O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse a um grupo de governadores democratas na noite de terça-feira que precisa dormir mais e trabalhar por menos horas, o que incluiu a redução de eventos após as 20h, de acordo com duas pessoas que participaram da reunião e várias outras informadas sobre seus comentários. A capacidade de Biden tem sido posta à prova e levantado questionamentos entre a base democrata, sobretudo após sua performance desastrosa no debate presidencial da CNN na semana passada — classificada por ele mesmo em uma entrevista divulgada nesta quinta-feira como “uma noite ruim”.
A declaração, dizem as fontes do jornal New York Times, foi um claro reconhecimento do cansaço do presidente de 81 anos durante a reunião destinada a tranquilizar mais de duas dúzias de seus apoiadores mais importantes de que ele ainda está apto para um segundo mandato e capaz de mover uma campanha robusta contra seu adversário, o ex-presidente Donald Trump.
Além disso, os comentários sobre a necessidade de mais descanso surgiram logo após o jornal americano relatar que autoridades atuais e antigas do partido notaram que os lapsos do presidente nos últimos meses se tornaram mais frequentes e mais pronunciados, pressionando por uma desistência de Biden. Em público, ele creditou o mau desempenho no debate a fatores como cansaço, viagens e uma gripe, e tem intensificado sua agenda de eventos para demonstrar força.
As declarações também surgem após o próprio presidente dizer, em uma entrevista à rádio de Milwaukee, que ele teve “uma noite ruim” quando perguntado sobre o debate contra Trump em Atlanta. Na entrevista pré-gravada com o apresentador de rádio Earl Ingram e tornada pública nesta quinta-feira, Biden acrescentou: “O fato é que eu estraguei tudo. Eu cometi um erro”.
O encontro com os governadores ocorreu na noite anterior, na Sala Roosevelt — de forma virtual e presencial — da Casa Branca, juntamente com a vice-presidente Kamala Harris. Entre eles, estavam Gavin Newsom da Califórnia, Gretchen Whitmer de Michigan e Andy Beshear de Kentucky, todos, bem como Harris, cogitados como potenciais candidatos substitutos caso Biden deixe a disputa pela nomeação do partido — algo que, até o momento, tem sido sumariamente descartado pela campanha do democrata.
Na reunião, eles se mostraram favoráveis ao presidente permanecer na corrida e expressaram preocupações sobre uma possível segunda Presidência de Trump, lembrando como muitos deles dependiam da disposição do ex-mandatário para atuar com eficácia durante a pandemia de Covid-19.
Biden também disse aos governadores que ele havia sido examinado por seu médico em algum momento nos dias após o debate por causa de um resfriado e que ele estava bem, disseram as fontes. Segundo o portal Politico, o check-up de Biden, informou a Casa Branca, foi breve e não um exame físico completo.
Um porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates, confirmou que Biden tinha visto o médico da Casa Branca para verificar o resfriado. Mas na sexta-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse o oposto, dizendo aos repórteres que ele não tinha feito nenhum tipo de check-up médico desde fevereiro.
Biden, segundo o Times, disse aos principais aliados que entende que sua viabilidade como candidato está em jogo e que ele precisa convencer rapidamente os eleitores — incluindo aqueles dentro de seu próprio partido — de sua aptidão para o cargo.
— Ele sabe que se tiver dois eventos como esse [o debate], nós estaremos em uma posição bem diferente — afirmou um aliado, em condição de anonimato.
Outro conselheiro do presidente, também sob anonimato, disse ao jornal que Biden “está ciente do desafio político que ele enfrenta”. A Casa Branca, entretanto, negou as informações.
— O presidente está seguindo adiante com seu governo, está seguindo adiante com sua campanha, e sua campanha tem sido muito clara sobre isso, e esse é o foco do presidente — disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. — Qualquer coisa diferente que estivermos ouvindo ou que tenha sido dito na imprensa é absolutamente falso. Absolutamente falso.
Com sua candidatura sob intenso escrutínio, Biden está passando o Dia da Independência nesta quinta-feira tentando reprimir os pedidos para que ele desista de sua tentativa de reeleição. Ele e a primeira-dama, Jill, receberão membros militares na Casa Branca para um churrasco no final da tarde, onde planeja oferecer comentários preparados para uma multidão de veteranos e suas famílias, no que será sua quinta breve aparição pública desde o debate. (Com NYT.)