A Rússia está instalando abrigos antiaéreos de concreto em cidades da região de Kursk, onde a ofensiva surpresa da Ucrânia segue agora em sua terceira semana, informou o governador regional, Alexei Sminorv, nesta quinta-feira. A medida ocorre no momento em que as regiões russas que fazem fronteira com a Ucrânia declararam situações de emergência devido à incursão e ao forte bombardeio, forçando o deslocamento de milhares de pessoas.
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“Hoje, em Kursk, foi iniciada a instalação de abrigos de concreto”, escreveu o governador no Telegram, postando em seguida a foto de um caminhão transportando um dos módulos de concreto. Smirnov disse que 60 desses abrigos térreos serão colocados em estações de transporte na cidade. O governador informou ainda que dez abrigos seriam instalados na cidade menor de Jeleznogorsk e medidas semelhantes seriam tomadas na cidade de Kurchatov, que está localizada próxima à usina nuclear de Kursk.
“A decisão sobre a instalação de tais construções foi tomada pela sede operacional”, composta por funcionários de várias agências, acrescentou.
A capital regional de Kursk fica a cerca de 80 km da fronteira com a região de Sumy, na Ucrânia, onde a ofensiva teve início. Sua população é de cerca de 440 mil habitantes. Em junho, autoridades da região disseram que instalariam um grande número desses abrigos somente “em caso de escalada”, de acordo com o jornal russo Kommersant. A Ucrânia instalou abrigos semelhantes em vilas e cidades, incluindo Kiev.
Durante uma visita à Sumy nesta quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informou que suas tropas tomaram outro assentamento em Kursk e “reabasteceram o fundo de troca”, o que significa que capturaram mais prisioneiros de guerra para serem usados como alavanca para futuras trocas. O presidente também conversou com o comandante-em-chefe, Oleksandr Syrsky, e o chefe da administração militar regional de Sumy, segundo informou em suas redes sociais.
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Uma fonte dos Serviços de Segurança da Ucrânia disse à AFP que as forças ucranianas atingiram o campo de aviação de Marinovka, na região russa de Volgogrado, afirmando que “cada operação reduz a superioridade da Rússia nos céus e limita significativamente suas capacidades aéreas”, danificando a capacidade de Moscou de lançar ataques aéreos contra cidades e tropas ucranianas. Na semana passada, Kiev anunciou que atingiu separadamente quatro aeródromos russos.
Na quarta-feira a cidade de Moscou também sofreu “uma das mais importantes” ofensivas de drones ucranianos e, nesta quinta, o governador de Volgogrado, Andrei Bocharov, disse que um drone abatido pelas defesas aéreas provocou um incêndio “em uma instalação do Ministério da Defesa”, sem dar detalhes.
Forças russas teriam repelido também uma tentativa de invasão na região de Bryansk, segundo uma mensagem do governador Alexander Bogomaz no Telegram, explicando que a situação na região está estável e sob controle. A Ucrânia, que já havia mirado a região fronteiriça em outras operações lançadas desde o início da sua ofensiva, ainda não se pronunciou sobre a acusação.
Ainda assim, um dos supostos objetivos ucranianos para a incursão em Kursk (aliviar suas tropas em outros flancos ao forçar o redirecionamento de tropas russas) parece seguir sem surtir o efeito esperado. Nesta quinta-feira, a Rússia reivindicou a captura de outra vila na região oriental de Donetsk, o mais recente de uma série de avanços territoriais das tropas de Moscou em território russo.
O Ministério da Defesa disse que suas forças capturaram a vila de Mejove, localizada entre Avdiivka, captura que significou uma vitória simbólicas do presidente Vladmir Putin, e o centro logístico de Pokrovsk, em direção ao qual as tropas russas estão avançando. Moradores de comunidades dentro e fora de Pokrovsk estão sendo instados a deixar suas casas ao longo das próximas duas semanas.
Donetsk é uma das quatro regiões ucranianas que os russos alega ter anexado em 2022, apesar de não ter controle total sobre nenhuma delas. Kiev tem tido dificuldade em manter a linha da frente ali, enfrentando escassez de tropas e munições. No domingo, a Rússia reivindicou o controle da cidade de Sviridonivka, a cerca de 15 km de Pokrovsk, e na última segunda, o controle de Artemovo, que na Ucrânia se chama Zalizne.
“Não espere. Não vai melhorar, só vai piorar. Vá embora”, disse uma mensagem severa e franca emitida pelo chefe da administração militar de Myrnohrad, Yurii Tretiak, que agora está a menos de 4,8 km da linha de frente. São quase 59 mil morados, se somadas as regiões de Pokrovsk, Myrnohrad, e 39 vilas vizinhas, com cerca de 600 a 700 pessoas sendo deslocadas diariamente, segundo a administração.
— O inimigo está avançando mais rápido do que o esperado — disse Tretiak em uma entrevista de rádio na terça-feira, citada pela rede CNN. — Então, estamos tentando fazer o máximo possível para deslocar as pessoas até o fim da semana.
O Ministério ucraniano responsável pela reintegração de regiões que antes estavam sob controle russo informou que as crianças e seus pais, ou outros responsáveis legais, estão sendo deslocadas à forças de certos distritos da região de Donetsk. Alguns moradores, porém, se recusam a deixar suas casas, chegando a esconder seus filhos das autoridades locais. Segundo Tretiak, o argumento mais comum é “‘não tenho para onde ir’ ou ‘ninguém precisa de mim'”.
As Forças Armadas ucranianas informaram na quarta-feira que Pokrovsk é agora a frente “mais quente” da guerra. “As tropas ucranianas repeliram 11 ataques, a luta continua em quatro locais”, anunciaram. Em sua visita a Sumy, Zelensky disse que discutiu “medidas tomadas para fortalecer a defesa em direção a Toretsk e Pokrovsk” no Donbass (composta pelas regiões de Donetsk e Luhansk), áreas da linha de frente com combates ferozes.
Pokrovsk é crucial porque fica no cruzamento de uma rodovia utilizada para abastecer as tropas ucranianas e as cidades do front leste, além de estar localizada em uma estrada importante que liga várias outras cidades que formam um arco defensivo, protegendo a parte de Donetsk. A cidade foi alvo do Exército russo por muito tempo, e sua captura deixaria a Rússia um passo mais perto de seu objetivo de longa data de tomar toda a região.