O Ibovespa encerrou a quinta-feira, 15, aos 134.153 mil pontos, em alta de 0,63%. O principal índice da Bolsa de São Paulo, a B3, abaixo apenas 40 pontos do recorde de fechamento, registrado em 27 de dezembro do ano passado, em 134.193 pontos.
Para analistas, a alta advém de um cenário misto, que envolve vários aspectos positivos: há uma melhor percepção de risco internacional, somada às expectativas de que os EUA não estejam enfrentando uma recessão e, além disso, resultados positivos do segundo trimestre divulgados pelas empresas brasileiras.
O dólar voltou a fechar hoje em alta, valendo R$ 5,48 e valorizando 0,27%. A cotação da moeda americana chegou a cair a R$ 5,45 durante o dia. Para analistas, o movimento de correção visto ontem continuou hoje, sem um grande definidor que impactasse a relação entre o dólar e o real.
— O imponderável dominou o mercado na semana passada, e o dólar teve uma queda considerável de lá para cá, depois de dados afastarem receio de recessão nos EUA. Saiu dos R$ 5,86 (máxima atingida em 5 de agosto) para o valor atual. É uma desvalorização de quase 7% — analisou Diego Costa, gerente de câmbio da B&T Câmbio.
Indicadores favoráveis nos EUA
A divulgação de dados americanos, indicando um arrefecimento da maior economia do mundo aponta para o chamado “pouso suave”, quando a desaceleração não afeta os indicadores a ponto de causar uma recessão. Além disso, reforçam a expectativa de corte dos juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, o que favoreceria a valorização do mercado de ações.
São fatores que ajudam a explicar a arrancada do Ibovespa. Nesta quinta, mais dois dados indicaram que a economia americana segue nesse sentido: as vendas no varejo demonstraram apetite, crescendo 1% em julho, ante previsão de 0,4%. Já os pedidos de auxílio desemprego vieram abaixo das projeções, em 227 mil, ante expectativa de 235 mil.
- ‘Não gostam de pagar imposto’: Lula diz que Haddad é chamado de ‘taxador’ porque atua para tributar mais ricos
Ontem, a inflação americana do mês de julho, o CPI, veio em linha com as expectativas, crescendo 0,2%. No acumulado de doze meses, o índice de preços alcançou 2,9%, ante previsão de 3%.
— Todas as bolsas, bancos centrais e títulos de renda fixa têm acompanhado uma única grande taxa, que é o juro americano. E, com os dados de desemprego e inflação recentes, isso faz com que o juro possa cair um pouco, o que deu esse alívio e fez as bolsas crescerem — afirma Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos, elencando a alta em diversos índices pelo mundo como reflexo dessa leitura.
A taxa de juros dos EUA é um importante definidor do mercado financeiro de todo o mundo. Ela é capaz de atrair o apetite de investidores, que escolhem investir nos títulos americanos, as treasuries, que são considerados os investimentos mais seguros do mundo.
Como a taxa básica dos EUA no atual patamar, entre 5,25% e 5,5% — o maior nível desde 2001 —, ela se torna mais atraente, “drenando” capitais que poderiam ser utilizados nos mercados de outros países. Fora dos EUA, os investimentos até podem oferecer retornos maiores, só que com maior risco.
- ‘Compensação cruzada’: Entenda por que a Receita vai apertar o cerco contra fraudes tributárias em empresas
Do lado doméstico, os resultados positivos de balanços de empresas brasileiras relativos ao segundo trimestres têm ajudado na alta. Depois da divulgação de lucros positivos de empresas cujos papéis têm peso na Bolsa, o principal índice ganhou mais combustível para a alcançar o patamar que encosta na marca recorde.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, a temporada de balanços demonstra a resiliência da economia brasileira, apesar do patamar alto da Taxa Selic, a taxa básica de juros do país, hoje em 10,5% ao ano, encarecendo o crédito, freando o consumo e tornando a renda fixa mais atraente que o mercado de ações:
— O investidor olha o desempenho e como elas estão saindo bem apesar da taxa de juro alta e imagina lá na frente: com ela vai ficar com taxa (de juros) diminuindo? Aí o investidor coloca dinheiro, olhando para essa perspectiva futura — afirma.
A redução das críticas do presidente Lula à condução da política monetária e ausência de novas notícias que aumentem as dúvidas quanto ao equilíbrio das contas públicas ajudaram a não “espantar” investidores”, afirma Lelis, da Valor.
— Temos uma discussão muito forte sobre o gasto do governo e isso espanta investidores estrangeiros. Coloca em xeque o comprometimento fiscal e econômico do governo com o país. Isso afugenta o investidor externo, que tem parte relevante na Bolsa. E não tivemos essa âncora negativa nos últimos dias — diz o analista, para quem a ausência de discursos inflamados torna o cenário positivo.
A maior alta do índice foi da IRB (Re). A resseguradora ampliou 30,66%, aos R$ 42,49, depois de reportar um lucro líquido de R$65,2 mi, acima das expectativas, de R$ 32,6 mi. Com peso no índice, Petrobras e Vale também valorizaram. Os papéis preferenciais da petrolífera (PN, sem voto) subiram 1,54%, a R$ 38,34. Já os da mineradora ganharam 0,41%, a R$ 56,23.
Na ponta contrária, as ações da Petz recuaram 9,69%, a R$ 3,45. Apesar da receita ter crescido 3,8%, o lucro líquido ajustado veio 80% menor, em R$ 4,97 milhões.
Tom da diretoria do BC ajuda na alta
As recentes declarações de membros da diretoria do BC após a divulgação da ata do Copom em tom duro — afirmando que a autoridade monetária não hesitaria em aumentar as taxas de juros — ajuda a impulsionar o índice.
Para Lima, da Ouro Preto, o mercado olhou as declarações de Gabriel Galípolo, como a de que uma alta da Selic “está na mesa”, com boa vontade, viu nele credibilidade. O diretor de Política Monetária do BC é o principal cotado para assumir a cadeira de banqueiro central em 2025, com o fim do mandato de Roberto Campos Neto:
— Quando o Galípolo diz isso, o mercado vê, por mais que ele tenha uma relação de proximidade com o presidente (Lula), que quer porque quer uma redução da taxa de juros, um tom de credibilidade. De que o BC será técnico e não cederá à influências do governo, apesar da relação próxima — diz, afirmando que o investidor estrangeiro “coloca dinheiro aqui não olhando só para lucro, mas também querendo previsibilidade na condução da política monetária”.