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Desde o momento em que uma bala de fuzil passou a centímetros de sua cabeça na Pensilvânia, uma semana se passou até que informações mais detalhadas sobre o estado do ex-presidente fossem apresentadas: no sábado, o deputado Ronny Jackson, ex-médico da Casa Branca, afirmou em comunicado que o disparo causou um ferimento de 2cm na orelha, que não precisou ser suturado, mas cujas bandagens são trocadas com frequência — os curativos se tornaram um símbolo na Convençao Nacional Republicana, na semana passada.
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Ao chegar ao hospital, escreveu Jackson, ele foi submetido “a uma extensa avaliação para determinar outros ferimentos, incluindo uma tomografia de sua cabeça”. O deputado disse ainda que Trump “passará por novas avaliações, incluindo um exame de audição, se necessário”, e que será examinado de forma regular, inclusive pelos médicos que o avaliaram logo após o ataque. Não foram fornecidas informações detalhadas sobre os exames ou avaliações posteriores.
“É necessária uma avaliação pública completa dos ferimentos de Trump, tanto para a saúde do antigo presidente como para a clareza que pode proporcionar aos eleitores sobre a recuperação do homem que poderá voltar a ser presidente dos Estados Unidos“, escreveu, em artigo, Sanjay Gupta, colunista da rede CNN. “A preocupação é que tiros perto da cabeça possam causar lesões que não são imediatamente perceptíveis, como sangramento no cérebro, danos ao ouvido interno ou até trauma psicológico.”
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Mesmo antes de chegar à Casa Branca, Donald Trump não raro se gabava se sua saúde “perfeita”. Em 2015, pouco depois do anúncio da pré-candidatura, um médico chamado Harold Bornstein, que cuidou do republicano por 35 anos, escreveu uma carta recheada de elogios e declarou de “maneira inequívoca”, que Trump seria o “mais saudável indivíduo já eleito à Presidência dos EUA”.
Já em 2018, Ronny Jackson disse que o então presidente insistiu em realizar um teste cognitivo, e concluiu que Trump “mentalmente estava muito aguçado, e muito preservado”. O republicano passou a usar o teste como mais uma prova de que estava mais do que apto para o cargo, e vinha desafiando o agora ex-rival na disputa presidencial para realizar o mesmo exame.
— Ele [Joe Biden] não sabe nem o que a palavra “inflação” significa. Acho que deveria realizar um exame cognitivo, como eu fiz — disse durante discurso em Detroit.
Em novembro do ano passado, Trump publicou em sua rede social, o Truth Social, uma carta do médico Bruce Aronwald, declarando que seus exames cognitivos “foram excepcionais, que os exames de sangue estavam dentro do normal e que avaliações para doenças cardiovasculares e para o desenvolvimento de tumores não apresentaram riscos.
As cartas e declarações podem servir como excelentes ferramentas de propaganda, mas há uma grande distância entre o que elas dizem e o que elas não dizem.
Nenhuma das declarações médicas — mesmo as feitas na Casa Branca — apresentaram informações complementares sobre os exames, tampouco esclareceram quais testes foram feitos: sobre o teste cognitivo de 2018, Trump disse posteriormente que “acertou todas as questões”. Os médicos não divulgaram quais medicamentos ele usou na Casa Branca, muito menos depois de deixar o poder. E ainda há dúvidas sobre o que já foi dito a seu favor. Em entrevista à NBC, em 2016, Bornstein reiterou acreditar que a saúde de Trump “é excelente”, mas revelou que a carta usada pelo então candidato na campanha foi escrita em cinco minutos, a pedido do bilionário, e que sequer teve tempo de revisá-la.
— Existe um desejo do público de saber sobre a capacidade física e mental de qualquer pessoa que vá ocupar o mais alto cargo do país — disse Joe Verghese, professor de neurologia na Faculdade Albert Einstein de Medicina, em entrevista ao New York Times. — Você quer ter a certeza de que passos foram tomados para garantir que a pessoa que você está elegendo para o cargo terá capacidade física e mental para isso.
Logo que lançou a candidatura em 2016, seus curiosos hábitos alimentares acenderam alertas entre nutricionistas, cardiologistas e médicos de praticamente todas as especialidades: Trump bebia, de acordo com a imprensa americana, entre 12 e 14 latas de Coca-Cola Diet por dia, e teria um botão especial na mesa do Salão Oval para pedir a bebida. Fã de fast food, ele inundou o Instagram com fotos de hambúrgueres, pratos de comida mexicana e filés bem-passados, servidos com muito catchup.
Aliado à falta de exercícios, um comportamento que poderia aumentar suas possibilidades de sofrer um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral, como escreveu seu médico particular em 2018 — o então presidente teria mudado de hábitos, mas a recente perda de peso levantou questões sobre o uso de Ozempic, um medicamento conhecido pelos seus efeitos no emagrecimento.
Com Biden fora do páreo, e com uma chapa democrata provavelmente composta por pessoas com algumas décadas a menos de idade, a saúde de Trump deve ser cada vez mais questionada em público, e episódios outrora pouco notados podem ganhar evidência.
Assim como o atual presidente, o bilionário também comete gafes recorrentes: em janeiro, confundiu Nikki Haley, ex-governadora e ex-pré-candidata republicana à Presidência, com a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Também disse ter derrotado o ex-presidente Barack Obama em 2016, quando a vitória foi sobre Hillary Clinton.
Em junho, no discurso em que sugeriu a Biden realizar um teste cognitivo, errou o nome do deputado Ronny Jackson, o chamando de Ronny Johnson. Em entrevista coletiva recente, disse que o governador de Nova York era Andrew Cuomo, que renunciou em 2021, sendo substituído por Kathy Hochul.
— Ele para no meio de frases, está lendo o teleprompter e mesmo assim sua mente parece ficar em branco. Trocando Nikki Haley por Nancy Pelosi, Barack Obama por Joe Biden, e é tão patético e triste — disse o apresentador Joe Scarborough, da MSNBC, após uma sequência de gafes de Trump em um discurso, em março. — Alguns estão dizendo que ele está fazendo de propósito. Não, ele não está fazendo nada disso de propósito. Considere o fato de que sua mente fica em branco e ele parece perdido.