Quem usa redes sociais como Instagram e TikTok certamente já viu influenciadores digitais dando dicas de beleza, com tutoriais de maquiagem, rotinas de skin care, entre outras experiências que muitas vezes são patrocinadas por grandes marcas. Porém, como esses cosméticos podem fugir bastante do orçamento de boa parte dos brasileiros, ganham espaço nas mesmas redes as “patricinhas pobres” — mas pode chamar uma delas de “Paty pobre”. Elas assumem a alcunha e conquistam seguidores mostrando que o autocuidado pode ser acessível. Viraram uma nova trend (tendência) das redes e também entraram no radar das marcas.
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Beatriz França, de 23 anos, sempre teve problemas com acne, mas não encontrava muitas criadoras de conteúdo que falassem sobre o assunto sem indicar itens caros. Foi então que, em 2021, começou a publicar vídeos com cosméticos mais acessíveis.
— Eu via vídeos com a legenda “patys não guardam segredos”, mas que indicavam coisas que meu público não tinha acesso. Foi assim que pensei em “paty pobre”, e acabou sendo um sucesso — conta. — A ideia é construir uma beleza democrática, que todo mundo tenha acesso, da pessoa que tem R$ 1 mil à que tem R$ 10 para isso.
Beatriz, que já tem 1,3 milhão de seguidores no TikTok e 850 mil no Instagram, posta quatro vídeos diferentes por dia, dois em cada rede, produção que faz sozinha. A partir deste ano, sua renda começou a vir inteiramente desse trabalho:
— O último vídeo que postei de “paty pobre” deu 1 milhão de visualizações em três dias. Minhas seguidoras adoram, vejo que compram os itens, postam e me marcam.
Esse reconhecimento também vem das marcas, que já observam em trends do tipo uma oportunidade de parcerias para divulgar produtos.
— As marcas já me mandam os lançamentos para eu testar. Tenho contratos anuais com marcas maiores. Veem que eu já consumo os produtos e me chamam para trabalhar com elas — diz Beatriz.
Aumento do nível de consciência
Uma pesquisa da plataforma Influency.me, feita com a consultoria Opinion Box, mostrou que 75% dos entrevistados já realizaram algum tipo de compra após a recomendação de um influenciador nas redes sociais. Entre as categorias mais consumidas por influência estão roupas (26%) e cosméticos (25%).
Já a sondagem Dados e Insights de Influencer Marketing no Brasil para 2024, da mesma plataforma, aponta que 65% das marcas pretendem aumentar investimentos em marketing de influência neste ano.
Hulisses Dias, mestre em finanças comportamentais, explica que as redes sociais ampliam o acesso à informação sobre produtos por meio dos influenciadores, aumentando o apelo ao consumo:
— As pessoas acabam tendo maior consciência sobre a matéria-prima usada no produto, a maneira que gera mais resultado, como usar de uma forma que gaste menos. Essa elevação do nível de consciência que a rede social traz faz com que o consumidor possa escolher melhor.
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Ele avalia que as marcas brasileiras estão interessadas em lançar produtos mais baratos para atrair consumidores de baixa renda:
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— As empresas vão buscar, por causa de variações do dólar, produtos com matérias-primas nacionais. Nosso país é um grande competidor em termos mundiais nessa indústria (de beleza), porque temos um bioma, que é a Amazônia, muito rico em produtos naturais. Sem a pressão do preço do importado, os produtos acabam vindo mais baratos.
Uma dessas marcas brasileiras conhecidas pelos preços baixos é a Ruby Rose, cujas linhas de maquiagem são recorrentes no conteúdo das “patys pobres”. É o caso de Bianca Fernandes, que tem 671 mil seguidores no TikTok e mais de 100 mil no Instagram, e já indicava produtos da Ruby quando foi chamada por ela para realizar “publis”.
— Eu sou arquiteta e urbanista de formação, mas sempre tive sonho de trabalhar com criação de conteúdo. Fiquei durante três anos fazendo publicações, mas nada dava certo. Foi quando comecei a fazer esses vídeos com essas comprinhas que tudo começou a mudar e as “publis” começaram a chegar.
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Quem acompanha Bianca na internet pode encontrar vídeos com ela montando looks com roupas de até determinado valor ou dando dicas sobre como comprar perfumes de marca em frascos pequenos e, consequentemente, mais acessíveis.
— Esse nome “patricinha pobre” foram os seguidores que trouxeram, porque tenho esse espírito de patricinha, mas gosto de coisas baratinhas e comecei a colocar nos vídeos. Nem todo mundo tem R$ 300, R$ 400 para gastar num produto de cabelo ou numa roupa. E às vezes conseguimos um produto mais baratinho com mais ou menos a mesma função.
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Bianca conta que ganha entre R$ 2.500 e R$ 3.000 por “publi” no Instagram, com reels e stories. Geralmente tem três ou quatro por mês. No TikTok, onde o valor é um pouco maior, faz ao menos dois mensais, diz. Em 2022, ela se sentiu segura financeiramente para deixar um emprego formal, abrir sua empresa e morar sozinha.
O principal risco do ofício é levar seguidores a erros, já que nem todos os influenciadores buscam conferir com dermatologistas e outros profissionais a eficácia e os riscos de determinadas fórmulas, receitas e produtos alternativos para a pele, por exemplo.
— Alguns itens podem ser substituídos, mas nem todos. Os produtos de beleza envolvem muito estudo, por isso o preço deles é alto — pontua a dermatologista Iwyna França. — Vitamina C, por exemplo: não é qualquer uma que a gente consegue usar e ter o melhor aproveitamento. Mas, dependendo da marca desses mais baratos, é possível trocar. O que a gente precisa saber é que muitas vezes a concentração do ingrediente vai ser menor, então pode demorar mais para ter o mesmo efeito.
Jen Ferrarezy, de 23 anos, que tem 400 mil seguidores no TikTok e 36 mil no Instagram, diz fazer vídeos para “patys que ganham um salário mínimo”. A escolha do nicho foi tão bem-sucedida que ela passou a ter nas redes sua principal fonte de renda.
— Sempre procurei comprar coisas mais acessíveis, sempre pesquisei e pensei: por que não dar dicas sobre as coisas baratinhas que compro? Tenho muto retorno das seguidoras, pedindo link de onde comprei, mandando fotos de coisas que indiquei e elas compraram. Sem falar que lojas de produtos que indiquei já mandaram e-mail propondo parceria. A dica que acho melhor é sempre olhar avaliações dos produtos que você vai comprar, para ter noção se é bom ou não.