O vinho consumido pelo brasileiro vem ganhando cada vez mais aromas e sabores internacionais. As importações da bebida aumentaram 10% entre janeiro e maio, de acordo com dados do governo, e devem continuar em alta até o fim do ano mesmo com a alta recente do dólar.
A moeda americana já começou a refluir, mas mesmo assim provocou um aumento médio de 6% nos preços neste ano. Nada que tire o entusiasmo das importadoras, que têm trazido para o país cada vez mais rótulos de novas regiões da Europa e da América do Sul e esperam alta de 15% nas vendas até o fim do ano.
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O movimento ganha força com o aumento dos investimentos de produtores estrangeiros na distribuição de suas garrafas no Brasil, de olho no potencial de crescimento do consumo por aqui, na contramão do que está acontecendo em muitos países, onde a venda de vinhos está em queda ou estagnada.
No Brasil, o consumo por habitante é de 2,5 litros por ano, bem abaixo do de vizinhos como Argentina e Chile, onde essa média chega a 30 litros e 20 litros anuais, respectivamente. Este ano, o consumo de vinho nacional e importado por aqui deve crescer 15%, repetindo o desempenho de 2023, de acordo com agentes do setor, que esperam desempenho similar das importações.
Uma das grandes importadoras do país, a Castas acelerou seus planos de investimentos após constatar maior interesse do exterior pelo mercado brasileiro. Danilo Daibert e Rafael Ferrari, sócios da empresa carioca, dizem que o interesse das vinícolas estrangeiras é impulsionado pela queda de 1% das vendas no mundo no ano passado.
Atualmente, as importações respondem por 39% do mercado brasileiro, tendo o Chile como principal vendedor.
— As vinícolas no exterior estão olhando para mercados como o Brasil com potencial de crescimento. Se olharmos o consumo em Portugal, por exemplo, onde já é de 58 litros anuais por habitante, ainda temos muito espaço para crescer no consumo. Hoje, os vinhos de Chile, Portugal e Argentina são a bola da vez, mas já estamos nos preparando para o avanço de marcas de entrada de Espanha, Itália e França. Os da Espanha já são os que mais crescem — afirma Ferrari.
Na Castas, que prevê um crescimento de 35% em seus resultados neste ano, a estratégia é apostar nas uvas mais conhecidas pelos brasileiros, como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Malbec, diz Ferrari. Ele lembra que até produtores italianos estão aumentando a produção desses tipos de uva.
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As vendas devem acelerar ainda mais agora, quando começa a principal temporada do vinho no Brasil: entre maio e setembro geralmente se concentram 60% do consumo. No entanto, mesmo no inverno, o brasileiro ainda prefere outras bebidas, como cerveja, cachaça e destilados em geral.
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Por isso, conta Ferrari, o setor vem investindo em eventos e reforçando as ações em bares e restaurantes, como a venda de taças e a criação de drinques com vinho.
— Hoje, 80% do mercado de vinhos são os chamados de entrada. Estamos alterando nossa estratégia de crescimento. Vamos passar a vender em supermercados e em postos de conveniência para ampliar nossa distribuição. Só no varejo queremos chegar a 100 endereços e ter rótulos específicos — diz Daibert.
Larissa Fin, curadora da Vinícola Fin e idealizadora do evento Vinho na Vila, lembra que o consumo da bebida cresce desde a pandemia. Para ela, além da busca por rótulos mais sofisticados pelos brasileiros, o avanço ocorre pelo maior interesse dos jovens por bebidas de menor teor alcóolico e também pelos brancos e rosés, impulsionados pelo clima quente.
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— O número de eventos especiais de vinho também aumenta, pois é uma oportunidade para o produtor apresentar seu produto.
Adilson Carvalhal, da Associação Brasileira de Bebidas (Abba), também prevê alta de 15% na importação de vinho neste ano, mas admite que isso ainda vai depender da intensidade do inverno e do comportamento do dólar. Oscar Daudt Neto, sócio e diretor técnico da Importadora EnoEventos, diz que, mesmo com a volatilidade cambial, a procura dos produtores estrangeiros por importadores brasileiros cresce significativamente:
— Trabalhamos com cerca de 300 rótulos de países como Chile, Portugal, França, Espanha, além da Itália.
O Grupo Wine, que conta com 1.300 opções, também identifica maior interesse dos estrangeiros pelo mercado brasileiro. Para atrair mais consumidores, a empresa ainda investe em seu clube de assinaturas, conta o vice-presidente, Alexandre Magno:
— O Brasil é um grande atrativo pelo volume de novos consumidores potenciais. Somos constantemente procurados por novos parceiros interessados em distribuir seus produtos em território nacional.
Após as fortes chuvas no Rio Grande do Sul, ainda é cedo para saber o real impacto na produção brasileira de vinhos, muito concentrada no estado. Algum reflexo só será sentido a partir de 2025, dizem integrantes do setor. Mas Larissa lembra que, embora o Rio Grande do Sul seja o principal produtor de vinhos do país, outros avançam:
— Há Goiás, Minas, São Paulo, Rio e o Nordeste. No Sul, alguns parreirais foram devastados, mas outros tiveram menos problemas.