Vasculhando o tecido masculino, no final foram encontrados sete tipos de microplásticos diferentes: 47,8% eram polietileno tereftalato. Para bom entendedor, PET. Fragmentos daquela garrafinha de água que foram estacionar justo ali, no pênis. Outros 34,7% eram prolipropileno, plástico mais rígido com o qual são feitos, para dar poucos exemplos do cotidiano, baldes de faxina, potes de sorvete, de manteiga e de margarina, até tecido de capa de chuva!
Muitas dessas partículas aproveitavam para se agarrar, como se elas — pobre, pênis — é que quisessem dormir agarradinhas. Mas é cedo para dizer até que ponto isso atrapalharia a circulação do órgão e a exibição de sua potência.
“Será que esses microplásticos que, afinal, não nasceram ali, criaram uma inflamação por serem estranhos, fazendo o pênis não reagir às demandas fisiológicas diante de um estímulo sexual?”, questiona o professor Fernando Facio, ecoando uma hipótese levantada pelos próprios autores da pesquisa. “Será, ainda, que esse processo inflamatório levaria àquela resposta fraca dos medicamentos usados para tratar a disfunção erétil?”, ele também se pergunta.
Não, não dá para descartar nada disso por enquanto. O ideal, lembra o urologista, seria a realização de novos estudos, comparando amostras de tecido com e sem microplásticos, vindas de homens com dificuldade de ereção. Mas parece que encontrar um organismo sem plástico impregnado neste mundo será missão impossível. Aliás, os microplásticos, em trabalhos anteriores, já foram localizados até em testículos, sendo associados a problemas de fertilidade masculina. É a primeira vez, porém, que recebem a acusação de serem estraga-prazeres.
Pelos homens e pelo planeta
Segundo a economista Gabriela Gugelmin, diretora de inovação e sustentabilidade da ERT Bioplásticos, no Brasil a situação pode ser pior. Isso porque nossa legislação ainda permite a utilização de um oxi-degradante na produção de plástico que já é proibido em boa parte do mundo.