— Não é de se estranhar essas declarações que o senhor Milei faz. Tem conflitos com a Espanha; tem conflitos com o Brasil, tem conflitos com o Paraguai; teve altercações com o Chile também (…) Na realidade, acho que não ajuda na boa vizinhança (…) essa contenciosidade que tem mostrado— disse Arce em uma entrevista à AFP.
No caso da Espanha, Arce faz referência à crise diplomática instaurada após Milei chamar a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez de ‘corrupta’. Em relação ao Brasil, o ultraliberal coleciona desentendimentos com Lula, chamando o presidente brasileiro de “comunista e corrupto” na terça-feira. Já com o Chile, o governo argentino teve um recente desentendimento sobre painéis solares de uma base militar argentina instalados no lado chileno da fronteira.
O presidente argentino também decidiu não participar da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, que ocorrerá no próximo dia 8 no Paraguai, dando preferência para participar da Conferência Política de Ação Conservadora (Cpac) no próximo fim de semana.
Arce também lamentou que o governante ultraliberal da Argentina agora concorde com o ex-presidente Evo Morales, seu antigo aliado e agora seu maior adversário político, que acusou Arce de ter orquestrado um “autogolpe”. Horas após a declaração de Morales, o governo ultraliberal de Milei citou “relatórios de inteligência” para apoiar as declarações do ex-presidente.
“O que mais nos surpreende é a coincidência que Milei tem com Evo Morales”, a quem ele “tomou como fonte” para desqualificar o levante militar, acrescentou Arce, líder do dividido Movimento ao Socialismo (MAS), que o ex-presidente indígena fundou.
— Acho que Evo está na hora de decidir de que lado da história ele quer estar (…) porque claramente a posição que Milei defende não é uma posição de esquerda, não é uma posição progressista — afirmou o presidente boliviano.
Em uma declaração publicada na segunda, o Ministério das Relações Exteriores boliviano rejeitou “energicamente” o que chamou de declarações “inamistosas e temerárias” do governo argentino. A chancelaria também convocou seu embaixador em Buenos Aires para consultas e o embaixador argentino em La Paz para reforçar sua insatisfação.
Na terça-feira, Milei intensificou suas críticas, afirmando em uma publicação nas redes sociais que a “fraude armada na Bolívia é conhecida, e o perfeito idiota, em vez de admitir seu erro, me critica por deixar sua estupidez à vista”, sem mencionar exatamente a quem se referia (na postagem, ele também mencionou o presidente Lula além de Arce).
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Com a declaração oficial de seu governo, Milei distancia-se do apoio internacional recebido pelo presidente boliviano diante da mobilização militar das Forças Armadas, liderada pelo general Juan José Zúñiga, ex-chefe do Exército, na semana passada.
Zúñiga, que liderou as tropas que cercaram o palácio presidencial boliviano com carros blindados por várias horas antes de se retirarem, acabou preso no mesmo dia. Ao todo, 22 militares ativos, aposentados e civis foram presos, entre eles os três ex-comandantes das forças armadas (exército, aviação e marinha). No momento de sua prisão, em 26 de junho, o oficial disse que Arce havia lhe pedido para preparar algo para aumentar sua popularidade, o que o presidente boliviano rejeitou insistentemente.
A rebelião militar ocorreu em um momento em que a Bolívia passa por uma crise econômica devido à falta de dólares e combustível associada à queda nas exportações de gás, sua principal fonte de moeda estrangeira até 2021.