O Exército israelense recuperou nesta terça-feira os corpos de seis reféns, incluindo um homem que constava na lista de sequestrado presumivelmente vivos até esta manhã, durante uma operação em Khan Younis, sul de Gaza. A ação ocorreu em meio à retomada das negociações por um cessar-fogo que permita a libertação de reféns e à viagem ao Oriente Médio do secretário de Estado, Antony Blinken, para pressionar pelo acordo. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, segundo o secretário, teria aceitado a proposta. O Hamas, que não participou das últimas negociações, rejeitou.
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Alex Dancyg, de 75 anos, Chaim Peri, de 79, Yagev Buchshtab, de 35, Yoram Metzger, de 80, Avraham Munder, de 79, e Nadav Popplewell, de 51, eram um dos 251 reféns levados durante o ataque terrorista do Hamas, em outubro. Os seis reféns teriam sido levados com vida para o enclave e, de acordo com um ex-refém à AFP, mantidos juntos em cativeiro. As causas de suas mortes são investigadas pelas forças israelenses, e a recuperação suscita a pergunta: afinal, quem são os reféns que permanecem em cativeiro?
Dos 251 reféns sequestrados há mais de dez meses, o Hamas ainda mantém em cativeiro em Gaza 71 que estariam vivos, assim como os corpos de 34 considerados mortos, segundo uma base de dados compilada pela AFP. Esses reféns são a principal moeda de troca do grupo para conseguir um cessar-fogo na guerra e a libertação de prisioneiros palestinos detidos em prisões de Israel.
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A situação dos reféns é incerta e ficou ainda mais obscura pelos anúncios de mortes confirmadas e corpos recuperados — a morte de Munder, por exemplo, foi confirmada apenas nesta terça-feira pelo kibutz Nir Oz, onde residia, embora o Exército israelense já reunisse algumas informações que levantavam suspeitas quanto ao seu bem-estar.
57 homens, 12 mulheres e 2 crianças
Dos 251 reféns e corpos levados para Gaza em 7 de outubro de 2023, 116 foram libertados até esta terça-feira, principalmente mulheres, crianças e trabalhadores estrangeiros, 71 ainda estariam vivos no cativeiro e 64 morreram; os corpos de 30 deles foram repatriados e outros 34 continuam em Gaza.
A maioria das libertações ocorreu durante uma trégua de uma semana no fim de novembro, possível graças a um acordo entre Israel e Hamas, mediado pelos EUA, Egito e Catar. Na ocasião, as libertações ficaram restritas às mulheres e menores de idade.
Dos 71 reféns que estariam vivos, 61 são israelenses — entre eles três beduínos — ou com dupla cidadania israelense, e sete são estrangeiros (seis tailandeses e um nepalês). Entre eles, 57 reféns são homens, 12 são mulheres e também há duas crianças. Doze são soldados. Não é certo que os 71 reféns considerados vivos realmente estejam com vida.
Desde o fim da única trégua da guerra, em 1º de dezembro de 2023, apenas seis reféns foram libertados em operações do Exército israelense. A mais recente ocorreu no início de junho em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, com o resgate de Almog Meir Jan, de 21 anos; Noa Argamani, de 26; Andrey Kozlov, de 27; e Shlomi Ziv, de 41, sequestrados durante o festival de música eletrônica Nova.
O Hamas anunciou em 12 de agosto que seus combatentes haviam “matado um refém” em um “incidente”. Anteriormente, o grupo anunciou várias mortes de reféns não confirmadas por Israel, especialmente a do refém mais jovem, o bebê Kfir, sequestrado com oito meses e meio, de sua mãe Shiri Bibas, de 32 anos, e de seu irmão mais velho, Ariel, de quatro anos.
Mais da metade dos reféns falecidos — 35 dos 64 — já estavam mortos quando foram levados para Gaza em 7 de outubro de 2023. Morreram durante o ataque terrorista do Hamas. Este é o caso principalmente dos corpos de dez soldados. A prática foi observada em conflitos anteriores na região, como na Segunda Guerra do Líbano (2006), quando grupos rivais sequestraram corpos de israelenses para envolvê-los em trocas por prisioneiros vivo.
Os outros 29 reféns mortos faleceram em Gaza. Três deles — Yotam Haim (28 anos), Samer al-Talalqa (25 anos) e Alon Lulu Shamriz (26 anos) — foram mortos a tiros pelo Exército israelense “por engano” em 15 de dezembro de 2023.
Nir Oz e festival de música
A maioria dos reféns que se supõe que ainda estejam em Gaza foi sequestrada no festival de música eletrônica Nova ou no kibutz de Nir Oz.
A festa rave, que contava com a participação de mais de 3 mil pessoas, acontecia perto do kibutz Reim, próximo da fronteira com a Faixa de Gaza. No total, 370 pessoas foram assassinadas naquele local pelos combatentes e pelo menos 43 foram sequestradas. Cerca da metade (22) continua supostamente viva em Gaza, apenas nove foram liberados, e os 12 restantes morreram.
Nir Oz era o kibutz ao qual pertenciam a maioria dos sequestrados em 7 de outubro. Foi o único onde houve mais reféns (pelo menos 74) do que mortos (cerca de 30). Mais da metade dos reféns de Nir Oz foram libertados com vida (38), mas 20 reféns que se supõe que estejam vivos continuam em Gaza. Os 16 restantes morreram.
Em 7 de outubro, famílias inteiras foram transferidas para Gaza. Para essas famílias, a trégua de novembro de 2023 significou uma mistura de alívio pelos reféns libertados e sofrimento por deixar alguns membros para trás. Esse é especialmente o caso dos adolescentes franco-israelenses Eitan, Erez e Sahar, cujos pais Ohad Yahalomi e Ofer Kalderon continuam em cativeiro.
No total, 17 dos reféns que ainda estão em Gaza são parentes dos que foram libertados.