O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza informou nesta terça-feira que o ataque aéreo israelense contra uma zona humanitária em al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 19 pessoas mortas, e não 40, como informou mais cedo a Defesa Civil do enclave. O número de feridos, porém, segue o mesmo, 60. Tanto a Defesa Civil quanto a pasta são administrados pelo grupo terrorista Hamas, no poder em Gaza desde 2007.
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“Várias vítimas ainda estão sob os escombros, sob a areia e nas estradas, as equipes de ambulância e Defesa Civil não conseguem alcançá-las e resgatá-las, e elas não chegaram aos hospitais ainda”, informou o Ministério da Saúde, segundo a al-Jazeera, afirmando que o número de mortos pode aumentar à medida que os corpos são recuperados, acrescentou a Associated Press.
O gabinete de imprensa do Hamas, também citado pela AP, explicou que a discrepância no número de mortos deve-se à diferença nos métodos de contagem: enquanto o ministério conta apenas os corpos levados para hospitais, a Defesa Civil também conta os corpos que ainda não foram recuperados. Os números do Ministério da Saúde são citados pela maioria das organizações internacionais e várias agências da ONU, especialmente a responsável pelos refugiados palestinos (UNRWA), que consideram as estatísticas confiáveis.
Um cinegrafista da AP que estava no Hospital Nasser, em Khan Younis, disse ter visto dez corpos no necrotério, incluindo duas crianças e três mulheres. Segundo a Defesa Civil, a unidade foi uma das três a receber as vítimas do ataque aéreo.
‘Famílias inteiras desapareceram’
Em um comunicado separado nesta terça, o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal, indicou que as pessoas refugiadas no acampamento não foram alertadas sobre o ataque e explicou que a escassez de ferramentas e equipamentos prejudica as operações de resgate. Ele afirmou que “de 20 a 40 barracas foram completamente danificadas” e que o ataque deixou três grandes crateras na área. Testemunhas oculares citadas pela rede CNN afirmam que pelo menos cinco mísseis atingiram a região.
— Famílias inteiras desapareceram no massacre de al-Mawasi, em Khan Yunis, sob a areia, em buracos profundos — disse à AFP Mohamed al-Mughair, um funcionário da Defesa Civil, acrescentando que as equipes “ainda estão trabalhando para encontrar 15 pessoas desaparecidas”.
O Exército israelense disse que realizou “um ataque preciso contra vários terroristas” que estariam operando em um centro do comando e controle do grupo “dentro da área humanitária em Khan Younis”. Foram atingidos no bombardeio, Samer Ismail Khadr Abu Daqqa, chefe da unidade aérea do Hamas em Gaza, Osama Tabesh, chefe do departamento de observação e alvos do quartel-general da inteligência do grupo, e Ayman Mabhouh, outro combatente sênior do grupo, informaram as forças em um comunicado no Telegram.
“Antes do ataque, foi realizada uma ampla coleta de informações de inteligência, bem como uma vigilância aérea contínua nas horas que antecederam o ataque, o que confirmou a presença dos terroristas na área, juntamente com outros agentes terroristas”, disse o Exército israelense. O Hamas negou as alegações, classificando-as como “uma mentira descarada”.
— Nos disseram que deveríamos seguir para al-Mawassi, […] então nos instalamos aqui. A área foi bombardeada sem aviso prévio — declarou à AFPTV um palestino deslocado para aquela zona, que preferiu não revelar o nome. — Há apenas barracas à nossa volta, abrigos, não há nada aqui, e vimos os mísseis caindo sobre as nossas cabeças.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, expressou indignação com o ataque:
— Estamos nos reunindo em um momento crítico, um momento crítico para garantir um cessar-fogo em Gaza, com as mortes chocantes em Khan Younis nesta manhã apenas reforçando o quão desesperadamente necessário é esse cessar-fogo — disse Lammy nesta terça-feira ao lado do secretário de Estado americano, Antony Blinken.
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O coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, também condenou de modo “veemente” os ataques israelenses “contra uma área densamente habitada em uma zona humanitária designada por Israel“.
A cidade costeira de al-Mawasi, em Khan Younis, foi designada como uma “zona segura” por Israel, que ordenou em maio que os palestinos rumassem para a região à medida que intensificavam suas operações no sul de Gaza. Al-Mawasi, que tinha uma densidade populacional de 1.200 habitantes por km² antes da guerra, atingiu agora “entre 30 mil e 40 mil pessoas por quilômetro quadrado”, enquanto a parte supostamente segura foi reduzida de 50 para 41 km², segundo a ONU.
O ministro israelense da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que o Hamas “não existe mais como formação militar” na Faixa de Gaza.
— O Hamas está envolvido em uma guerra de guerrilha e ainda estamos lutando contra terroristas do Hamas e perseguindo sua liderança — disse Gallant em uma entrevista concedida à imprensa estrangeira na segunda-feira, que teve alguns trechos divulgados nesta terça. O minsistro defendeu a pertinência de estabelecer uma trégua com os combatentes.
O conflito em Gaza começou em 7 de outubro, quando um ataque terrorista do Hamas contra o sul de Israel deixou 1.205 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses. Os militantes também sequestraram 251 pessoas, das quais 97 continuam em cativeiro em Gaza e 33 morreram, segundo o Exército israelense.
A ofensiva militar de Israel em resposta matou pelo menos 41.020 pessoas na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território. A ONU afirma que a maioria das vítimas são mulheres e crianças. Além disso, a organização informa que a grande maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados de suas casas pelo menos uma vez durante a guerra.
Estados Unidos, Catar e Egito, os países mediadores, tentam há vários meses negociar um acordo de trégua e troca de presos palestinos por reféns israelenses, mas as conversações estão paralisadas. O Hamas exige a saída completa das tropas israelenses de Gaza, mas Israel insiste em manter o controle de um corredor na fronteira entre o território palestino e o Egito. (Com AFP)