O Ibovespa alcançou nesta segunda-feira a nova máxima histórica, depois de encerrar em alta de 1,36%, aos 135.778 pontos. O novo recorde quase foi atingido na última quinta-feira, 15, quando o principal índice da Bolsa de São Paulo, a B3, ficou a apenas 40 pontos da então máxima, de 134.193 pontos, atingido em 27 de dezembro do ano passado.
Nesta segunda-feira, o otimismo do mercado fez o Ibovespa superar os 136 mil pontos durante o dia, com um leve recuo até o fim do pregão.
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Para analistas, a alta de hoje advém de um cenário misto de aspectos positivos: as expectativas de que os Estados Unidos não estejam enfrentando uma recessão e que cortarão seus juros dentro de um mês e, além disso, os resultados positivos do segundo trimestre divulgados pelas empresas brasileiras. Refletindo o mesmo ambiente, o dólar teve queda significativa e terminou o dia em R$ 5,41.
Bolsa vai subir ainda mais?
Levantamento da consultoria Elos Ayta aponta que, com a marca de hoje, o Ibovespa valorizou 113,6% desde o recorde negativo do índice, alcançado em 23 de março de 2020, no início da pandemia de covid. Naquele dia, o pregão encerrou a 63.569 pontos.
Nos próximos dias, o recorde alcançado nesta segunda-feira pode ser superado. Para analistas do Itaú BBA, é possível. “Se o índice continuar marcando novas máximas ou fechar três pregões pelo menos acima dos 134.400 pontos, mostrará resiliência no movimento e os próximos objetivos estão em 137.000, 141.000 e 150.000 pontos”, diz o banco em relatório assinado pelos analistas Fábio Perina, Lucas Piza e Igor Caixeta.
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, as empresas do índice podem valorizar mais ainda, a depender de certos fatores:
— Um ponto favorável para algumas ações brasileiras é a possibilidade de um câmbio mais valorizado, beneficiando empresas que dependem disso para melhorar seus resultados, como as companhias aéreas. Por outro lado, muitas estão endividadas e precisam de sinais do nosso Banco Central sobre a manutenção dos juros ou pelo menos que eles não subam muito, para que se tornem mais atraentes — diz.
A divulgação de dados americanos da economia, como de consumo e emprego, demonstram que os Estados Unidos passam por um “esfriamento” sem provocar recessão, o chamado de “pouso suave”. expressão é usada para descrever uma desaceleração para controlar a inflação sem afetar os indicadores a ponto de causar uma retração de toda a maior economia do mundo.
O temor de uma queda mais forte na atividade econômica da maior potência do mundo arrasou os mercados globais no início de agosto.
Na semana passada, diversos dados indicaram que os Estados Unidos seguem nesse sentido: as vendas no varejo demonstraram apetite, crescendo 1% em julho, ante previsão de 0,4%. Já os pedidos semanais de auxílio desemprego vieram abaixo das projeções, em 227 mil, ante expectativa de 235 mil.
Na quinta-feira passada, a inflação americana do mês de julho, o CPI, veio em linha com as expectativas, crescendo 0,2%. No acumulado de doze meses, o índice de preços alcançou 2,9%, ante previsão de 3%.
— O principal catalisador é o apetite por risco lá fora, que aumentou nos últimos dois meses. É o fato de que o mercado está cada vez mais otimista com o cenário de que o Fed (Federal Reserva, o BC americano) vá cortar os juros em setembro. E a alta é em linha com os mercados lá fora — afirma Jennie Li, estrategistaa de ações da XP, associando a alta aqui com as principais Bolsas de Nova York.
Por lá, o índice Dow Jones subiu 0,58%, aos 40.896 pontos; o S&P 500 subiu 0,97%, aos 5.608 pontos. E o Nasdaq, que concentra papéis de tecnologia, valorizou 1,39%, aos 17.567 pontos.
Pesquisa FedWatch, do CME, que concatena a temperatura do mercado financeiro sobre a expectativa da taxa americana, dá como certo o corte por lá na próxima reunião, em 18 de setembro, para a faixa entre 5% e 5,25%.
A taxa de juros dos EUA é acompanhada de perto por agentes de mercado de todos os cantos do mundo. Por ser a economia mais segura do mundo, a alíquota definida lá é capaz de atrair o apetite de investidores, que escolhem investir nos títulos americanos, as treasuries, que são considerados os investimentos mais seguros do mundo.
Como a taxa básica dos EUA no atual patamar, entre 5,25% e 5,5% — o maior nível desde 2001 —, ela se torna mais atraente, “drenando” capitais que poderiam ser utilizados nos mercados de outros países. Fora dos EUA, os investimentos até podem oferecer retornos maiores, só que com maior risco.
Pelo lado doméstico, os resultados positivos de balanços de empresas contribuíram para o índice alcançar o patamar recorde.
— O cenário global e o doméstico combinaram, e aí conseguimos uma boa performance. A despeito da turbulência, houve uma forte performance das companhias. As empresas divulgaram resultados fortes e até acima do que projetamos. E o investidor estrangeiro olha bastante o preço e quanto se paga. Ele topa o risco de emergentes se houver desconto no preço — afirma Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações do BTG Pactual.
Segundo ele, as declarações de compromisso com o combate à inflação dadas pelo Diretor de Política Monetária do Banco Central Gabriel Galípolo demonstraram que ele possui perfil técnico. Para agentes, ele é o mais cotado para assumir a chefia da autoridade monetária no ano que vem.
— Houve uma melhora de percepção de risco do Brasil, após o congelamento de R$ 15 bilhões, e mais recentemente do Banco Central. O (Gabriel) Galípolo, que tudo indica ser o próximo presidente (do BC), demonstrou uma visão mais dura de combate à inflação e comprometimento em convergir a inflação para a meta — diz Zanlorenzi.
Este foi o primeiro pregão de alta depois de uma sequência de oito valorizações, interrompida por uma leve queda na última sexta, causada, segundo analista, por realizações.
A trajetória de valorização teve início na terça-feira seguinte à “segunda sangrenta”, dia 6 de agosto. Naquele dia, bolsas de todo o mundo recuaram devido à expectativa de que os Estados Unidos estivesse enfrentando uma recessão.
A possibilidade do Banco Central do Japão (BoJ) aumentar a taxa de juros básicas do país também foi ventilada naquela segunda-feira. Diversos investidores iniciaram uma corrida para desfazer suas aplicações e pagar os empréstimos tomados numa operação conhecida como carry trade: toma-se dinheiro em países com juros baixos (a taxa japonesa era de apenas 0,1% até 31 de julho) e aplica em investimentos onde a taxa básica é maior, como no Brasil, que opera a 10,5% ao ano.
Como a taxa japonesa aumentou, no último dia de julho, de 0,1% para 0,25% ao ano, os investidores correram para desfazer as suas operações e pagar os empréstimos tomados em iene.
Entenda os pontos do Ibovespa
O principal índice da B3 é medido em pontos, que equivalem a R$ 1 cada. Ele é composto, na teoria, pelo valor das ações e units (composto de mais de um tipo de ação) de 85 empresas escolhidas para sua composição, de diversos setores. A representatividade do papel deve ser relevante, sendo levado em conta alguns critérios:
- ser negociada acima de R$ 1
- ter mais de 0,1% na movimentação total da B3
- estar presente em 95% dos pregões nos últimos doze meses
- estar entre os ativos que façam parte dos 85% mais negociados de toda a Bolsa, ou seja, ser uma ação com alta liquidez (em que o interesse por venda e compra sejam maiores)
A escolha percentual da representação da empresa no índice é balanceada a cada quatro meses.
Hoje, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras, juntas, somam 12,05% da composição do índice. Já a Vale, sozinha, possui 11,3% do peso no Ibovespa. O Itaú Unibanco vem logo atrás, com 7,91% da totalidade, seguido do Bradesco, com suas ações preferenciais e ordinárias somando 4,34% da composição acionária do índice. Em seguida vem o Banco do Brasil, com 3,66% de peso.