O Serviço Secreto dos EUA admitiu que os agentes responsáveis pela segurança do ex-presidente Donald Trump não fizeram nenhuma varredura no perímetro do Trump International Golf Club, em West Palm Beach, Flórida, onde um atirador se posicionou com um fuzil AK-47 com o aparente objetivo de levar a cabo um atentado contra o republicano. Trump foi retirado do local em segurança e o suspeito foi localizado antes de conseguir abrir fogo, apesar de informações que indicam que teria esperado por cerca de12 horas na posição de tiro.
As informações sobre a movimentação do atirador foram divulgadas pelo FBI — a polícia federal dos EUA. De acordo com a agência, dados de geo-localização do celular do atirador indicam que ele espreitou nos arredores do campo de golfe, localizado próximo à mansão de Trump em Mar-a-Lago, por cerca de 12 horas. Ele teria chegado ao local na madrugada do domingo, ficando a poucas centenas de metros do ex-presidente antes de ser identificado como uma ameaça.
À medida que detalhes sobre o caso são revelados, uma nova onda de questionamentos recaem sobre o Serviço Secreto, responsável pela segurança de Trump, pouco mais de dois meses depois da falha que permitiu que um atirador de 20 anos atingisse o ex-presidente com um disparo de fuzil AR-15 na orelha. O primeiro atentado, durante um comício eleitoral na Pensilvânia, levantou dúvidas sobre os recursos e a capacidade da agência de desempenhar suas funções diante de um cenário de violência política crescente.
Inicialmente, após os agentes conseguirem identificar o cano da arma do atirador e expulsá-lo a tiros do campo de golfe, tanto Trump quanto autoridades ligadas aos serviços de segurança louvaram o trabalho da equipe no terreno. Contudo, não demorou para um viés crítico surgir da própria agência quando as informações eram consolidadas.
O diretor interino do Serviço Secreto, Ronald L. Rowe Jr., afirmou que Trump “nem deveria estar” no campo de golfe no domingo, durante uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira no Departamento do Xerife do Condado de Palm Beach, que respondeu à ocorrência de disparos no campo de golfe.
Ainda de acordo com o diretor, a partida de golfe não estava prevista no cronograma oficial do candidato presidencial. Ele não esclareceu se isso significava que os agentes não tiveram tempo de varrer o campo de golfe. No entanto, é de conhecimento público que o republicano joga frequentemente aos domingos, o que aumenta o nível de risco para o ex-presidente.
Rowe elogiou seus agentes por avistarem o cano de uma arma saindo dos arbustos do clube de golfe e dispararem contra o suspeito, Ryan W. Routh, de 58 anos, antes que ele pudesse atirar. Routh chegou a se evadir do local em um automóvel, mas foi interceptado pouco tempo depois em uma barreira policial (imagens da captura foram divulgadas pela polícia local). Ele foi acusado criminalmente em um tribunal federal na segunda-feira por posse ilegal de arma de fogo.
Os métodos do Serviço Secreto “foram eficazes”, disse Rowe. Ele ressaltou a identificação “precoce” da ameaça, a retirada imediata de Trump e a ajuda de medidas de proteção aumentadas — incluindo a presença de franco-atiradores.
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Mas após o episódio de domingo, legisladores, autoridades policiais e ex-membros do Serviço Secreto questionaram se a agência, já em dificuldade, ainda estava à altura de sua missão de proteger presidentes atuais e ex-presidentes e suas famílias.
— Estou muito preocupada com os relatos de que o suspeito supostamente ficou nos arbustos por 11 horas — disse Beth Celestini, uma agente de longa data do Serviço Secreto que protegeu o presidente Barack Obama antes de se aposentar em 2021. — O Serviço Secreto tem protocolos que, se ativados, esse suspeito deveria ter sido descoberto antes do incidente.
Ronald Layton, um veterano da agência que liderou divisões com supervisão de proteção e segurança em eventos com 26 anos de experiência, perguntou:
— Foi apenas sorte que vocês pegaram esse cara, ou vocês tinham os mecanismos apropriados para lidar com essas coisas no espectro de ameaças? — disse.
Rowe afirmou que, para lidar com um ambiente de ameaças cada vez mais desafiador, o Serviço Secreto precisaria que o Congresso fornecesse mais recursos para pessoal, horas extras e instalações.
Seu apelo já havia recebido o endosso do presidente Joe Biden, que disse a repórteres da Casa Branca na manhã de segunda-feira que “o Serviço precisa de mais ajuda” e que o Congresso “deveria atender às suas necessidades”.
Assessores envolvidos com os Comitês de Apropriações do Senado e da Câmara, que pediram anonimato porque não estavam autorizados a divulgar discussões privadas, disseram que os comitês estavam revisando os pedidos do Serviço Secreto.
Ao mesmo tempo, altos funcionários da Câmara estão considerando se devem realizar uma votação para expandir a jurisdição de uma força-tarefa investigativa para incluir os eventos de domingo, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto. A força-tarefa da Câmara está investigando as circunstâncias do atentado de 13 de julho em Butler, Pensilvânia.
O Serviço Secreto agora está realizando sua segunda revisão interna em dois meses, na esperança de determinar se lidou adequadamente com os eventos de domingo. Os agentes encarregados de proteger presidentes atuais e ex-presidentes e suas famílias estão trabalhando longas horas sem muito alívio.
Além de proteger líderes estrangeiros que visitam os Estados Unidos, o Serviço Secreto protege mais de 40 pessoas: Biden, a vice-presidente Kamala Harris, Trump, outros ex-presidentes e suas famílias imediatas. Um aumento nos discursos de ódio e ameaças violentas complicou a missão da agência.
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Desde Butler, o Serviço Secreto realocou membros da equipe avançada de Biden para Trump e Harris, forneceu vidros especiais para cercar Trump durante eventos de campanha e recebeu recursos adicionais do Pentágono. Sua agência-mãe, o Departamento de Segurança Interna, também mobilizou 1.500 agentes de investigação próprios para reforçar os quadros do Serviço Secreto.
A escassez crônica de pessoal, agravada pelas longas — e às vezes extenuantes — horas de trabalho, deixou o Serviço Secreto com falta de recursos em áreas como instalações e tecnologia. Em resposta às ofertas de legisladores para fornecer financiamento adicional, Rowe também escreveu a dois senadores neste mês, antes do incidente próximo de domingo.
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“As crescentes exigências de missão do Serviço Secreto exigem recursos adicionais para garantir que tenhamos as ferramentas, os recursos e o pessoal necessários para atender a esses novos requisitos”, escreveu Rowe na carta de 5 de setembro.
Esses recursos, que foram detalhados em páginas adicionais da carta que não foram revisadas pelo New York Times, ainda não parecem ter sido disponibilizados. Mas na segunda-feira, Rowe disse estar otimista de que seriam.
“Sucesso, temos que ter todos os dias. Não podemos ter falhas”, disse ele. “E, para isso, vamos ter algumas conversas difíceis com o Congresso.” (Com NYT)