O dólar comercial encerrou as negociações nesta terça a R$ 5,43, uma alta de 0,22% em relação a ontem. Esse é o maior valor de fechamento desde o dia 4 de janeiro de 2023, quando o câmbio terminou o dia em R$ 5,45. Na máxima do dia, a moeda bateu R$ 5,44, após críticas do presidente Lula ao Banco Central.
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Lula afirmou em entrevista a rádio CBN que o comportamento da instituição é a única coisa “desajustada” na economia do país e que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem “lado político” e não demonstra “capacidade de autonomia”.
— O mercado teme que o Banco Central perca sua autonomia e ceda mais a pressões políticas do que a demandas técnicas. Lula demonstrou grande insatisfação em relação à postura do BC e de seu presidente, indicando que o próximo presidente do BC terá um perfil muito diferente. Isso gerou incerteza e receio no mercado — explica Diego Costa, gerente de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio. Para ele, o atual patamar do dólar já reflete um cálculo de risco muito elevado.
Na contramão das outras moedas emergentes, o real permanece fortemente desvalorizado frente ao dólar, com a preocupação do mercado com o cenário fiscal no Brasil. O governo estabeleceu uma meta de déficit zero para este ano, com uma tolerância de 0,25% do PIB para cima ou para baixo, mas investidores temem que isso não será possível. A moeda americana era cotada abaixo de R$ 5,30 no fim de maio. Só este mês, já subiu mais de 10%.
O real tem o segundo pior desempenho entre emergentes frente ao dólar em 2024, atrás apenas do peso argentino.
— Esse prêmio de risco não vai embora tão fácil. Temas como a substituição no comando do Banco Central e a definição do plano orçamentário para 2025 ainda são incertezas para o mercado e fazem com que a moeda se valorize, fora que o mercado de emergentes vem sofrendo desde as eleições no México — avalia Ricardo Maluf, operador da Warren Investimentos.
Por volta das 10h, no entanto, a moeda operava em leve queda de 0,17%, a R$ 5,41. As vendas no varejo nos Estados Unidos em maio vieram abaixo do esperado pelo mercado. O indicador subiu 0,1% no mês, levemente abaixo da estimativa de 0,2% dos analistas, o que foi lido como um sinal de que o consumo pode estar desacelerando, abrindo espaço para cortes de juros nos próximos meses.
Apesar das falas de Lula terem causado um desconforto inicial no mercado, analistas avaliam que esse discurso não foi uma novidade.
— Foi visto mais como uma espuma, mais do mesmo. É uma retórica que vem há algum tempo, mas o mercado se questiona se Galípolo (um dos diretores do Banco Central, cotado para assumir a presidência a partir do ano que vem) vai estar apto para a função — opina Maluf.
O Comitê de Política Monetária (Copom) começa nesta terça-feira sua reunião de dois dias para definir a nova taxa básica de juros do país. Analistas dão como certo que o Copom vai interromper a queda na taxa Selic.
Por volta das 17h, o índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas) operava na estabilidade.
O mercado piorou suas projeções para o comportamento da Selic e o último boletim Focus, que reúne as principais previsões de analistas, traça um cenário no qual os juros básicos vão parar de cair e ficarão estáveis até o fim de 2024.
Para se ter uma ideia, no início deste ano, a previsão dos analistas era de que a Selic chegaria a um dígito em dezembro, ou seja, ficaria em 9%.