Segundo analistas, o Ibovespa voltou a surfar nos balanços positivos do segundo trimestre das empresas e também pela expectativa de diminuição dos juros nos Estados Unidos em setembro, que atrai investidores internacionais.
Para Fábio Farina, analista do Itaú BBA, a atual trajetória de alta do Ibovespa retoma o movimento que já aconteceu no fim do ano passado, quando o índice atingiu o então recorde.
— Houve uma pausa nos mercados emergentes por conta da manutenção do patamar dos juros americanos. E esse movimento atual, de alta, trouxe de volta a expectativa de buscar os 150 mil pontos ao longo do segundo semestre — diz ele, que elenca a importância do investidor internacional para a B3.
Segundo ele, mais da metade do volume da Bolsa é movimentado pelo estrangeiro e, portanto, se há um movimento positivo no exterior, a tendência é que o Brasil acompanhe.
Para Max Bohm, estrategista da Nomos, o atual preço “barato” da bolsa atrai o investidor internacional:
— O investidor internacional já colocou no “preço” que os juros vão cair e está começando a relocar seu capital. Quando ele vê o Brasil com empresas registrando lucro de dois dígitos, preço/lucro de oito vezes e a Bolsa em dólares longe da máxima histórica, ele aporta.
Em dólares, a Bolsa está longe do seu patamar máximo em dólares, que foi de US$ 44 mil. Segundo o analista, hoje, o Ibovespa dolarizado vale US$ 25 mil, ou seja, há espaço para crescer.
Para Bohm, a medida preço/lucro (que divide o valor de mercado das empresas sobre o lucro esperado) está num nível menor do que a média histórica dos últimos anos, que é de 10,5 vezes. Quanto menor este indicador, mais “baratas” são as ações.
A divulgação de dados americanos da economia, como de consumo e emprego na semana passada, demonstram que os Estados Unidos passam por um “esfriamento” sem provocar recessão, o chamado de “pouso suave”. expressão é usada para descrever uma desaceleração para controlar a inflação sem afetar os indicadores a ponto de causar uma retração de toda a maior economia do mundo.
Nesta terça-feira, pesquisa FedWatch, do CME, que concatena a temperatura do mercado financeiro sobre a expectativa da taxa americana, dá como certo o corte por lá na próxima reunião, em 18 de setembro. A maioria dos agentes — 71,5% — crê numa redução de 25 pontos-base, para a faixa entre 5% e 5,25%.
Depois de altas de mais de 10% no pregão de segunda-feira, as altas desta terça foram mais “tímidas”: a Braskem liderou a ponta do índice, subindo 3,15% a R$ 17,71; a Klabin veio em seguida, ampliando 3,1% a R$ 21,95. Já a Petz valorizou 3%, cotada a R$ 4,81.
Com peso de pouco mais de 12% do índice, os papéis da Petrobras recuaram: os preferenciais, sem direito a voto, caíram 0,39%, a R$ 38,29, enquanto os ordinários, com voto, recuaram 0,36%, a R$ 41,09. A desvalorização dos papéis acompanharam a queda do barril do Brent no mercado internacional. Em Londres, o contrato futuro para outubro da commodity registrou recuo pela quinta sessão seguida, para perto dos US$ 73.
A trajetória de valorização teve início há duas semanas, na terça-feira seguinte à “segunda sangrenta”, dia em que bolsas de todo o mundo registraram grande desvalorização devido à expectativa de que os Estados Unidos estivesse enfrentando uma recessão.
O principal índice da Bolsa saiu da casa dos 125 mil pontos naquela segunda-feira para os atuais 136 mil em apenas duas semanas. Esse “rali” — como é chamado um período grande de valorização — só foi interrompido por um dia de baixa, na sexta-feira passada, 16. Da “segunda sangrenta” pra cá, o índice valorizou mais de 8%.
A possibilidade do Banco Central do Japão (BoJ) aumentar a taxa de juros básicas do país também foi ventilada naquela segunda-feira. Diversos investidores iniciaram uma corrida para desfazer suas aplicações e pagar os empréstimos tomados numa operação conhecida como carry trade: toma-se dinheiro em países com juros baixos (a taxa japonesa era de apenas 0,1% até 31 de julho) e aplica em investimentos onde a taxa básica é maior, como no Brasil, que opera a 10,5% ao ano.
Como a taxa japonesa aumentou, no último dia de julho, de 0,1% para 0,25% ao ano, os investidores correram para desfazer as suas operações e pagar os empréstimos tomados em iene.