Num aceno ao senador aliado Renan Calheiros (MDB-AL), a Executiva Nacional do PT interveio na disputa eleitoral de Maceió e determinou a retirada da candidatura a prefeito do petista Ricardo Barbosa. O partido decidiu pelo apoio ao emedebista Rafael Brito na capital alagoana e deve indicar o vice na chapa.
Brito, que foi escolhido pelo senador Renan Calheiros para duelar contra o atual prefeito da cidade, João Henrique Caldas (PL), o JHC, tentará se colocar como um nome alinhado ao governo federal. A ideia da campanha do emedebista é nacionalizar o debate, polarizando a disputa contra o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A aliança com os petistas era considerada fundamental para Calheiros para levar seu candidato ao segundo turno. Com o PT na chapa, Brito deve adotar o discurso de “união de forças contra JHC, que é o candidato de Bolsonaro”. O papel de principal cabo eleitoral da campanha caberá ao primogênito do senador, o ministro dos Transportes, Renan Filho, ex-governador do estado.
Uma ala do PT era contrária à coligação, já que Ricardo Barbosa e Rafael Brito estavam próximos em intenção de votos segundo pesquisas locais. Esse grupo acreditava que o petista poderia ter mais popularidade com o apoio declarado de Lula. A decisão, entretanto, não passou pelo diretório local do PT, confirma o presidente do partido em Maceió, Marcelo Nascimento.
— A decisão veio de cima, da direção nacional do PT. Não participamos deste debate e vamos apoiar o Rafael Brito, sim, conforme já decidido pelo partido — afirma Nascimento, que diz ainda não ter sido informado em relação ao posto de vice que caberá ao petista na chapa.
Tanto Lira quanto Calheiros têm o objetivo comum de ampliar o número de municípios nas mãos de aliados, expandindo as bases eleitorais e já antecipando a campanha de 2026, quando devem se enfrentar na corrida ao Senado. Atualmente, o MDB controla 63 dos 102 municípios do estado, enquanto o PP tem 27 prefeitos. Renan tem em cinco cidades da Região Metropolitana o seu principal foco: Arapiraca, Palmeira dos Índios, Porto Calvo, Coruripe e Delmiro Gouveia.
Esses locais, por concentrarem os maiores orçamentos e alguns dos principais colégios eleitorais do estado, contarão com estrutura de campanha similar à empregada em Maceió.
Rafael Brito comemorou a aliança com os petistas e aproveita para alfinetar JHC.
— O PT e o MDB têm uma aliança histórica em Alagoas. Fazemos parte de um mesmo grupo político, o PT de Alagoas faz parte do governo do Paulo Dantas. Era natural, estamos no mesmo campo e o nosso adversário é o PL de Bolsonaro, não faria sentido duelarmos. Esta aliança será o melhor para todos os lados. Espero que um dos partidos da federação da qual o PT faz parte indique o vice, será uma honra. A nacionalização do debate é algo natural, no Brasil atual. O enfrentamento vai além de Lula e Bolsonaro. Em Alagoas, temos um grupo que fez mudanças estaduais, contra uma prefeitura atabalhoada espero que estejamos no segundo turno — disse o candidato do MDB.
Lira vai com JHC, mesmo sem indicar o vice
Já Arthur Lira apoiará a candidatura de JHC, mesmo sem indicar o vice para a chapa. Em entrevista ao GLOBO, Lira disse que a aliança já está formada e o atual prefeito, por ser bem avaliado, tem a liberdade de escolher quem quiser para ocupar o posto. De acordo com o deputado, a articulação mira nas eleições de 2026, ano em que pode ser candidato ao Senado com o apoio do grupo político do atual chefe do executivo municipal.
JHC escolheu um nome diferente dos apresentados pelo presidente da Câmara para vice em sua chapa, e já disse a aliados que o posto caberá ao senador Rodrigo Cunha (Podemos). Caso seja reeleito neste ano, o prefeito é cotado para tentar o governo de Alagoas em 2026, deixando a prefeitura nas mãos do seu vice. A movimentação ainda garantiria à família Caldas uma cadeira no Senado, já que a mãe de JHC, Eudócia Caldas, é a suplente de Cunha.
— A discussão do vice de Maceió ganhou uma proporção inacreditável, parece que estamos falando do vice do Joe Biden ou do Donald Trump (candidatos à presidência dos Estados Unidos). JHC é meu aliado, sim. Temos trabalhado juntos por Maceió nos últimos anos e costuramos os apoios de partidos em torno do JHC. Especula-se muito o vice do JHC, mas o prefeito é bem avaliado e quer se resguardar politicamente. Nosso debate não é sobre o vice deste ano, é sobre 2026. Queremos uma construção. Hoje, penso em ajudar os amigos, eleger prefeitos.
Sobre a possibilidade de ser candidato ao Senado nas próximas eleições, Lira não refutou a hipótese.
— Há uma especulação forte em Alagoas (sobre ser candidato ao Senado). Por quê? Porque, para deputado federal, tenho 52 prefeitos. Fui o federal mais votado da história de Alagoas, presidente da Câmara, ajudo muito meu estado, meus municípios. Então, é lógico que o nome é lembrado.
Ele afirmou que uma eventual composição com Renan Calheiros, seu adversário local, e que também deve se lançar ao Senado, é “improvável”.
— É muito difícil. Na política, é possível, mas penso que é muito difícil. Partiu sempre dele (a briga). De um dia para a noite, o senador Renan, num comício no sertão, agrediu o meu pai. Aí, ao invés de o meu pai reagir, quem reagiu fui eu, e tudo começou.