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“Esta operação terrorista aconteceu com o disparo de um projétil de curto alcance com uma ogiva de quase 7 quilos de fora do local onde os hóspedes estavam alojados, provocando uma forte explosão”, diz um comunicado, que acusa os EUA de prestarem apoio a Israel.
Autoridades do Oriente Médio e do próprio Irã disseram que a explosão foi resultado de uma bomba que havia sido plantada no quarto de Haniyeh até dois meses antes de sua chegada. Autoridades iranianas e o Hamas afirmaram, na quarta-feira, que Israel foi responsável pelo assassinato, uma avaliação também feita por várias autoridades dos EUA. Israel, que prometeu destruir as capacidades governamentais e militares do Hamas, não confirmou nem negou sua responsabilidade, e os EUA têm negado qualquer participação ou conhecimento sobre o ataque.
— Ainda não está claro como ele foi assassinado e qualquer conclusão a esse respeito terá sérias ramificações para que tipo de escalada virá a seguir e qual narrativa será produzida — afirmou o analista de segurança H. A. Hellyer à rede al-Jazeera. — Há uma diferença entre esses dois tipos de cenários. [Um míssil sugere que] uma violação de segurança pode ter ocorrido em termos de saber exatamente onde atingir, mas é uma violação de segurança diferente do que se uma bomba fosse contrabandeada para dentro do Irã.
O líder do braço político do Hamas foi assassinado na madrugada de quarta-feira na capital iraniana, onde havia comparecido um dia antes à cerimônia de posse do novo presidente do Irã, o reformista Masoud Pezeshkian. Na mesma semana, Israel, que não comentou a morte de Haniyeh, assumiu a autoria de um ataque esta semana contra um reduto do Hezbollah no sul de Beirute, que matou Fouad Shukr, comandante militar do grupo libanês.
— Qualquer um que mate nossas crianças, qualquer um que assassine nossos cidadãos, qualquer um que cause dano ao nosso país, terá a cabeça marcada por um preço — afirmou, na quarta-feira, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, em pronunciamento.
Em meio à retórica elevada de Teerã e do Hamas, as autoridades iranianas prenderam cerca de vinte pessoas, incluindo altos oficiais de inteligência, militares e funcionários da casa de hóspedes administrada por militares na capital do país.
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A unidade de inteligência especializada em espionagem da Guarda Revolucionária assumiu a investigação e está procurando suspeitos que podem levar aos membros da equipe que planejou e executou o assassinato, de acordo com duas autoridades iranianas, que pediram anonimato devido à natureza sensível das investigações.
A intensidade e o escopo da investigação da Guarda revelam o grau em que o assassinato chocou e abalou a liderança do país. A explosão mortal, que também matou o guarda-costas palestino de Haniyeh, não foi apenas um colapso devastador de inteligência e segurança; nem apenas uma falha em proteger um aliado-chave; nem evidência da incapacidade de conter a infiltração do Mossad; nem um golpe humilhante de reputação. Foi tudo isso e muito mais.
— A percepção de que o Irã não pode proteger sua pátria nem seus principais aliados pode ser fatal para o regime, porque basicamente sinaliza aos seus inimigos que, se eles não conseguirem derrubar a República Islâmica, eles podem decapitá-la — disse Ali Vaez, diretor do Irã para o International Crisis Group.
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Ao longo da semana, o Irã e seus aliados regionais prometeram adotar represálias pelos assassinatos dos líderes do Hezbollah e do Hamas, alimentando os temores de um conflito mais amplo na região. Com o temor de um conflito regional aumentando, o governo dos Estados Unidos anunciou que irá reforçar sua presença militar na região, diante da “possibilidade de uma escalada regional por parte do Irã e seus aliados”. O Pentágono prometeu enviar mais navios de guerra com mísseis balísticos de defesa, assim como um esquadrão adicional de caças.
O número de aviões e navios a serem enviados ainda não foi definido, assim como as aprovações finais de autoridades sêniores, como a do secretário de Defesa. Os oficiais afirmam tentar calibrar a resposta americana para enviar uma quantidade suficiente de aeronaves o mais rapidamente possível para ajudar Israel sem parecer que estão escalando o conflito.
— O secretário de Defesa Lloyd Austin ordenou ajustes na postura militar dos EUA projetados para melhorar a proteção da força dos EUA, aumentar o apoio à defesa de Israel e garantir que os Estados Unidos estejam preparados para responder a várias contingências — disse a vice-secretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh.
Em abril, depois de um ataque israelense contra o consulado do Irã em Damasco, na Síria, matou oito oficiais da Guarda Revolucionária, incluindo dois oficiais de alta patente, Mohammed Reza Zahedi e Haji Rahimi, o Irã lançou cerca de 300 mísseis, drones e outros tipos de projéteis contra Israel, no primeiro ataque do tipo já registrado. A defesa do espaço aéreo israelense contou com o apoio de aliados como os EUA, Reino Unido e França, e foi coordenada com países da região, como Iraque e Arábia Saudita. Não houve danos consideráveis em solo, mas o risco de um conflito generalizado no Oriente Médio permaneceu no ar.
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Segundo analistas, Netanyahu busca arrastar o Irã, país que considera ser uma “ameaça existencial”, para uma guerra total, como forma também de garantir a própria sobrevivência política dentro de Israel. As autoridades iranianas não parecem interessadas em um conflito de grande porte, mas se veem obrigadas a responder de alguma forma, mesmo que simbolicamente.
Além de considerar uma ação direta, como a de abril, o Pentágono também se prepara para a possibilidade de que grupos apoiados pelo Irã, incluindo os Houthis no Iêmen e o Kataib Hezbollah no Iraque, possam atingir as tropas americanas no Oriente Médio como parte da esperada retaliação.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o país está em um “nível muito elevado” de preparação para qualquer cenário, “tanto defensivo como ofensivo”. Os dois países estão envolvidos em uma guerra indireta há anos. Israel assassinou mais de uma dúzia de cientistas nucleares e comandantes militares dentro do Irã, incluindo o principal cientista nuclear do país, Mohsen Fakhrizadeh, com um robô assassino controlado remotamente e assistido por IA em 2020. Israel também sabotou infraestruturas, explodindo gasodutos em fevereiro, bem como conduzindo ataques a instalações militares e nucleares.
A tensão também é cada vez maior no Líbano. Neste sábado, a Suécia anunciou o fechamento de sua embaixada em Beirute, depois de recomendar que seus cidadãos deixem o país. As companhias Air France e Transavia prorrogaram até pelo menos terça-feira a suspensão de voos para a capital libanesa.
No começo da noite, o Hezbollah confirmou ter lançado “dezenas” de foguetes contra o território israelense, mas Israel afirma que praticamente todos foram intrerceptados pelo sistema de defesa Domo de Ferro, ou caíram em áreas rurais, sem causar estragos ou vítimas. Mais cedo, a aviação israelense realizou bombardeios em áreas de fronteira, e teria matado um integrante da milícia libanesa.