O governo de Portugal mobilizou um efetivo de 3,7 mil bombeiros nesta terça-feira para combater uma série de incêndios florestais que destruiu cerca de 10 mil hectares e provocou sete mortes no país desde domingo. Em três dias, as chamas destruíram mais superfície do que todos os focos de incêndio registrados no país em todo o verão (no Hemisfério Norte). Lisboa espera a chegada de ajuda de países europeus ao longo do dia.
O serviço de Emergência e Proteção Civil informou o combate de 65 focos de incêndio na tarde desta terça-feira (manhã em Brasília), a maioria nas regiões de Porto e Aveiro, no centro e norte do país. A situação foi classificada como “complexa” pelas autoridades.
Os incidentes mais graves até o momento foram registrados nos arredores do município de Albergaria-a-Velha, onde três pessoas morreram, incluindo um brasileiro de 28 anos que foi carbonizado enquanto tentava salvar as máquinas da empresa em que trabalhava, na segunda-feira.
— Tivemos muito medo! Queimaram todas as minhas terras (…) tive a sorte que a minha casa não foi atingida — disse Maria Ribeiro, uma aposentada de 82 anos que vive na cidade de Busturenga, nos arredores de Albergaria-a-Velha, com lágrimas nos olhos. — Ninguém veio nos socorrer.
Com o passar dos dias, Portugal ampliou as tentativas de combater as chamas. As informações oficiais dão conta de que mil veículos estão sendo utilizados na operação de combate aos incêndios , além de vinte aviões e helicópteros. O governo português também pediu ajuda aos aliados europeus: reforços chegados da Espanha já estão trabalhando em solo, enquanto contingentes de França, Itália e Grécia são esperados ainda nesta terça-feira.
Apesar da ampla mobilização, o trabalho de combate aos incêndios é difícil e perigoso. O comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, André Fernandes, comunicou nesta terça-feira a morte de três bombeiros em serviço na região de Viseu, no norte do país. O veículo que transportava os oficiais — um homem e duas mulheres — ficou preso pelas chamas.
Em nota, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou pesar pela morte dos bombeiros, dizendo-se “profundamente consternado” com a situação. O primeiro-ministro Luís Montenegro também lamentou o incidente, e cancelou todos os compromissos de sua agenda oficial até sexta-feira.
“Foi com profunda consternação que tive conhecimento da perda da vida de três bombeiros. Expresso as mais sentidas condolências às famílias e à corporação destes três heróis que deram a vida pela defesa de Portugal e dos portugueses”, diz uma nota de pesar do gabinete de Montenegro.
Portugal entrou em “alerta máximo” pelos incêndios do fim de semana — situação que se agravou na segunda-feira. As chamas se propagaram muito rápido, alimentadas por fortes ventos e temperaturas acima de 30ºC. Foram notificados ao menos 40 feridos, entre eles 33 bombeiros.
Especialistas indicam que o aumento das ondas de calor, assim como sua crescente duração e intensidade, são consequências da mudança climática. A Península Ibérica é uma das regiões mais afetadas pelo aquecimento global, e as canículas — períodos de ondas de calor — e a seca favorecem a propagação de incêndios.
Habitantes de Albergaria-a-Velha afirmam que não viam um incêndio dessa magnitude em mais de 20 anos. A idosa Maria Fátima, de 67 anos, descreveu um cenário de confusão em seu povoado.
— Me refugiei em casa. Nunca vi nada parecido. O fogo cercou o povoado e os aviões não conseguiam voar devido à fumaça — disse Maria. (Com AFP)