O Hamas divulgou na segunda-feira um vídeo em que aparece a refém Eden Yerushalmi, de 24 anos, cujo corpo foi recuperado pelo Exército israelense no último fim de semana. Divulgado no Telegram um dia após a confirmação da morte da jovem pelas autoridades israelenses, o vídeo dura aproximadamente 2 minutos e não há indícios de quando e onde foi gravado. Nele, Yerushalmi aparece sentada, de cabelos soltos, com um fundo branco, e manda uma mensagem à família.
— Pai, mãe, minhas irmãs Shani e May, sinto saudades de vocês. Amo vocês e sinto muitas saudades de todos vocês — disse a jovem em hebraico, com olheiras profundas.
A família da jovem reagiu ao vídeo por meio do Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, grupo que representa os familiares dos sequestrados levados para Gaza durante o ataque terrorista de 7 de outubro, classificando-o como “chocante”. Eles também responderam à declaração de Yerushalmi: “Nossa Eden, nós também te amamos e sentimos sua falta loucamente. Você está para sempre em nossos corações.”
Grupos de direitos humanos e especialistas de direito internacional afirmam que vídeos de reféns, por definição, são feitos sob coação e que as declarações são geralmente forçadas. As autoridades israelenses classificam os vídeos divulgados pelo Hamas como “guerra psicológica”, e especialistas sugerem que sua produção pode constituir um crime de guerra.
Também na segunda-feira, o grupo divulgou um vídeo com todos os seis reféns — além de Yerushalmi, Carmel Gat, Hersh Goldberg-Polin, Alexander Lobanov, Almog Sarusi e Ori Danino —, sugerindo que vídeos semelhantes ao da jovem seriam publicados nas horas seguintes.
‘Jovem vibrante’ e ‘amigável’
Descrita como “amigável” e uma “jovem vibrante”, Yerushalmi era moradora de Tel Aviv. Ela foi sequestrada durante o festival de música eletrônica Nova enquanto trabalhava como bartender. No evento, 370 pessoas foram mortas e pelo menos 44, sequestradas. A jovem chegou a implorar por ajuda à polícia, afirmando estar escondida em arbustos, segundo o fórum. “Há tiros”, descreveu Yerusalmi, dizendo depois que os combatentes podiam vê-la e estavam mirando na sua direção. Ela também fez contato com as irmãs, acrescentou o fórum. Suas últimas palavras foram “Eles me pegaram”.
Os restos mortais de Yerushalmi foram repatriados junto com os dos outros cinco reféns, apenas duas semanas após os corpos de outros seis reféns terem sido recuperados nas mesmas condições. A notícia provocou uma onda de protestos em cidades israelenses no domingo e a organização de uma greve geral por uma central sindical na segunda-feira. “Os queremos de volta vivos, e não em caixões!”, gritaram os manifestantes na cidade de Rehovot, no centro de Israel, no fim de semana.
Segundo as Forças Armadas de Israel, os seis reféns foram “brutalmente assassinados” pelos combatentes do Hamas em seu cativeiro. O Ministério da Saúde disse no domingo que o assassinato ocorreu entre quinta-feira e sexta-feira de manhã, à queima roupa, pouco antes dos militares israelenses chegarem. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante entrevista coletiva convocada para segunda-feira, disse que os cativos teriam sido atingidos com um “tiro na nuca”.
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O premier, que é pressionado pela população israelense e pela comunidade internacional para que assine um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos cativos ainda vivos em Gaza (evitando, portanto, o mesmo fim dos seis corpos repatriados), pediu perdão em público pela primeira vez aos familiares das vítimas “por não termos conseguido trazê-los de volta vivos”.
Segundo a proposta que tem sido debatida nas últimas semanas, Yersushalmi, assim como Goldberg-Polin, que é cidadão americano-israelense, e Gat, deveria ser libertada na primeira fase do acordo. Uma fonte israelense, citada pelo jornal Haaretz, afirma que os três apareciam “nas listas enviadas no início de julho” e que “poderiam ter sido trazidos de volta vivos”. Apesar das mediações de Catar, EUA e Egito, o acordo tem avançado pouco devido à insistência de Netanyahu para manter o controle do Corredor Philadelphi, o que é inaceitável na visão do Hamas.
— Estivemos muito perto, mas não conseguimos — declarou o premier, prometendo uma “forte reação” contra o grupo.
Até segunda-feira, dos 251 reféns e corpos levados para Gaza durante o ataque terrorista do Hamas, 64 seguem em cativeiro e supostamente vivos. Também na segunda, poucas horas após a coletiva de Netanyahu, o porta-voz das Brigadas al-Qassam, o braço armado do grupo, afirmou que os reféns mantidos em Gaza voltarão “em caixões” se Israel mantiver sua pressão militar. (Com New York Times)