As Forças Armadas de Israel anunciaram nesta terça-feira o resgate de um cidadão do país que era mantido como refém do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza desde 7 de outubro, quando a organização realizou o ataque sem precedentes contra o território israelense, matando cerca de 1,2 mil pessoas, sequestrando outras 250 e desencadeando a guerra atual. Kaid Farhan Elkadi, de 52 anos, é o primeiro árabe-israelense e o oitavo refém a ser resgatado em mais de dez meses.
Soldados de Israel e forças especiais encontraram Elkadi sem querer enquanto vistoriavam uma rede de túneis de combatentes do Hamas durante uma “operação complexa” em Rafah, extremo sul do enclave palestino, de acordo com dois funcionários graduados que falaram ao jornal The New York Times sob condição de anonimato. Ele estava sozinho em um quarto a quase 23 metros de profundidade.
Mas, de acordo com o principal porta-voz do Exército de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, as forças alcançaram o refém depois que “informações precisas” foram coletadas pelos serviços de segurança do Estado judeu. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, escreveu que Israel está “comprometido em aproveitar todas as oportunidades para trazer os reféns de volta para as suas casas”.
Segundo o Exército israelense, o homem, que foi levado a um hospital, está em “condição médica estável”. Como não havia ninguém fazendo a segurança do local, ele foi resgatado sem nenhum combate, disseram as fontes ao jornal americano, e não houve relatos de bombardeios intensos em Gaza nesta terça-feira — o Hamas já afirmou que muitos dos sequestrados foram mortos em ataques aéreos e operações de resgate anteriores acabaram deixando vários palestinos mortos. Em dezembro, tropas de Israel mataram por engano três israelenses que escaparam do cativeiro.
O resgate ocorre enquanto não arrefece a pressão para que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chegue a um acordo para pôr fim à guerra e libertar estimados 108 reféns que ainda permanecem no enclave palestinos, dos quais aos menos 40 são dados como mortos pelas autoridades israelenses. Em novembro, 105 pessoas que estavam presas no enclave foram libertadas durante um cessar-fogo de uma semana entre Israel e o Hamas.
Esforços diplomáticos intensos do governo Joe Biden e do Egito e Catar fracassaram em pôr fim às diferenças entre Israel e Hamas, incluindo divergências com a insistência de Netanyahu de que alguns soldados israelenses fiquem em Gaza depois do fim do conflito.
Elkadi era um dos oito membros da empobrecida minoria árabe beduína de Israel que foram sequestrados no atentado terrorista de 7 de outubro, que também deixou 17 mortos entre seus membros. Ele trabalhava como segurança numa fábrica de embalagens em Magen, um pequeno kibutz perto da fronteira com Gaza, quando foi sequestrado. Segundo a Associated Press, Elkadi tem duas esposas e é pai de 11 filhos.
O Canal 12 de Israel mostrou familiares do homem correndo pelo hospital em que ele estava após receberem a notícia. O irmão dele, Hatem, disse aos repórteres que os parentes viram Elkadi desembarcar de um helicóptero e caminhar até a ambulância que o levou para a unidade de saúde. A mídia israelense exibiu imagens em que Elkadi aparenta estar magro, mas sorri ao lado da família.
— Não sei explicar esse sentimento, é melhor até do ver um bebê nascer — disse Hatem. — Estamos muito empolgados para abraçá-lo, vê-lo e dizer que estamos todos aqui com ele. Esperamos vê-lo em breve saudável. Desejamos que todos os reféns voltem para casa para que as famílias possam experimentar essa felicidade.
Familiares de refém resgatado por forças de Israel correm para encontrá-lo
Muitos analistas militares afirmam que, embora Israel possa libertar alguns reféns em operações de resgate, a única maneira de trazer todos os sequestrados — vivos e mortos — é por meio de um acordo com o Hamas. Pelo menos quatro cidadãos árabes de Israel ainda permanecem cativos no enclave. Três foram sequestrados durante os ataques do Hamas em outubro, enquanto um quarto, Hisham al-Sayed, está preso no território palestino há quase uma década. Autoridades israelenses dizem que os reféns são mantidos em vários locais de Gaza, inclusive na rede de túneis subterrâneos do grupo.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse estar “muito feliz” com o “bem-sucedido resgate” de Elkadi. Ele parabenizou as Forças Armadas do país, além do Shin Bet (o serviço de segurança interna israelense), e reiterou seu apelo pelo retorno dos reféns que ainda estão “cruelmente em cativeiro” em Gaza. Na sequência, Netanyahu declarou, em vídeo, que as autoridades trabalham “incansavelmente para devolver todos os sequestrados” a suas famílias.
— Nós operamos de duas formas principais: por meio de negociações e operações de resgate. Ambas as formas exigem nossa presença militar no terreno [palestino], além de uma pressão militar incessante sobre o Hamas. Continuaremos agindo assim até levarmos todos para casa — afirmou o Netanyahu, que também conversou por telefone com Elkadi e disse a ele que “toda a nação de Israel está animada” com o resgate.
O Fórum de Famílias de Desaparecidos e Reféns comemorou a notícia, mas enfatizou que um acordo é necessário para garantir a libertação dos demais sequestrados. Em comunicado, a organização afirmou que Elkadi “suportou 326 dias em cativeiro” e que seu retorno para casa era “nada menos do que milagroso”, mas que é “preciso lembrar que as operações militares sozinhas não podem libertar os 108 reféns restantes”. “Um acordo negociado é o único caminho a seguir”, continuou o fórum.
Hamas liberta primeiro grupo de reféns após acordo de cessar-fogo temporário com Israel; veja
13 israelenses foram entregues à Cruz Vermelha, ainda em Gaza, e cruzaram a fronteira com o Egito
Na semana passada, o Exército de Israel anunciou ter recuperado os cadáveres de seis reféns na Faixa de Gaza em uma operação conjunta em Khan Younis, sul do enclave palestino, com os serviços de inteligência israelenses. Trata-se dos corpos de Alex Dancyg, de 75 anos, Chaim Peri, de 79, Yagev Buchshtab, de 35, Yoram Metzger, de 80, e Nadav Popplewell, de 51, que já haviam sido declarados mortos nos últimos meses, e de Avraham Munder, de 79.
Os Estados Unidos têm expressado uma cautelosa nota de otimismo sobre os esforços para garantir um cessar-fogo em Gaza. Nesta segunda-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, disse que “continua existindo progresso” e que as negociações envolveriam “grupos de trabalho” por vários dias. Um ponto central nas conversas sobre o assunto tem sido a insistência de Israel em manter o controle do chamado Corredor da Filadélfia, na fronteira de Gaza com o Egito, para impedir o rearmamento do Hamas — algo que o grupo e o Cairo se recusam a aceitar, segundo a mídia estatal egípcia.
A retaliação de Israel em Gaza matou mais de 40 mil palestinos, segundo autoridades locais de saúde, que não especificam quantos eram combatentes. Também deslocou 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza de suas casas e causou grande destruição em todo o território, o que fez com que diversos grupos de direitos humanos emitissem alertas sobre o cenário de desastre humanitário na região. O Hamas espera trocar os reféns por um cessar-fogo duradouro, a retirada das tropas israelenses de Gaza e a libertação de um grande número de prisioneiros palestinos. As negociações estão em andamento no Egito nesta semana.
(Com AFP e New York Times)