Eu sabia exatamente como eu queria morrer e acredito que esses episódios de planejamento vinham da minha mãe, que era uma pessoa bastante depressiva e falava como iria se suicidar.
Aos 12, o processo de depressão estava tão intenso que comecei a ter alucinações. Via pessoas tocando em mim, vultos, como se fossem demônios. Nesta época, ela resolveu me levar para igreja. Quando esses episódios aconteciam, eu deitava em posição fetal e chorava muito, a nível de chegar a gritar. Os vizinhos vinham saber o que estava acontecendo e minha mãe falava que eu estava com enxaqueca ou alguma dor no corpo.
Fui à psicóloga pela primeira vez aos 16 anos, logo após assumir minha bissexualidade. Foi um período de muitos conflitos internos que estavam relacionados principalmente à crença religiosa do meu meio familiar. Pensava que Deus estava me condenando ao inferno pela minha sexualidade. Além disso, eu não era aceita dentro de casa e isso fez com que os episódios de depressão aumentassem e, como solução para toda dor que sentia, eu me punia, me mutilava.
Acredito que a mutilação era uma forma que meu cérebro encontrou para pedir socorro em relação a tudo que eu estava sentindo. Nesse período, fui fazer um exame de rotina em um posto de saúde e a médica viu os cortes. Ela me encaminhou para um clínico geral que me receitou antidepressivo e remédio para insônia. Foi a primeira vez que tive contato com medicação controlada.
O remédio acabou piorando o meu quadro depressivo. Eu não conseguia parar de chorar e já estava sem dormir há três, quatro dias. Estava começando a ficar completamente enlouquecida, então, decidi parar a medicação por conta própria.
Euforia e hipomania
Mas foi aos 18 anos que as mutilações ficaram ainda mais graves. Não queria mais viver. Minha mãe me levou ano Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde tive uma consulta de cinco minutos em que o psiquiatra me diagnosticou com bipolaridade e me passou fluoxetina, um antidepressivo.