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O nacionalismo cristão que é uma das bases do movimento populista de direita comandado pelo ex-presidente teve sua noite de glória. E os militantes creem que a noite desta segunda-feira foi apenas o começo.
Emocionado, com um curativo na orelha direita, Trump repetiu “obrigado”, sem microfone, à multidão que o esperava desde o meio-dia. Foi o suficiente para choros, demonstrações diversas de devoção, chapéus da delegação texana jogados para o alto e a repetição de que o republicano, quase exatas 48 horas após o atentado na Pensilvânia, “estava predestinado a sobreviver e nos encontrar”. E se eleger em novembro.
Antes da entrada de Trump, ladeado por Vance, o recinto havia vindo abaixo uma única vez. Foi quando o senador Tim Scott, negro e do sul do país, transformara o palco em púlpito. Em tom messiânico, repleto de referências bíblicas, reproduziu o crime de sábado, lamentou a morte de um cidadão e lembrou os dois feridos, para concluir que, no entanto, “o leão americano se levantou, reagiu e urrou”.
Nenhuma dúvida sobre quem seria este leão. Na convenção, figuras de destaque do partido contavam ter encontrado um Trump “diferente”, convicto de que houve intervenção divina para que ele não morresse no comício. O ex-presidente não é exatamente conhecido por ser um homem devoto. Mas o deputado Byron Donalds, da Flórida, estrela ascendente do partido, negro como Scott, e que estava ao lado de Trump na segunda no Fiserv Forum, traduziu “essa versão do presidente como emoção pura”. E disse também que “ele entendeu o quão perto esteve da morte”.
O presidente do Partido Republicano de Illinois, Richard Porter, deu a senha ao comentar a mais recente decisão judicial, anunciada nesta segunda-feira, que beneficiava Trump em uma das dezenas de batalhas que enfrenta nos tribunais: “Nunca vi alguém com tanta sorte e resiliência. E a maré está virando, finalmente, para o seu lado.”
Desde a decisão da Suprema Corte sobre a imunidade presidencial, Trump tem repetido a seu círculo mais próximo crer que “Deus está do meu lado”. Após o atentado, também acrescentou um “e ele me salvou na Pensilvânia”. Tudo, dizem reservadamente delegados, sorrisos abertos, parece estar mesmo dando certo para “São Trump”.
A brincadeira com a canonização fica séria ao se registrar total ausência, nos limites da convenção, de preocupação com os 34 processos contra Trump, seu papel na invasão do Capitólio, o negacionismo eleitoral e da vacina, as acusações de abuso sexual e a condenação por tentar manipular as eleições de 2016 ao subornar a ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem teria tido um caso. São, dão de ombros, apenas chuvas de verão, como a que caiu na segunda-feira, forte, em Milwaukee, imediatamente após a aparição do inegável líder do Partido Republicano.
Sorte e predestinação devem aparecer com destaque, apontam estrategistas presentes à convenção, no aguardado discurso de aceitação da candidatura, nesta quinta-feira. O texto, que está sendo reescrito desde o atentado, destacará a necessidade de união nacional. Em torno de Donald Trump, claro. E terá, apostam, um tom messiânico jamais presente anteriormente nas apresentações públicas do ex-presidente. A ambição é de que o fecho da convenção seja mais do que um óbvio momento-chave da campanha, mas aquele que terá força real, com o que chamam de “explosão de humanidade”, para assegurar a vitória contra Joe Biden daqui a pouco menos de quatro meses.