O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, emitiu um alerta mundial por causa da rápida elevação dos mares em nível global e regional, com foco nas principais cidades costeiras dos países do G20 e nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento do Pacífico. De acordo com o relatório apresentado pela organização nesta terça-feira, duas cidades no Brasil serão diretamente afetadas pelo fenômeno: Rio de Janeiro e Atafona, distrito do município de São João da Barra, no Norte Fluminense.
Quantos centímetros o nível do mar pode subir?
As descobertas demonstram que o aumento está afetando as vidas e os meios de subsistência de comunidades costeiras e países insulares ao redor do mundo. Nas duas cidades brasileiras citadas, o aumento foi de 13 centímetros entre 1990 e 2020, mas a má notícia fica para o futuro: em ambas o aumento esperado de 2020 até 2050 é de até 21 centímetros, sendo 16 centímetros em média, numa projeção calculada sob um cenário de aquecimento global de 3°C até o fim do século.
“A elevação dos mares é uma crise inteiramente criada pela Humanidade. O mundo deve agir e responder ao pedido de ajuda antes que seja tarde demais”, afirma Guterres no documento.
Qual é a relação entre o aumento das temperaturas e o derretimento das calotas polares?
De acordo com pesquisas, o aumento do nível do mar é consequência do aumento das temperaturas, que causa o derretimento das calotas polares. À medida que o aquecimento aumenta e o gelo derrete, o mar sobe de nível.
“Em todo o mundo, o aumento do nível do mar tem um poder incomparável de causar estragos nas cidades costeiras e devastar economias litorâneas. Os líderes globais precisam agir: reduzir drasticamente as emissões globais; liderar uma transição rápida e justa para o fim dos combustíveis fósseis; e aumentar massivamente os investimentos em adaptação climática para proteger as pessoas dos riscos presentes e futuros”, disse o secretário-geral das Nações Unidas.
Por que as ilhas do Pacífico são tão vulneráveis ao aumento do nível do mar?
Segundo a ONU, as ilhas do Pacífico são excepcionalmente expostas, pois as temperaturas nos mares da região estão subindo muito mais rapidamente do que as médias globais. No local, a elevação média é de apenas um a dois metros acima do nível do mar. Cerca de 90% da população vivem a apenas 5 quilômetros da costa e metade da infraestrutura está a 500 metros do mar.
Quais são os riscos adicionais além da elevação do nível do mar que as cidades costeiras enfrentam?
O relatório aponta que os riscos e perigos costeiros impulsionados pelo clima não vêm apenas da elevação do nível do mar (SLR), mas também de sua amplificação de marés de tempestade, marés normais e ondas. A expectativa é que os perigos de inundação na costa das cidades aumentem devido ao afundamento local do solo, resultado de atividades humanas como construção de barragens ou extração de água subterrânea e combustíveis fósseis.
Os efeitos combinados podem levar a danos na infraestrutura devido a inundações costeiras, intrusão de água salgada em aquíferos e rios, recuo da linha costeira e mudança ou perda de ecossistemas costeiros e setores econômicos, afirma a ONU.
Além das comunidades costeiras
Os cientistas que assinam o relatório também apontam que as consequências não deverão se restringir às cidades costeiras. Por exemplo, o deslocamento e migração involuntários induzidos pelo clima em áreas costeiras podem levar a movimentos populacionais para áreas interiores, enquanto a perda de atividades econômicas, como pesca ou agricultura, e danos a portos podem comprometer gravemente os sistemas alimentares globais, diz o órgão.
Pequenos aumentos no nível relativo do mar podem aumentar desproporcionalmente a frequência de inundações costeiras. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Climate Impact Lab (CIL), a extensão das inundações costeiras aumentou nos últimos 20 anos como resultado da elevação do nível do mar, o que significa que 14 milhões de pessoas a mais em todo o mundo agora vivem em comunidades costeiras com uma chance de 1 ano a cada 20 de sofrer inundações.
Rio tem ressaca com ondas de 2,5 metros até a manhã de domingo
Banhistas também aproveitaram o dia nas praias de Niterói, que teve campeonato de surfe
Como a frequência de eventos extremos de elevação do nível do mar está prevista para mudar até 2050 e 2100?
A frequência de eventos extremos, embora raros, de elevação do nível do mar atualmente, está projetada para aumentar substancialmente na maioria das regiões. Por exemplo, de acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, em uma média global, o evento extremo de elevação do nível do mar de 1 em 100 anos (em termos de nível total da água) está projetado para ocorrer uma vez a cada 30 anos até 2050 e uma vez a cada 5 anos até 2100.
Esses eventos estão projetados para ocorrer mais de uma vez por ano até 2100, com 4,4°C de aquecimento. Além disso, um estudo recente projeta que eventos menores de inundações, que atualmente ocorrem anualmente, ocorrerão na maioria dos dias do ano em todo o mundo com uma elevação de 0,7m no nível do mar.