O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, informou nesta quarta-feira que as tropas ucranianas capturaram “mais de 100 militares russos” durante a ofensiva na região fronteiriça de Kursk, que segue pelo oitavo dia. A captura, segundo o presidente, “aceleraria o retorno de nossos meninos e meninas para casa”, indicando uma possível troca entre prisioneiros de guerra. Zelensky também informou que as tropas seguiam “avançando”, enquanto o Ministério da Defesa russo disse que suas tropas estavam repelindo “uma tentativa de invadir o território da Federação russa” para impedir novos avanços.
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— Na região de Kursk, estamos nos movendo mais. De um a dois quilômetros em diferentes áreas desde o início do dia — disse Zelensky durante uma videochamada com o chefe militar ucraniano, Oleksandr Syrskyi, acrescentando: — E mais de 100 soldados russos capturados durante o mesmo período. Sou grato a todos os envolvidos. Isso vai acelerar o retorno para casa de nossos meninos e meninas
Mais tarde, Zelensky indicou que a operação teria sido bem-sucedida, alegando que as tropas ucranianas conseguiram avançar “bem” — apesar dos esforços anunciados anteriormente pelo Exército russo, que ainda não se pronunciaram.
— Estamos alcançando nosso objetivo estratégico — disse o presidente da Ucrânia.
A ministra da Reintegração dos Territórios Temporariamente Ocupados, Iryna Vereshchuk, anunciou nesta quarta-feira que as tropas do seu país planejam “abrir corredores humanitários para a retirada de civis: tanto na direção da Rússia como da Ucrânia”. Segundo ela, também será autorizado o acesso de organizações humanitárias internacionais às localidades, que já somam 28, de acordo com o Kremlin. Até o momento, mais de 120 mil russos deixaram suas casas.
Segundo cálculos realizados pela AFP a partir dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com base em fontes russas, as tropas ucranianas avançaram 800 km² na região de Kursk. A título de comparação, a Rússia ocupou 1.360 km² de território ucraniano desde 1º de janeiro de 2024.
Na terça-feira, o presidente ucraniano mencionou a captura das forças russas em um vídeo publicado em seu canal oficial no Telegram, no qual agradeceu o chefe militar do país por “encher nosso fundo de troca” com soldados russos. Na troca mais recente, em meados do mês passado, as partes do conflito que já dura mais de dois anos trocaram 190 prisioneiros de guerra, no sexto acordo mediado pelos Emirados Árabes Unidos.
Repórteres da AFP viram na terça-feira cerca de 10 homens com os olhos vendados e amarrados na estrada. Eles vestiam uniformes militares russos e estavam sendo levados em um veículo militar para longe da passagem de fronteira, em direção à cidade de Sumy, uma cidade ucraniana na fronteira com Kursk. Vídeos que circularam ainda no início da invasão mostram o momento em que soldados russos são capturados.
De acordo com o chefe militar ucraniano durante a videochamada com Zelensky, os principais esforços das suas tropas estão concentrados nas regiões de Toretsk e Pokrovsk a fim de “impedir que o inimigo avance e inflija o máximo de perdas”.
Para a Ucrânia, a incursão levanta a moral de suas tropas, após meses na defensiva e cedendo terreno ao inimigo com mais armas e soldados. No entanto, em Moscou o sentimento é de angústia.
— Estamos muito preocupados — disse Olga Raznoglazova, que vive a 30 km da usina nuclear de Kurs à AFP. — Pelo que sabemos, a ofensiva foi controlada e nossos soldados estão tomando as medidas necessárias e nos defendendo.
Roman, de 41 anos, que trabalha na Marinha, minimizou o ataque. Segundo ele, trata-se de um “pequeno grupo de sabotadores” armados pelas potências ocidentais e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
— [O Exército russo] os matarão e ponto — declarou à agência de notícias francesa.
O Exército ucraniano entrou na região russa de Kursk em 6 de agosto, capturando dezenas de assentamentos na maior ofensiva de um exército estrangeiro em solo russo desde a Segunda Guerra Mundial. Zelensky só abordou a ofensiva no último sábado, informando que o objetivo era “deslocar a guerra para o território do agressor”. Na terça-feira, a Ucrânia deu indícios da natureza tática da operação ao afirmar que não manteria as terras russas que capturou e se oferecer para interromper os ataques se Moscou concordasse com uma “paz justa”.
— Quanto mais cedo a Rússia concordar em restaurar uma paz justa… mais cedo os ataques das forças de defesa ucranianas à Rússia cessarão — disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Georgiy Tykhy, na terça-feira.
Nesta quarta, Vereshchuk e o ministro do Interior, Igor Klymenko, em declarações separadas, anunciaram que a operação foi projetada para proteger as regiões fronteiriças ucranianas, como uma espécie de “zona de segurança” ou “zona tampão” no território russo. A ministra explicou que há civis nessa área e que eles estão “protegidos pelo direito humanitário”.
— [Os militares ucranianos] conduziriam operações humanitárias para dar suporte aos civis dentro da zona mencionada — explicou a ministra.
A Rússia, porém, parece seguir o caminho contrário, prometendo retaliação e “resposta severa” à ofensiva. Nesta quarta-feira, o chanceler russo Rodion Miroshnik disse que a invasão ucraniana a Kursk colocou, “o caminho das negociações de paz em pausa por um longo tempo”. Ele também disse acreditar que a incursão foi feita “deliberadamente” para atrasar as negociações.
Os esforços de paz na região fracassaram há tempos. Em junho, o presidente russo, Vladimir Putin, mencionou que estaria pronto para negociar o fim da guerra, que já dura mais de dois anos, se Kiev retirasse suas tropas das quatro regiões do país que foram parcialmente anexadas por Moscou, entre outras condições. A Ucrânia rejeitou as condições.
Nesta quarta-feira, Kiev atacou separadamente quatro aeródromos russos durante a noite com drones no “maior ataque” desse tipo desde a invasão de Moscou em 2022, disse uma fonte dos serviços de segurança de Kiev à AFP. A operação teve como objetivo “impedir que o inimigo usasse esses aeródromos para lançar ataques”, disse a fonte. Segundo uma fonte do Serviço de Segurança da Ucrânia (SUB) à CNN, a ofensiva foi um ataque conjunto, incluindo o SUB, a Força Aérea e as Forças Especiais. Mais cedo, a Força Aérea ucraniana informou ter destruído um caça russo Su-34 em Kursk.
Já o Ministério de Defesa russo informou nesta quarta que abateu 117 “UAV (Veículo Aéreo Não-Tripulado ou drones)” e quatro mísseis táticos durante a noite. Os quatro mísseis e 37 dos mais de cem drones foram abatidos sobre a região de Kursk. Segundo o governador de Voronej, Aleksandr Gusev, em uma publicação no Telegram, o risco de novos ataques de drones no local “ainda está presente”. A região russa vizinha de Belgorod declarou estado de emergência, pois o governador alertou que a situação lá era “extremamente difícil” devido aos bombardeios ucranianos e aos ataques de drones. (Com AFP)