Unidos e ao Reino Unido para estudar massagem para pets, para fundar a Anima Therapy em 2015.
Cerca de 80% do faturamento da empresa vem de pacientes que fazem massagens para tratar problemas de saúde, como dores musculares e edemas. Mas Themis também faz massagens relaxantes, para reduzir ansiedade e estresse.
As sessões custam R$ 230 para pacientes que moram nas proximidades e ocorrem uma vez por semana, em casa. A quantidade de encontros varia conforme o progresso do animal no tratamento. Um dos clientes é o cachorrinho George Harrison:
— Nos primeiros três meses, a Themis só conseguia encostar nele com o pé. Foi indo, até conseguir fazer a massagem. O George mudou completamente. Deixa as pessoas fazerem carinho e até busca a bolinha para fazer amizade — diz a tutora Adriana Correias, de 56 anos.
Gastos de R$ 2 mil por mês
A outra cadelinha de Adriana, Nina, também tem cuidados especiais: faz sessões de fisioterapia e laserterapia para dores musculares e problemas na coluna. O gasto com eles é de aproximadamente R$ 2 mil mensais, sem contar o custo da alimentação e dos quatro gatos da casa.
Em caso de doenças, a turma se consulta com uma veterinária que usa nutracêuticos (extratos de alimentos nutritivos) e evita medicamentos tradicionais.
— Tenho animais a minha vida inteira. Com a pandemia, olhamos e convivemos mais com o animal. Trouxe atenção para as necessidades deles — diz Adriana.
Isso não aconteceu somente com ela. Houve um boom no mercado de cuidados para animais domésticos durante a pandemia, diz André Ferreira, sócio e diretor da PetFuture. Nos próximos anos, cães e gatos devem passar a ter acesso a tratamentos e hobbies cada vez mais semelhantes aos dos humanos:
— Com as pessoas se cuidando mais, indo para a academia, se abre um espaço para maiores cuidados com o pet, para que tenham uma velhice com qualidade de vida. Alimentação natural e personalizada, suplementação e terapias com massagem, acupuntura, e quiropraxia estão crescendo — diz Ferreira.
Atualmente, o quiroprata Luiz Stetner atende 15 pacientes por semana, número quatro vezes maior em comparação com o que atendia em 2016, quando deixou o hipismo.
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Formado em veterinária, ele trabalhava como cavaleiro profissional e costumava acompanhar sessões de quiropraxia nos cavalos que montava. Notou como os animais relaxavam após a massagem e viu uma oportunidade.
— Atendo cachorros e cavalos, fora alguns gatos. Para os cavalos, a quiropraxia ajuda no desempenho em competições. No caso dos pets, atendo animais com dores e doenças ou que os donos querem proporcionar mais qualidade de vida — diz Stetner, que também atua com osteopatia e quadruplicou o número de atendimentos semanais de 2016 para cá, faturando entre R$ 25 mil e R$ 35 mil mensais.