— Eu dei a Biden e Kamala um milagre econômico, e eles o transformaram em um pesadelo econômico — afirmou o ex-presidente, fazendo uma comparação entre seus quatro anos na Casa Branca e o atual governo.
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Horas antes de Trump subir ao palanque na Carolina do Norte, sua campanha emitiu um comunicado com um novo termo, “Kamalanomics”, no qual tenta colar a Kamala Harris as visões negativas que muitos têm das políticas econômicas de Biden — segundo a média de pesquisas, elaborada pelo site RealClearPolling, 58,6% dos americanos desaprovam o trabalho do democrata na economia. Uma sondagem da rede pública NPR revelou que 51% dos eleitores acreditam que Trump lidaria melhor com questões econômicas, enquanto 48% apontam Kamala como a mais capaz.
Em teoria, Biden (e Kamala) teria motivos a serem celebrados: nesta quarta-feira, foi divulgado que a inflação anual nos EUA chegou a 2.9% em julho, o menor nível desde 2021, e que sugere um corte na taxa básica de juros pelo Federal Reserve em breve. Alguns itens cuja alta dos preços foi atacada por Trump, como os alimentos e energia, tiveram reajustes abaixo da média, segundo o relatório.
— Vejam, a economia está indo bem de várias formas, mas os preços de itens do dia a dia, como alimentos, estão muito altos — disse Kamala, em um discurso no Arizona, no fim de semana. — Quando me tornar presidente, continuarei a trabalhar para derrubar os preços.
Mas o republicano mira no passado, em especial nos primeiros momentos do governo Biden, quando a inflação chegou a 9,1% ao ano, em junho de 2022, e parece ter sucesso nas investidas..
— A inflação está destruindo nosso país, está destruindo nossas famílias — afirmou Trump, dizendo que, caso seja eleito, vai exigir resultados de seu gabinete nos primeiros 100 dias de governo sobre o corte de preços.
Em uma das poucas promessas claras, disse que vai cortar os preços da energia pela metade, sinalizou que intensificará o uso de combustíveis fósseis, e disse que vai eliminar políticas voltadas à transição rumo a uma economia verde, o chamado “Green New Deal” — para Trump, é importante ter “ar limpo e água limpa”, desde que não “destrua os EUA”.
Ele sugeriu que abrirá “terras federais” para novos empreendimentos, a custos baixos, que vai “trazer de volta” as redes de suprimento, incentivar a produção de itens essenciais para a indústria, e taxar empresas estrangeiras em solo americano em até 20%.
— A partir de hoje, e do dia em que eu tomar posse, nós vamos derrubar os preços, e fazer os EUA acessíveis novamente — disse Trump, prometendo irá reduzir as “regulamentações, impostos e preços”.
Como em vários outros pontos da campanha nos EUA, a principal frente da batalha sobre a economia será travada nos chamados “estados pêndulo”, onde não há uma tendência clara de votação nas últimas eleições.
Biden, como presidente e (ex) candidato, afirma ter conduzido a maior recuperação econômica da história dos EUA, mantendo uma taxa média de crescimento 2,9%% ao ano, 0,2 ponto percentual a mais do que Trump. Mas o avanço foi desigual, e alguns dos estados considerados decisivos não se beneficiaram tanto dos “tempos de bonança”.
Segundo levantamento da Bloomberg, o PIB americano cresceu 4,2% nesses estados entre 2019 e 2023, enquanto avançou 6,3% no resto dos EUA — um deles, o Wisconsin, que votou em Trump em 2016 e em Biden em 2020, teve recessão de 0,7%. Na Pensilvânia, onde as pesquisas começam a mostrar Kamala em vantagem, o avanço foi de 0,9%. No condado de Erie, um dos mais populosos do estado, o PIB no final de 2022 era 3,2% menor do que em 2019. Nem os recentes sinais de retomada são suficientes para entusiasmar a população.
— É ótimo ver o dinheiro que está voltando para a cidade. Mas quando se trata de mim pessoalmente, não acho que sentimos isso — disse Curtis Jones Jr., dono de um restaurante, à Bloomberg. Em um sinal preocupante para Kamala, ele afirmou que a população negra de Erie, a mais afetada pelas agruras econômicas, ainda questiona se deve votar nos democratas. Em 2020, essa parcela do eleitorado foi crucial para uma vitória apertada de Biden no condado.
A própria escolha do vice republicano, J.D. Vance, que cunhou a carreira política com base em sua origem, no chamado “Cinturão da Ferrugem”, uma área no Nordeste americano que viveu um período de apogeu e um longo período de decadência, foi apontada como uma forma de Trump se aproximar de eleitores que se veem à margem da “bonança” de Biden.
Na Carolina do Norte, onde Trump discursou nesta quarta e onde Kamala falará, também sobre economia, na sexta, o PIB cresceu 6,5%, mas cerca de 30% da população vivem em condados onde houve retração econômica. Em abril, uma pesquisa revelou que 52% dos entrevistados no estado disseram que suas decisões de compra foram muito afetadas por preocupações com a inflação, em especial de bens essenciais.
No Arizona, onde o PIB cresceu 12,3% entre 2019 e 2023, e onde Trump é favorito para vencer em novembro (Biden ganhou ali em 2020), um dos maiores problemas é a inflação no setor imobiliário: em termos anualizados, o preço das casas aumentou 4,3%, a tendência segue de alta e não há sinais de que a bolha imobiliária vá estourar. Segundo a Bloomberg, 36,4% do orçamento das famílias do estado são usados, em média, para financiar custos com moradia. Bem acima, por exemplo, do Wisconsin, onde correspondem a pouco mais de 20% (mas ainda muito abaixo da Califórnia, com 54,4%).
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Em alguns momentos, Trump disse ao público que aquele era um evento diferente, para “falar sobre uma coisa chamada economia”, algo que poderia ter repetido para si mesmo. A “pauta” geral foi similar à de seus discursos de hábito, como quando atacou o processo de escolha da vice de Biden, afirmando que o presidente “deve estar furioso”, e que os democratas são “uma ameaça à democracia”.
— Kamala, você está demitida, venha aqui agora — disse Trump, citando um bordão de seus tempos de apresentador de TV. — Kamala Harris não vai acabar com a crise econômica. Ela só vai piorá-la. E por que ela não fez isso? Ela fala sobre isso. Ela está fazendo um plano. Você sabe que ela vai anunciá-lo esta semana. Talvez ela esteja esperando que eu anuncie para que ela possa copiá-lo.
Ele afirmou que sua rival nas urnas “não sorri mais”, referência ao apelido dado a ela, “Kamala risonha”, disse que a guerra na Ucrânia “jamais aconteceria” se estivesse no poder, e que os EUA eram respeitados “até por Kim Jong-un”, o líder norte-coreano com quem nutre uma complexa relação.
Trump ainda criticou a decisão do governo de Minnesota, comandado pelo candidato a vice na chapa de Kamala, Tim Walz, de oferecer absorventes íntimos em escolas públicas, afirmando que os produtos estarão também nos banheiros masculinos, e que isso seria inaceitável. E, como esperado, disse que a política migratória de Biden “foi um desastre”, prometendo realizar “a maior operação de deportação” da História americana se for eleito.
— O problema é que o ex-presidente Donald Trump tem que focar sua mensagem quando está na frente das câmeras e ele é uma grande, grande parte de como a campanha se comunica. Ele tem que apertar e focar no que os eleitores receberiam se Kamala Harris vencesse — disse à CNN o estrategista republicano Brad Todd, apontando que falas radicais podem afugentar, e não atrair, eleitores hoje indecisos.