O Exército israelense anunciou que matou ao menos dez palestinos — que descreveu como “terroristas armados” sem apresentar informações adicionais sobre suas identidades — ao iniciar uma operação militar em larga escala no norte da ocupada Cisjordânia, em conjunto com a agência de segurança interna Shin Bet na madrugada desta quarta-feira. De acordo com o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz militar, pelo menos sete das mortes foram consequência de ataques aéreos. Os centenas de soldados, pontuou, estão apenas “nos primeiros estágios da operação”, que pode durar dias, segundo o jornal israelense Haaretz.
De acordo com Israel, a operação “antiterrorismo” foi lançada contra militantes após meses de ataques crescentes e, além dos bombardeios, envolveu forças terrestres, drones e escavadeiras atuando de forma coordenada em quatro cidades: Nablus, Tubas, Jenin e Tulkarem, sendo as duas últimas alvo das ações mais intensas por terem se tornado redutos militantes, segundo Shoshani. Acredita-se que as incursões sejam a primeira vez desde a Segunda Intifada — levante palestino de 2000 a 2005 — em que várias cidades palestinas foram alvos simultâneos. Em julho de 2023, cerca de mil soldados israelenses invadiram Jenin por 48 horas, matando 12 palestinos, com ao menos nove sendo identificados como membros de grupos militantes.
Um grupo armado com base em Jenin disse que disparou contra forças israelenses nas vilas de Sir e Misilyah, nos arredores da cidade, e palestinos nos dois locais disseram ter ouvido tiros intermitentes. Segundo fontes militares ouvidas pelo Haaretz, um dos focos do ataque era uma rede suspeita de estar por trás de um atentado suicida na semana passada em Tel Aviv. O administrador de Jenin, Kamal Abu al-Rub, disse que as autoridades israelenses informaram a imposição de um toque de recolher formal em algumas partes da cidade. Os militares, disse, cercaram hospitais, bem como as entradas e saídas da cidade.
— As pessoas estão vivendo em um estado de terror e ansiedade — afirmou al-Rub.
A operação se segue a meses de uma escalada de incursões israelenses no território ocupado, onde quase 3 milhões de palestinos vivem sob controle militar de Israel. Desde os ataques de 7 de outubro, quando o grupo terrorista Hamas liderou uma invasão que deixou quase 1,2 mil mortos no sul israelense e fez 250 pessoas como reféns, as forças de segurança israelenses prenderam milhares de palestinos suspeitos de envolvimento com grupos armados.
Apesar do número de baixas na Cisjordânia — mais de 580 palestinos morreram desde 7 de outubro, de acordo com a ONU, em uma violência que envolve colonos judeus e o Exército israelense —, as incursões fracassaram em coibir os grupos armados. Por outro lado, pelo menos 20 israelenses morreram, incluindo soldados.
A operação desta quarta incluiu dois batalhões que operaram simultaneamente em Jenin e no campo de refugiados de Nur Shams, onde um ataque aéreo israelense na segunda-feira deixou cinco mortos, incluindo dois menores. Segundo o Exército, essa ação teve como alvo uma estrutura “usada pelos terroristas para prejudicar os soldados que operam na área”, identificando um dos mortos como Jibril Jasan Ismail Jibril, que foi libertado em novembro como parte da única trégua na guerra em Gaza até o momento.
O número de mortos divulgado pelo Ministério de Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP) coincide com o do Exército israelense, assim como o do Crescente Vermelho Palestino. Segundo o porta-voz da organização, Ahmed Jibril, os corpos das vítimas foram levados para hospitais, exceto os de “dois irmãos de 13 e 17 anos”, mortos em uma casa do campo de refugiados e que os serviços de resgate “não conseguiram recuperar”.
O chanceler israelense, Israel Katz, afirmou que os militares operavam “com força total desde a noite passada (terça-feira)” em uma tentativa de “desmantelar a infraestrutura do terror iraniano-islâmico”, em referência ao apoio dado por Teerã por grupos anti-Israel. Em uma publicação no X, Katz acusou o Irã de tentar “estabelecer uma frente oriental contra Israel” com base no “modelo” de Gaza e do Líbano, onde a nação persa financia e apoia o Hamas e o grupo xiita Hezbollah, respectivamente.
“Devemos enfrentar essa ameaça com a mesma determinação usada contra as infraestruturas terroristas em Gaza, incluindo a retirada temporária dos residentes e todas as medidas necessárias”, disse, acrescentando: “Esta é uma guerra, e devemos vencê-la.”
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, interrompeu uma visita à Arábia Saudita e voltou para o território palestino, controlado pela ANP, para “acompanhar os últimos acontecimentos à luz da agressão israelense no norte da Cisjordânia”, informou a mídia oficial palestina. O presidente condenou a ação, e seu porta voz, Nabil Abu Rudeineh, disse que as ações israelense causavam “consequências desastrosas pelas quais todos pagarão o preço”.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007 e cuja popularidade aumentou na Cisjordânia desde o início do conflito, também criticou a ação, acusando Israel de expandir sua guerra no enclave palestino para a Cisjordânia ocupada e afirmando que a comunidade internacional deixava isso acontecer. A Jihad Islâmica, um movimento islâmico palestino aliado ao Hamas que tem uma forte presença no norte da Cisjordânia, denunciou o que chamou de uma “guerra aberta” por parte de Israel.
“Com essa agressão, que tem como objetivo transferir o peso do conflito para a Cisjordânia ocupada, o ocupante quer impor um novo estado de coisas no terreno para anexar a Cisjordânia”, disse a declaração.
O porta-voz militar israelense disse mais cedo a repórteres que os soldados encontraram explosivos “já nas primeiras horas” da operação. Há muito tempo, autoridades israelenses afirmam que combatentes plantaram dispositivos explosivos improvisados em uma tentativa de explodir soldados enquanto dirigiam por estradas em cidades palestinas. Shoshani informou que as tropas trabalharam durante a noite para desarmá-los, mobilizando engenheiros de combate especializados.
A operação também se estendeu para locais civis. O governador de Jenin disse em entrevista à Ashams Radio, citada pelo Haaretz, que as Forças Armadas israelenses cercavam hospitais da cidade. O Ministério da Saúde palestino pediu intervenção internacional para impedir as ações, com informações de que Exército israelense verifica ambulâncias em busca de pessoas armadas ou procuradas.
O Crescente Vermelho Palestino denunciou que militares israelenses dispararam dentro de um posto médico no campo de refugiados de al-Far’a, nos arredores da cidade de Nablus, e que “se retiraram (…) após agredir Nidal Odeh, o diretor de Serviços Médicos de Emergência” da organização humanitária em Tubas.
Quando questionado, Shoshani argumentou que os militares tentam evitar que o principal hospital de Jenin se torne um refúgio para militantes. Já a atividade militar em al-Far’a foi definida como uma missão separada designada à Brigada do Exército do Vale do Jordão, informou o Haaretz.
Os militares, citados pelo jornal, disseram que “não há danos ao funcionamento do hospital, à eletricidade e à água e nenhum entrave à entrada e à saída do local”. Alegaram também que “o inimigo usa os hospitais para escapar para eles durante um confronto com nossas forças — e temos provas disso”.