A investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que baseou a operação de hoje com ex-executivos da Americanas no alvo, aponta que onze pessoas que integraram a cúpula da rede varejista venderam R$ 258 milhões em ações antes de as fraudes serem descobertas e os papéis da companhia sofrerem forte desvalorização na Bolsa.
Para os investigadores, essa venda os enquadraria no crime de insider trading (uso de informação privilegiada para operação no mercado financeiro). A Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro do ano passado após a revelação de inconsistências contábeis na ordem de R$ 20 bilhões nos balanços da companhia.
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Segundo os investigadores, a movimentação ocorreu assim que eles foram informados que haveria uma troca na diretoria da empresa, o que poderia levar à descoberta das irregularidades contábeis. Desta forma, se anteciparam vendendo as ações do grupo.
Os dois executivos que mais lucraram com a manobra foram o ex-CEO Miguel Gutierrez, que vendeu R$ 158 milhões em uma “movimentação totalmente atípica”, e a ex-diretora Anna Saicali, que “seguiu o mesmo padrão” do ex-CEO e comercializou R$ 57,8 milhões, diz o MPF.
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Gutierrez e Saicali tiveram a prisão preventiva decretadapela Justiça Federal, mas não foram encontrados hoje pela PF porque estão no exterior. Gutierrez vive há um ano na Espanha, e Saicali embarcou para Portugal no último dia 15, informou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Os dois são considerados foragidos e tiveram os nomes inscritos como procurados na Interpol, informou a PF.
As vendas das ações de Saicali e Gutierrez, segundo a investigação, ocorreram entre julho de 2022, quando eles tomaram ciência da troca da diretoria, e janeiro de 2023, quando foi divulgado o rombo bilionário que levou a empresa a entrar em recuperação judicial.
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Concentração das vendas no 2º semestre de 2022
De acordo com o MPF, os ex-executivos, ao perceberam que a fraude seria descoberta, “iniciaram um forte processo de venda de ações, a fim de vendê-las por preço acima do que seria avaliado pelo mercado após a divulgação da fraude”.
Ainda de acordo com a Procuradoria, houve “uma grande concentração de vendas dos principais artífices das fraudes justamente nos meses de agosto a outubro de 2022, demonstrando que, valeram-se de informação relevante, ainda não divulgada ao mercado, capaz de propiciar, para eles, vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio, de valores mobiliários”.
A defesa de Miguel Gutierrez disse em nota que não teve acesso aos autos das medidas cautelares deferidas nesta quinta-feira e por isso não vai comentar. “Miguel reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”, informou em nota.
Procurada, Anna Christina Ramos Saicali, ainda não se pronunciou.