O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e hoje deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ), afirmou nesta segunda-feira que gravou com autorização do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a reunião convocada para tratar sobre investigação da chamada “rachadinha” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A gravação foi apreendida pela Polícia Federal no notebook de Ramagem e compõe o inquérito que apura a suposta espionagem ilegal praticada durante o governo passado para beneficiar o ex-mandatário, seus filhos e aliados.
— Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente — disse Ramagem em vídeo postado na rede X. Ele explicou que gravou o encontro de 1 hora e 8 minutos com o objetivo de registrar um crime e proteger o então presidente. Segundo Ramagem, “havia a informação” de que viria no encontro uma pessoa próxima do então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, com uma “proposta nada republicana”. Na época, Bolsonaro tratava Witzel como um adversário político que visava tomar o seu lugar no Palácio do Planalto.
— A gravação, portanto, seria para registrar um crime, um crime contra o presidente da República. Só que isso não aconteceu e a gravação foi descartada — afirmou ele.
A reunião ocorreu em agosto de 2020 no Palácio do Planalto e contou com Bolsonaro, Ramagem, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e duas advogadas de Flávio. No áudio, as defensoras falam de supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal que elaboraram um relatório de inteligência fiscal que originou investigação da chamada “rachadinha” contra Flávio Bolsonaro.
Durante o encontro, Bolsonaro e Ramagem falam sobre estratégias para blindar o filho 01. Entre as sugestões dadas à defesa de Flávio, estão falar com o chefe da Receita e fazer uma ação “de dentro” do órgão fiscal.
— Quando o presidente se manifestou, ele sempre informou que não queria favorecimento, sempre se manifestou que não queria jeitinho muito menos tráfico de influência — ressaltou Ramagem.
No áudio, as advogadas propõem que seja aberto um procedimento no GSI para investigar os auditores da Receita. Ramagem, no entanto, discorda da ideia, dizendo que isso poderia expor Augusto Heleno e configurar “pessoalidade em prol do Flávio”.
— Informamos que o que deveria ser feito era cientificar a própria Receita para abertura de procedimento interno e administrativo na forma legal para qualquer desvio de conduta que possa estar acontecendo — explicou Ramagem.
Em nota, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que o áudio “mostra apenas minhas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal e com objetivo de prejudicar a mim e a minha família”. “A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis”, declarou ele.
O áudio do encontro foi anexado em um inquérito que investiga se Bolsonaro mobilizou a Abin para atuar em favor de seu filho e monitorar ilegalmente adversários do seu governo. O ex-presidente tem negado as supostas irregularidades.
O relatório da PF aponta que integrantes da chamada “Abin paralela” tentaram levantar “podres e relações políticas” dos auditores da Receita. O suposto desvio de verba pública – a chamada “rachadinha” – teria ocorrido no gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).