As operações de ajuda humanitária da ONU em Gaza foram interrompidas nesta segunda-feira, após Israel emitir novas ordens de evacuação para Deir al-Balah, no centro do enclave palestino, na noite de domingo. À agência de notícias Reuters, um alto funcionário das Nações Unidas afirmou que o órgão não é capaz de trabalhar diante das “condições atuais”.
— Não estamos saindo de Gaza porque as pessoas precisam de nós lá — disse. — Estamos tentando equilibrar a necessidade da população com a necessidade de segurança dos funcionários da ONU — continuou ele, pontuando que os trabalhadores das Nações Unidas em campo foram orientados a tentar encontrar uma maneira de continuar operando.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em outubro, a ONU teve que “atrasar ou pausar” ocasionalmente suas operações, “mas nunca o ponto de dizer concretamente que já não pode fazer nada” como agora. Segundo o funcionário, o órgão transferiu suas principais operações e a maior parte dos funcionários para Deir al-Balah após Israel ordenar a evacuação de Rafah, no sul de Gaza, em maio.
— Para onde vamos agora? — questionou ele, acrescentando que os funcionários da ONU tiveram que ser movidos tão rapidamente que deixaram equipamentos para trás. — O desafio é encontrar um lugar onde possamos nos restabelecer e operar de forma eficaz. O espaço para operar está sendo cada vez mais restrito.
O Exército israelense afirmou nesta segunda-feira que estava atacando “operações terroristas” em Deir al-Balah e que trabalhava para desmantelar a “infraestrutura terrorista remanescente” do Hamas, cujo ataque de 7 de outubro ao sul de Israel desencadeou a guerra em curso no enclave. A população civil de Gaza foi informada na noite de domingo que deveria “retirar-se imediatamente” da região.
Escola da ONU, em Gaza, é bombardeada por Israel; Veja fotos
O Exército israelense assumiu, nesta quinta-feira, que bombardeou uma escola da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), na Faixa de Gaza. Segundo os militares, a sede abrigava “uma base” do movimento islâmico Hamas. Bombardeio deixou pelo menos 39 mortos e numerosos feridos.
Também nesta segunda-feira, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU afirmou, em comunicado, que as operações do órgão estão “severamente prejudicadas pelo conflito intensificado, pelo número limitado de passagens de fronteira e pelas estradas danificadas”. Nos últimos dois meses, continuou a nota o PMA, o programa teve que reduzir o conteúdo dos pacotes de alimentos, e que apenas metade da assistência alimentar necessária entrou em Gaza em julho.
— Além das necessidades desesperadas de hoje, precisamos pensar no que está por vir. Não seremos capazes de levar alimentos para o povo de Gaza a menos que reparos sejam feitos nessas estradas. Precisamos trazer as máquinas pesadas necessárias e trabalhar com as comunidades para que tenhamos a mão de obra para consertar as estradas antes que a chuva chegue — disse Antoine Renard, diretor do PMA no enclave.
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A maioria dos palestinos em Gaza está agora deslocada e vive em tendas ou cabanas improvisadas, muitas vezes em áreas propensas a inundações. Devido às ordens de evacuação, eles também estão tentando encontrar segurança em espaços cada vez menores, onde os serviços básicos colapsaram e as condições tornam prováveis os surtos de doenças, diz a nota do Programa Mundial de Alimentos.
— Transportar alimentos, água, remédios e equipamentos de higiene é essencial para a sobrevivência das comunidades em Gaza hoje e será necessário por meses. As estradas fazem parte dessa linha de vida. Precisamos das garantias de segurança necessárias para que nossa equipe e prestadores de serviços estejam seguros ao realizar esses reparos nas estradas — ressaltou Renard.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que o Egito declarou que não aceitará a presença contínua das forças israelenses na fronteira com a Faixa de Gaza. Ao tomar a passagem de Rafah no início de maio, Tel Aviv forçou o deslocamento de mais de 1 milhão de palestinos que estavam abrigados na região, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), e cortou uma rota crucial de ajuda, atraindo repetidas condenações internacionais.
Cairo, que atua como um mediador-chave nos esforços para garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, “reiterou a todas as partes que não aceitará qualquer presença” do Estado judeu ao longo da estratégica área conhecida como Corredor da Filadélfia, publicou a al-Qahera News. As negociações, que também são mediadas pelo Catar e pelos Estados Unidos, trouxeram poucas expectativas de progresso, embora Washington tenha dito na última sexta-feira que algum avanço foi feito.
— O Egito está gerenciando a mediação [entre Israel e o Hamas] de acordo com sua segurança nacional — disse uma fonte do governo egípcio à al-Qahera News, rede ligada ao serviço de inteligência do Egito.
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A Casa Branca voltou a expressar otimismo frente às negociações nesta segunda-feira, desta vez afirmando que as conversas estão progredindo e devem continuar apesar dos conflitos entre Israel e o Hezbollah. Israel avançou no centro de Gaza apenas um dia depois de ter investido numa “ofensiva preventiva” contra o movimento xiita libanês.
No domingo, as forças do Estado judeu lançaram ataques aéreos no sul do Líbano após a alegada identificação de planos do grupo xiita libanês para atacar o território israelense. Na sequência, o grupo, que é apoiado pelo Irã, disse ter lançado centenas de foguetes e drones contra Israel em retaliação pelo assassinato de um de seus comandantes em Beirute no mês passado.
— Continua havendo progressos — declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, à imprensa, adicionando que é esperado que “estas discussões em grupo de trabalho ocorram pelo menos nos próximos dias, mas se isso vai durar mais ou terminar mais cedo, acho que realmente dependerá dos presentes”. — Apesar do ataque com foguetes e drones do Hezbollah no fim de semana, contra o qual Israel fez um excelente trabalho de defesa, (isso) não afetou o trabalho real das equipes no terreno que tentam alcançar este acordo de cessar-fogo.
Apesar da intensidade da ofensiva — Israel fala em 210 foguetes vindos do Líbano, e o Hezbollah, em “mais de 320” — analistas indicam que o grupo realizou ataques mais contidos para evitar uma escalada. Nesta segunda, a Rádio do Exército israelense anunciou que o grupo libanês cogitou atacar com mísseis a base militar das Forças Armadas que abriga o quartel-general do serviço secreto externo israelense (Mossad), mas desistiu no último minuto por temer uma forte retaliação.
Ainda no domingo, uma autoridade do Hezbollah disse que o ataque do grupo foi feito de modo contido para não desencadear uma guerra em larga escala, adiada por “considerações políticas”, levando em conta as negociações por um cessar-fogo que ocorreram no Egito.