Líderes do Comitê Nacional Democrata estão tentando acelerar a formalização da candidatura de Joe Biden à Presidência dos EUA. Fontes ouvidas em anonimato pelo New York Times afirmaram que a cúpula do partido realiza esforços para antecipar a confirmação de Biden à reeleição o mais rápido possível, antes da reunião dos delegados na Convenção Nacional Democrata, marcada para agosto em Chicago. A decisão sobre a designação do atual presidente poderia começar a ser tomada no fim desta semana.
A medida formalizaria Biden como candidato do partido na disputa pela Casa Branca em um momento em que partidários democratas parecem divididos sobre as capacidades cognitivas e físicas do atual presidente — questionamentos que ganharam o centro do debate político no país após o desempenho desastroso no primeiro debate com Trump.
Conversas sobre a antecipação da confirmação da candidatura de Biden correm desde maio. Líderes democratas sugeriram formalizar o nome do atual presidente por meio de uma chamada virtual, semanas antes da Convenção Democrata. No entanto, diante das contestações crescentes ao nome do principal quadro do partido, delegados envolvidos nos processos burocráticos de bastidor estão ansiosos por encerrar as conversas públicas sobre o futuro de Biden.
Nem todos concordam: em uma medida anteriormente não divulgada, um grupo de democratas da Câmara que questiona se Biden deveria seguir na disputa tenta angariar apoio para mudar o caminho das nomeações para permitir potenciais desafiantes na Convenção. Doadores e estrategistas apresentaram ideias que abririam a porta a que outro candidato entrasse na disputa, mas membros do partido consideraram essas propostas fantasiosas.
O processo começará efetivamente quando o comitê de regras da Convenção Nacional Democrata se reunir em videochamada na manhã de sexta-feira, seguido por outro grupo partidário no domingo. Espera-se que todos os mais de 4 mil delegados comecem a votar já na segunda-feira, um processo que provavelmente levará cerca de uma semana. Depois disso, espera-se que o comitê realize rapidamente a chamada nominal, uma tradição que normalmente ocorre no plenário da convenção, mas que será realizada virtualmente neste ano.
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O comitê de regras é um corpo de mais de 180 delegados liderado pelo governador de Minnesota, Tim Walz, e Leah Daughtry, uma autoridade veterana do partido. A maioria dos seus membros tem laços profundos com Biden e foram avaliados pela sua lealdade para com ele, tornando improvável que a sua nomeação enfrente divergências significativas.
Democratas dizem esperar que uma ampla maioria dos delegados do partido – talvez até 80% – apoie a nomeação de Biden. Ainda assim, não há garantia de como os delegados responderão a este plano, ou se poderão ceder à pressão dos legisladores e doadores democratas.
O procedimento não mudaria a realidade da posição de Biden: segundo as regras do partido, ele só pode ser substituído como candidato se concordar em se afastar e libertar os seus delegados.
Biden, durante entrevista à NBC News que foi ao ar na segunda-feira, reiterou que não abandonaria a disputa.
— Olha, 14 milhões de pessoas votaram em mim para ser o candidato do Partido Democrata, ok? — disse Biden. — Eu os escuto.
Se Biden desistisse após o encerramento da convenção do partido, a responsabilidade pela sua substituição caberia a um pequeno círculo de membros do partido que inclui os líderes dos principais comitês do Partido Democrata. Esses líderes incluem Walz, presidente da Associação de Governadores Democratas.
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— O governador Walz tem a honra de co-presidir o comitê e sabe como é importante que os democratas tenham seu candidato, o presidente Biden, nas urnas em todos os estados em novembro — disse Teddy Tschann, porta-voz de Walz.
A oposição ao cronograma de nomeações do Comitê Democrata começou a se espalhar na segunda-feira, quando os democratas que gostariam de ver uma mudança no topo da chapa começaram a temer que sua janela para persuadir Biden a se afastar estivesse se fechando.
O deputado Jared Huffman, da Califórnia, redigiu e começou a circular uma carta entre os democratas da Câmara pedindo ao partido que adiasse a nomeação de Biden até que os delegados se reunissem pessoalmente na convenção. A carta de Huffman diz que seus signatários “compartilham sérias preocupações sobre os planos de realizar uma chamada virtual já em 21 de julho”, de acordo com uma pessoa que recebeu um rascunho dela e leu seu conteúdo para o New York Times.
Huffman, em entrevista na noite de segunda-feira, recusou-se a comentar a carta, mas disse que o partido deveria permitir que a discussão sobre a viabilidade de Biden como candidato se prolongasse por mais tempo antes de nomeá-lo.
— Tentar reprimir o debate e impedir que isso aconteça é um jogo de poder da mais alta ordem — disse Huffman. — Esse tipo de movimento violento não vai agradar a muitas pessoas.
Em maio, o Comitê Nacional Democrata mudou seu processo de nomeação para se adequar a um prazo do estado de Ohio, para que os candidatos fossem anunciados até 7 de agosto. Posteriormente, os legisladores do Estado aprovaram uma lei para adiar o prazo para o final de agosto, mas ela não entrará em vigor até 1º de setembro. A campanha de Biden e o Comitê Democrata pretendiam antecipar a nomeação de Biden para antes da data para evitar a possibilidade de um desafio legal por parte dos republicanos.
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— Certamente não vamos deixar o destino desta eleição nas mãos dos republicanos do MAGA [Make America Great Again, ligado a Trump] em Ohio, que tentaram manter o presidente Biden fora das urnas nas eleições gerais — disse Jaime Harrison, presidente da Convenção Nacional Democrata. — Estamos avançando com uma chamada virtual e o cronograma para esse processo permanece dentro do cronograma e inalterado desde quando o Comitê tomou essa decisão em maio.
Huffman disse não acreditar que o partido teria qualquer problema de garantir que o candidato indicado na convenção do partido tivesse o nome garantido nas urnas de Ohio.
A carta de Huffman fala do fato de dezenas de democratas da Câmara continuarem preocupados com a posição política de Biden e com a perspectiva de vitórias republicanas arrebatadoras nas eleições gerais de novembro. Eles também estão preocupados com a possibilidade de os aliados do presidente tentarem impedir qualquer discussão sobre a sua permanência na chapa.
Vários legisladores, estrategistas e ativistas disseram que esses esforços perderam algum ímpeto desde a tentativa de assassinato de Trump em um comício no sábado, embora muitos no partido questionem a capacidade do presidente de vencer.
Nos últimos dias, Biden realizou várias reuniões com os democratas na Câmara que terminaram com críticas variadas. Entre os que estão preocupados com a sua permanência na chapa, há frustração pelo fato de as discussões parecerem estar no limbo, em parte devido ao atentado contra Donald Trump no comício no fim de semana.