O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou nesta quinta-feira a abertura de uma sede de administração militar na região russa de Kursk, invadida por Kiev na semana passada, e a tomada estratégica da pequena cidade de Sudzha. Esta é a primeira captura de um centro urbano russo pelo Exército ucraniano desde que suas tropas lançaram o ataque surpresa no país. A região dominada é especialmente importante porque é de lá que sai o gás russo para a Europa.
— Um escritório de comando militar foi estabelecido em Kursk para manter a lei e a ordem e atender às necessidades da população nos territórios controlados — disse o Ministro da Defesa da Ucrânia, general Oleksandr Syrsky, em reunião com Zelensky.
Tropas ucranianas entraram em Sudzha poucos dias após o início da ofensiva no território russo. Vídeos publicados nos últimos dias por soldados ucranianos mostram tropas na cidade, e a televisão estatal da Ucrânia transmitiu uma reportagem sobre o local nesta quarta-feira. Nela, foi reproduzida a imagem de militares do país arrancando uma bandeira russa de um prédio. Imagens de satélite mostraram que ao menos 20 estruturas foram danificadas na região.
Antes do ataque, Sudzha tinha cerca de 5 mil habitantes, muitos dos quais fugiram, de acordo com relatos de moradores. Na quarta-feira, Zelensky disse que “centenas de soldados russos” se renderam na região desde o início do ataque, embora as autoridades ucranianas tenham se recusado a compartilhar mais detalhes. No mesmo dia, Kiev atingiu separadamente quatro aeródromos russos durante a noite. Imagens aéreas verificadas pelo New York Times mostraram que ao menos duas das bases sofreram danos significativos.
A Ucrânia tem como alvo os campos de aviação russos porque visa danificar a capacidade de Moscou de lançar ataques aéreos contra cidades e tropas ucranianas. Os quatro campos de aviação atingidos pelas forças armadas na quarta-feira abrigavam bombardeiros Su-34 e caças Su-35, que podem realizar ataques com mísseis.
Kiev afirmou que os ataques de quarta-feira foram realizados com drones de fabricação nacional. Os aliados ocidentais impuseram restrições ao uso de suas armas na Rússia por medo de que isso escalasse a guerra, embora a Ucrânia tenha apelado continuamente para que elas sejam desfeitas. Os Estados Unidos e o Reino Unido, dois dos aliados mais próximos da Ucrânia, já disseram que a ofensiva ucraniana na Rússia não violou suas políticas.
A operação militar ucraniana já corresponde ao maior avanço estrangeiro contra o território russo desde a Segunda Guerra Mundial. Um balanço divulgado pelo general a Zelensky no nono dia de invasão indica que 82 localidades da região de Kursk estão sob domínio ucraniano, o que corresponde a uma área de cerca de 1.150 km² da região. Para analistas, a tomada de Suzha pode elevar ainda mais o ânimo de civis e soldados da Ucrânia, que passaram por meses de perda de território em casa.
Kiev e Moscou travam uma disputa narrativa sobre a invasão. Moscou denunciou o ataque ucraniano como uma última cartada de Kiev na tentativa de convencer os aliados ocidentais de que a ajuda militar enviada ao Leste Europeu tem impacto real na guerra. O Ministério da Defesa divulgou um vídeo mostrando o momento da captura do que seriam 100 militares ucranianos, e anunciou a libertação de algumas localidades, incluindo Krupets, perto da fronteira.
Em resposta à ofensiva ucraniana em seu território, Rússia divulga registro de prisioneiro
Em um comunicado divulgado pelo Telegram, o ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, anunciou nesta quinta-feira o envio de “forças e recursos adicionais” para a região de Belgorod, vizinha a Kursk.
Zelensky defende que a invasão é uma forma de pressionar a Rússia e fazê-la sentir a guerra que iniciaram em fevereiro de 2022. Militarmente, no entanto, o objetivo seria criar uma “zona tampão” e corredores humanitários na região fronteiriça.
“Estamos avançando na região de Kursk. De um a dois quilômetros em diferentes zonas desde o início do dia. Mais de 100 militares russos adicionais foram capturados no mesmo período”, indicou o presidente em uma publicação no Telegram, na quarta-feira. (Com AFP)