Dezenas de jatos de guerra israelenses entraram no espaço aéreo libanês e bombardearam cerca de 1.600 alvos do grupo xiita libanês Hezbollah no sul do Líbano e no Vale do Bekaa nesta segunda-feira, deixando 492 mortos, incluindo mulheres e crianças, e mais de 1.645 feridos, de acordo com o governo do Líbano.Foi o dia mais sangrento no país desde o fim da Guerra Civil Libanesa em 1990 e o dia mais mortal de ataques de Israel no Líbano desde ao menos 2006, quando Tel Aviv lutou uma longa guerra contra a organização xiita apoiada pelo Irã.
Um dos ataques foi lançado contra a capital, Beirute, tendo como alvo o número três da ala militar do grupo, Ali Karaki, informou o Exército israelense. Segundo o Hezbollah, o comandante está “bem” e em um “lugar seguro”. O Hamas, por sua vez, confirmou que seu comandante no sul do Líbano, Mahmoud al Nader, foi morto em dos um ataques desta segunda-feira.
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As ações ocorreram enquanto cidadãos libaneses eram alertados a “se afastarem” de posições do Hezbollah um dia após o grupo ter lançado cerca de 150 foguetes, mísseis e drones contra Israel — 85 deles na área de Haifa, a terceira maior cidade do Estado judeu.
De acordo com o Ministério de Saúde do Líbano, 58 mulheres e 35 menores estão entre os mortos, além de trabalhadores de saúde. O ministério, no entanto, não especificou quantos seriam combatentes do Hezbollah. Segundo as Forças Armadas de Israel, houve registro de detonações secundárias após os bombardeios das centenas de alvos, confirmando que seriam depósitos de armas do Hezbollah.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse à população israelense para esperar “dias complicados”. Sirenes soaram repetidamente em comunidades no norte do país. O Exército israelense disse que ao menos 210 foguetes e outras munições chegaram no território israelense a partir do Líbano desde a manhã desta segunda. A maioria dos projéteis foram interceptados pelo sistema de defesa antiaérea de Israel ou caíram em áreas abertas, disseram os militares, mas serviços de emergência registraram ao menos cinco pessoas com ferimentos leves.
Questionado se haveria uma invasão terrestre, o principal porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, afirmou que o Exército “está atualmente centrado apenas na campanha aérea” com três objetivos: reduzir a capacidade do Hezbollah de disparar foguetes contra as áreas de fronteira, afastar seus combatentes da região e destruir a infraestrutura que foi construída pela força de elite do grupo xiita — as Forças Radwan — que, de acordo com o Hagari, seriam usadas para atacar “comunidades israelenses no norte, massacrar, assassinar e sequestrar civis”.
Muitas estradas que levam para Beirute, a capital do Líbano, ficaram congestionadas com pessoas fugindo para o que esperam ser um local mais seguro, disseram testemunhas. Mas, na anoitecer desta segunda-feira, Israel conduziu um ataque aéreo na cidade, o primeiro desde que, na sexta-feira, assassinou Ibrahim Aqil, um comandante graduado do grupo, em um prédio residencial durante um bombardeio que também deixou dezenas de mortos e feridos.
O Ministério da Saúde do país determinou que os hospitais do sul cancelem a realização de cirurgias eletivas para se concentrarem nos atendimentos de urgência em meio aos bombardeios. Também em Beirute, escolas particulares pediram que os pais de alunos buscassem seus filhos, diante da possibilidade de ataques. Do lado de fora de uma escola no leste da capital, o New York Times descreveu uma cena de confusão, com a rua congestionada pelo trânsito, dezenas de estudantes de ensino médio à espera de seus responsáveis, e estudantes mais novos saindo correndo da escola, segurando as mãos dos pais.
O governo libanês também determinou que escolas pelo país, incluindo da capital, abrissem as portas para pessoas deslocadas pelo conflito, principalmente do sul e do Vale do Bekaa. A estimativa, antes dos ataques mais recentes, é de que ao menos 90 mil pessoas já tivessem abandonado suas casas em razão das hostilidades, que começaram em 8 de outubro de 2023, um dia após os ataques do grupo terrorista Hamas no sul israelense.
Israel alerta libaneses a ‘se afastarem’ de posições do Hezbollah e lança nova onda de ataques
À agência de notícias britânica Reuters, o chefe da operadora de telecomunicações libanesa Ogero afirmou que Israel fez mais de 80 mil tentativas de ligação nesta segunda-feira, pedindo que as pessoas saíssem de determinadas áreas. Ao menos um ministro do governo do Líbano confirmou que mensagens de texto e de voz também chegaram a residentes do sul do país, indicando que saíssem de territórios onde o Hezbollah atua ou armazena armas.
A popular estação de rádio Voice of Lebanon afirmou ter sido hackeada pelas forças israelenses para transmitir a mensagem de retirada ao vivo. As Forças Armadas israelenses também publicaram um mapa mostrando 19 aldeias e cidades no sul do Líbano que estariam dentro do escopo das ações militares.
— Aconselhamos os civis das populações libanesas localizadas dentro e perto de edifícios e áreas usadas pelo Hezbollah para fins militares a partirem imediatamente. [As forças israelenses] realizarão bombardeios [mais] extensos e precisos contra alvos terroristas que se tornaram amplamente enraizados em todo o Líbano — afirmou Hagari em uma mensagem voltada especificamente à população do Vale do Bekaa, no sudeste do país.
Em uma declaração posterior, o porta-voz disse que os moradores do Bekaa tinham duas horas para deixarem locais usados pelo Hezbollah. As hostilidades entre os dois lados começaram a escalar na semana passada, quando uma operação atribuída aos israelense — negada pelo presidente do país no fim de semana — causou a detonação de milhares de aparelhos pager e walkie-talkies usados pelo grupo libanês. Dezenas morreram e mais de 3 mil ficaram feridos, segundo as autoridades libanesas.
Após pagers, walkie-talkies do Hezbollah explodem no Líbano e deixam dezenas de mortos e feridos
O Hezbollah respondeu com força. Centenas de foguetes foram disparados de diferentes pontos do sul do Líbano contra o norte de Israel, forçando as autoridades do Estado judeu a fecharem o espaço aéreo de parte do país no fim de semana e emitirem restrições de segurança para a população civil. No domingo, o grupo disparou cerca de 150 foguetes, mísseis de cruzeiro e drones, atingindo uma área civil perto de Haifa.
A promessa do Hezbollah é de que as ações israelenses no Líbano não passarão sem resposta. O grupo afirmou que só vai suspender as hostilidades contra o Estado judeu quando um cessar-fogo em Gaza for obtido. O movimento libanês é aliado do grupo palestino Hamas, no Eixo da Resistência, liderado pelo Irã.
Em meio aos ataques do Hezbollah, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, declarou que a população israelense “precisará mostrar calma, disciplina e total conformidade com as instruções do Comando da Frente Interna” nos próximos dias. Moradores de Katzrin, no norte de Israel, foram instruídos a permanecer perto de abrigos e evitar lugares lotados até novo aviso — uma recomendação que vem sendo reiterada desde a semana passada.
Após o bombardeio de domingo perto de Haifa, o vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que o ataque era “apenas o começo” da represália a Israel, afirmando que o conflito havia entrado em “um novo estágio”.
— [O Hezbollah lutará contra Israel] de onde eles esperam e de onde eles não esperam — disse Qassem. (Com AFP e NYT)