Mateo Realdo Colombo, cirurgião italiano de Veneza, não tinha parentesco com o famoso navegador Cristóvão, responsável por redesenhar a cartografia do planeta desde a chegada à América, cerca de cem anos antes.
Não se pode dizer o mesmo, infelizmente, sobre a descoberta de Mateo. A localização do clitóris — único órgão do corpo humano dedicado exclusivamente ao prazer — em um livro de anatomia poderia ter sido tão revolucionária quanto outras descobertas daquela época. Mas há razões para os personagens reais dos escritórios modernos ainda navegarem perdidos pelo assunto no século 21.
Os “pais” do clitóris
Em sua dissertação de mestrado na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), sobre a mutilação cognitiva do clítoris, a pesquisadora Iaci da Costa Jara relata que, quando Colombo tentou registrar o clitóris em sua obra, muitos contemporâneos deram de ombros.
O órgão sexual feminino, afinal, já era conhecido de velha data dos anatomistas, o que fazia com que o estudo supostamente pioneiro soasse óbvio e ridículo. Mas havia um detalhe: apesar de ser conhecido pela medicina, o clitóris não era mencionado nos livros de anatomia. “Isso aponta para uma condição muito particular desse órgão: uma presença não anunciada”, diz Iaci.
Essa presença não anunciada torna incerta a afirmação de que foi Colombo quem descobriu o clitóris. Seu contemporâneo, o também anatomista Gabriele Falloppio, chegou na época a reivindicar os créditos pela revelação. E, anos depois, Kaspar Bartholin, médico dinamarquês, afirmou que o “pai” do clítoris não era nem um nem outro, já que havia estudos sobre o órgão desde o século II, quando o cirurgião Rufus de Éfeso, que vivia em uma região da atual Turquia, identificou o órgão como responsável pelo prazer feminino e o batizou com o nome com o qual o conhecemos hoje.