Há cinco anos, Laura Loomer, uma ativista da extrema direita americana com um histórico de opiniões preconceituosas e um talento especial para publicidade, entrou com um pedido de registro de marca para proteger o termo que cunhou ao emboscar pessoas com perguntas inesperadas e embaraçosas: “Loomered”. Aos 31 anos, ela faz parte de uma geração de influenciadores que faz sucesso na internet graças ao seu ativismo antimuçulmano, espionagem e acrobacias políticas.
Esta semana, ela se viu no centro da campanha presidencial ao viajar com o ex-presidente Donald Trump para o debate contra a vice-presidente Kamala Harris e depois o acompanhar aos eventos comemorativos do 11 de setembro na cidade de Nova York e em Shanksville, na Pensilvânia.
- Um dos conteúdos de Laura Loomer: Atrás de cliques, influenciadores de direita americanos se multiplicam na selva de Darién
- Custo da conspiração: Cidade nos EUA tem alerta de bomba após Trump dizer que migrantes haitianos comem pets
Por que Laura Loomer é alvo de críticas de políticos de ambos os lados?
Loomer fez uma série de comentários racistas, sexistas, homofóbicos e islamofóbicos no passado. Ela descreveu o Islã como um “câncer”, usou a hashtag “#proudislamophobe” e uma vez pareceu comemorar a morte de migrantes que atravessavam o Mediterrâneo. Em 2018, depois que o Twitter a baniu por conteúdo antimuçulmano frequente, ela se algemou à sede da empresa em Nova York e usou uma estrela de Davi amarela semelhante às que os nazistas forçaram os judeus a usar durante o Holocausto — Loomer é judia.
Depois que o bilionário Elon Musk comprou o Twitter, sua conta foi restabelecida e, desde então, ela conquistou mais de 1,2 milhão de seguidores no site e tem um programa na internet. Ela frequentemente divulga conteúdo elogiando Trump e atacando ferozmente qualquer pessoa que ela possa considerar um rival.
Dois dias antes de viajar com Trump para o debate, ela escreveu em uma publicação no X que se Kamala, cuja mãe era indiana-americana, ganhasse a eleição, a Casa Branca “cheiraria a curry”.
Laura Elizabeth Loomer ainda estava no último ano da Barry University, perto de Miami, quando fez um vídeo filmando secretamente os funcionários da universidade discutindo sua proposta de criar um clube para estudantes que apoiam o Estado Islâmico, ou ISIS. A filmagem foi captada pelo Projeto Veritas, grupo conservador fundado por James O’Keefe para realizar operações de espionagem. O vídeo virou notícia, e ela trabalhou com O’Keefe no Projeto Veritas por vários anos.
Como ela se tornou conhecida?
Um dos primeiros momentos de fama de Loomer ocorreu em 2017, quando ela interrompeu uma apresentação da peça “Júlio César”, de Shakespeare, no Central Park, em Nova York, porque a produção dava ao imperador condenado uma semelhança marcante com Trump. Logo após a cena em que César foi assassinado, Loomer pulou no palco e gritou:
— Isso é violência contra Donald Trump! Parem com a normalização da violência política contra a direita!
Como Loomer tem se saído na política?
Em 2020, Loomer concorreu ao Congresso no 21º Distrito da Flórida como republicana. Quando ela venceu as primárias republicanas, Trump a parabenizou no Twitter. “Muito bem, Laura”, acrescentando: “Você tem uma grande chance contra um fantoche da Pelosi!”, em referência à então democrata líder da Câmara, Nancy Pelosi. Loomer, porém, acabou perdendo a eleição geral. Dois anos depois, ela desafiou o deputado Daniel Webster, um republicano da Flórida, em uma primária, mas perdeu.
Fala de Trump sobre ‘comer animais de estimação’ nos EUA vira meme nas redes; veja reações
Alegações falsas do republicano sobre migrantes no estado de Ohio foram rapidamente comentadas por usuários
Qual é o relacionamento dela com a campanha de Trump?
Loomer esteve em Mar-a-Lago, luxuosa residência de Trump em Palm Beach, na Flórida, pelo menos nove vezes desde janeiro de 2021. Ela voou no jato de Trump para os caucus (equivalente às primárias) de Iowa e quase foi contratada pela campanha em 2023, até que a cobertura da imprensa e a resistência interna acabaram com o plano.
Mas o fato de Trump ter abraçado publicamente uma figura tão divisiva nos críticos dois últimos meses da campanha causou preocupação, aumentando a especulação de que a presença dela era um sinal de que a campanha estava se voltando ainda mais para a direita em um momento em que precisava atrair eleitores independentes.
Quais republicanos a estão criticando?
Embora algumas pessoas da direita tenham se manifestado para defendê-la, um número pequeno, mas crescente, de republicanos criticou suas recentes viagens com Trump.
A deputada Marjorie Taylor Greene, republicana da Geórgia, escreveu no X na quarta-feira que a postagem de Loomer sobre curry era “terrível e extremamente racista” e disse que “não representa quem somos como republicanos ou MAGA”. Loomer, uma ex-aliada de Greene que entrou em conflito com ela em várias questões nos últimos anos, respondeu com uma tirada de vários posts, acusando Greene de ter “ciúmes” de seu acesso a Trump, observando o histórico de comentários polêmicos da própria Greene, fazendo ataques pessoais e defendendo seu post sobre curry: “Não vou me desculpar por ter senso de humor”, escreveu ela.
- Faça o quiz e descubra: Após debate nos EUA, você é Trump ou Kamala?
Lindsey Graham, senador republicano da Carolina do Sul, disse a um repórter do HuffPost na quinta-feira que Loomer “é realmente tóxica”. Ela respondeu no X com um post questionando a lealdade de Graham a Trump e fazendo um ataque pessoal a ele.
Na sexta-feira, Thom Tillis, senador republicano da Carolina do Norte, chamou Loomer de “uma teórica da conspiração maluca que regularmente profere lixo nojento com a intenção de dividir os republicanos” no X. Logo após a postagem, Loomer também foi atrás de Tillis, chamando-o de “RINO” — sigla em inglês para “Republicano apenas no nome” — “que atacou o presidente Trump depois de 6 de janeiro”.
Trump defendeu Loomer em uma coletiva de imprensa na sexta-feira, chamando-a de uma de suas apoiadoras:
— Eu não controlo Laura. Laura tem que dizer o que ela quer. Ela é um espírito livre.
Quando perguntado sobre as teorias de conspiração que ela havia espalhado e seus recentes comentários racistas, ele disse que não tinha conhecimento delas.
— Sei que ela pode ter dito algo com base no que vocês estão me dizendo, mas não sei o que ela disse — disse Trump. — Mas vou dar uma olhada e farei uma declaração mais tarde.
Poucas horas depois, ele escreveu em seu site de mídia social, Truth Social: “Não concordo com as declarações que ela fez, mas, como os muitos milhões de pessoas que me apoiam, ela está cansada de ver os marxistas e fascistas da esquerda radical me atacarem violentamente e me difamarem”, sem especificar quais declarações estava se opondo.