Em um dia de altos e baixos no mercado, o dólar comercial chegou a bater a máxima de R$ 5,70 durante as negociações nesta terça-feira. Ao final do dia, a cotação da moeda americana recuou e fechou em alta de 0,22%, a R$ 5,66.
O desempenho do dólar no Brasil foi na contramão do exterior, onde a moeda se desvalorizou com sinalizações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, de que os Estados Unidos estão caminhando para a desinflação, o que pode indicar queda de juros à frente.
Por aqui, circulou no mercado no fim da tarde um rumor de que o Banco Central havia contatado algumas mesas de operação de bancos para saber se haveria demanda por swap cambial, medida que procura aumentar a oferta de dólar no mercado e evitar um movimento disfuncional do câmbio.
Somente nos dois primeiros dias de julho o dólar já apresenta valorização de quase 2%. Segundo analistas, quando esse tipo de contato é feito pelo Banco Central, é sinal de que uma intervenção pela autoridade monetária para arrefecer a disparada da divisa pode estar se aproximando.
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Com uma valorização acumulada de mais de 7% só nos últimos 30 dias, analistas avaliam que o dólar opera em alta excessiva, com elevado prêmio de risco. Para eles, não há fundamentos na economia neste momento que expliquem um câmbio tão alto.
Mesmo assim, não há consenso entre os analistas de até quanto a moeda pode continuar subindo, nem mesmo até quando, enquanto não houver sinalização mais clara do governo sobre o cenário fiscal.
Lula levanta dúvidas no mercado
Pela manhã, o presidente Lula disse que a alta do dólar era preocupante e que fazia parte de um jogo “especulativo” e de “interesses” contra o real. Ele também afirmou que teria uma reunião nesta quarta-feira, para tomar medidas contra a escalada da moeda americana. Ao ser questionado sobre quais seriam as medidas, o presidente disse que “não poderia falar porque estaria alertando os adversários”.
— Obviamente que me preocupa essa subida do dólar, é uma especulação, é um jogo de interesses especulativo contra o real nesse país. E eu tenho conversado com as pessoas sobre o que a gente vai fazer. Estou voltando (para Brasília) e quarta-feira terei uma reunião, porque não é normal o que está acontecendo, não é normal — disse o presidente em entrevista à rádio Solidariedade, de Salvador (BA).
Mercado reage às incertezas, diz economista
As falas de Lula trouxeram desconforto ao mercado e, ao contrário do que defendia o presidente, aumentou a especulação. A moeda americana chegou a bater a marca de R$ 5,68 pela manhã. Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, discorda das afirmações do presidente.
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Para ele, a escalada do dólar não é meramente especulativa, mas uma reação do mercado às incertezas no cenário fiscal:
— Não é uma questão especulativa, mas uma questão de risco do mercado, que reage às incertezas se protegendo, e tudo isso acaba prejudicando ainda mais a percepção de risco no Brasil, que já é muito afetada pelo fiscal, enquanto não há nenhuma sinalização concreta de que o governo vai cortar despesas por enquanto — avalia o economista.
Para Alexandre Viotto, diretor de banking e câmbio da EQI Investimentos, a falta de clareza nas falas do presidente pode abrir uma margem para ainda mais nervosismo no mercado:
— Essa fala deixou uma dúvida, uma pulga atrás da orelha. Que medida é essa? Essa questão pode ser uma surpresa nos próximos dias e espero que não seja nada intempestivo, que traga mais nervosismo — disse Alexandre Viotto, diretor de banking e câmbio da EQI Investimentos.
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Também nesta terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou de um evento do Banco Central Europeu (BCE), na cidade de Sintra, em Portugal, e disse estar vendo a inflação no Brasil convergir para a meta, apesar de reconhecer que o mercado de trabalho segue forte.
Ele também afirmou que o prêmio de risco na curva de juros está muito elevado, o que trouxe um alívio momentâneo para os ativos locais.
— Em outras palavras, avalio que o que os mercados precificam hoje não está em sincronia com a realidade — ele disse.
— Tivemos uma liquidação na maioria dos mercados emergentes, o Brasil foi mais afetado, mas isto tem muito mais a ver com os ruídos criados do que com os fundamentos.
Já pela tarde, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse não ver necessidade no momento de contingenciamento no Orçamento, o que trouxe novamente estresse aos ativos, somando-se à crescendo sensação de aversão a risco instalada nos últimos dias.
— Precisamos do relatório da Receita para decidir se vai ter contingenciamento, se vai ter que ter bloqueio e contingenciamento, e de qual é o tamanho desse bloqueio e o contingenciamento. Ninguém tem a resposta — disse a ministra a jornalistas após evento no Senado nesta terça.